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Início Críticas Crítica | Yu Yu Hakusho

    Crítica | Yu Yu Hakusho

    Série se esforça para mostrar que berimbau não é gaita, mas peca pela falta de identidade

    Imagem: Netflix/Reprodução
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    Em Yu Yu Hakusho, acompanhamos o delinquente juvenil Yusuke Urameshi que, depois de perder a vida em um ato de bondade, é chamado para ser detetive espiritual e investigar casos de Yokais perigosos que tentam abrir a barreira entre o mundo dos espíritos e o mundo dos humanos.

    Notável e admirável é a pretensão saudável de raras adaptações de transmitir a maior quantidade possível de essência de uma grande obra já existente e que, até então, era um verdadeiro processo adaptá-la para outra mídia, aderindo formatos narrativos de fato desafiadores. Louvável foi investida da Netflix em One Piece, série baseada nos icônicos mangá e anime de grande fama, e era esperado que o estúdio pudesse repetir a dose de sucesso com o aguardado Yu Yu Hakusho, outro produto que possui uma legião de fãs e participa da memória afetiva de jovens adultos saudosistas. Indo direto ao ponto, os 5 episódios do remake em live-action da saga dos detetives espirituais mais famosos da cultura pop encanta pelo apreço à estética do clássico da década de 1990, mas estranha por, mesmo ostentando tanto, ainda parecer tão pobre narrativamente a ponto de se perder na própria identidade.

    Possuidor de uma atmosfera que, não somente adapta com maestria a obra de Yoshihiro Togashi no sentido visual, como também elenca uma criatividade na construção estética do Mundo Espiritual para os moldes de um live-action, mesmo com pouco tempo de tela, Yu Yu Hakusho também conquista o público mais acostumado com sua irreverente violência gráfica e possíveis novos fãs com o esmero na realização de suas cenas de ação e luta, distribuídas sabiamente ao longo de 5 episódios de mais de 50 minutos. Bem coreografados e acompanhados de efeitos visuais computadorizados que não se entregam para um realismo detalhado e prejudicial por tirar a “magia” da situação, os confrontos são bem caracterizados, mantendo toda a essência do anime, além de ostentarem planos sequência e transições que intensificam a adrenalina e enquadramentos que aderem às cenas um discreto tom de ação épica.

    Quarteto protagonista. Imagem: Netflix/Reprodução

    Quando, por outro lado, analisamos o roteiro de Tatsuro Mishima e nos damos conta de sua pressa em apresentar e desenvolver as principais situações envolvendo a morte e o retorno do protagonista Yusuke Urameshi (Takumi Kitamura) como Detetive Espiritual, a adaptação de Yu Yu Hakusho começa a estranhar por acelerar a história a ponto de esquecer de explorar suas emoções e possibilidades. O primeiro episódio, por exemplo, é um grande resumo dos acontecimentos iniciais do mangá e anime, tal como o restante da série simplesmente adapta toda a história de Yukina (Ai Mikami), “a triste garota”, e os embates entre o grupo de protagonistas e o grupo do famoso antagonista Toguro, que está bem representado na pelo do ator Go Ayano e nos efeitos em CGI que transformam o icônico formato musculoso do Yōkai, porém é subutilizado pelo roteiro, que atribui ao personagem uma apresentação e um desfecho passageiros, pouco dando importância ao seu potencial, o que também acontece com o vilão principal deste arco, Sakyo, interpretado de maneira brilhante por Goro Inagaki.

    Há uma problemática no fato de 5 episódios longos adaptarem tão abruptamente a Saga do Detetive Espiritual. Toda a narrativa parece não importar para a produção, que trata a história inicial da série como uma mera introdução desprovida de identidade e emoção. A escassez de energia espiritual do live-action de Yu Yu Hakusho se dá principalmente quando o próprio intérprete de Yusuke Urameshi, personagem até então extremamente carismático, atribui uma antipatia incomoda ao protagonista. Takumi Kitamura se sai bem nas coreografias, mas não consegue passar a essência do protagonista, tal como Kotone Furukawa e Keita Machida, que também atribuem características e personalidades aquém do esperado para Botan e Koenma, respectivamente.

    Todavia, é possível tirar o chapéu para as incríveis interpretações de Shuhei Uesugi, Kanata Hongō e Jun Shinson, como Kuwabara, Hiei e Kurama, respectivamente, que pegam o espírito dos co-protagonistas de maneira assertiva e desempenham seus personagens de maneira competente. Sei Shiraishi e Meio Kaiji também se destacam positivamente como Keiko e Mestra Genkai, tanto na aparência de suas personagens quanto no ótimo desempenho destas.

    Caracterização de Genkai é uma das melhores da serie. Imagem: Netflix/Reprodução

    Apesar do admirável esforço em trazer a essência e a grandiosidade das lutas do anime para a versão em live-action, há uma infeliz falta de comprometimento de Yu Yu Hakusho com sua história. Que uma segunda temporada, que deverá adaptar a saga do Torneio das Trevas, conserte os erros deste início, consiguindo garantir à produção o potencial prometido e provar que, definitivamente, rapadura é doce, mas não é mole.

    Antes que nos esqueçamos, a versão brasileira está formidável e nostálgica, contando com grande parte do elenco de dublagem original da década de 1990, chegando a dar mais tempero à produção do que a própria.

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