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Domingo de Clássicos | Corpo Fechado

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Uma das coisas mais surpreendentes de Corpo Fechado é imaginar como ele foi um precursor e ainda se mantém entre os pilares de melhores filmes do gênero de heróis no cinema. O diretor M.Night Shyamalan traz uma história incrivelmente pé no chão e reimagina todo o processo de descoberta, relação e embate sobre dois protagonistas, ou melhor, o herói e o vilão.

A trama é basicamente a história de um homem comum, David Dunne, envolvido em um acidente de trem que matou a todos, com exceção dele, que saiu completamente ileso. Após esse acontecimento, ele busca respostas e conhece Elijah Price, um expositor de famosas capas de quadrinhos e viciado em toda essa mitologia de heróis e vilões. Com esse encontro, David é apresentado a possibilidade de possuir poderes, assim, Shyamalan constrói um verdadeiro filme de super-herói, com direito a descoberta de poderes, consequências para sua vida e familiares, pontos fracos do herói, e todo aquele debate surpreendente sobre a fé e a descoberta do impossível.

Toda essa imersão do filme é construída de forma paciente e reflexiva sobre o processo de tornar-se um herói. Os elementos vistos aqui são cuidadosamente mostrados para entendermos as motivações dos dois protagonistas, ou seja, não espere um show de cenas de ação, o apresentado durante a obra é um duro processo de aceitação entre esses dois personagens, e como consequentemente o bem precisa do mal e vice versa. O plot twist ao final da história evidência isso, mostrando a conclusão de ideias no qual Elijah apresenta: sem ele, o David herói jamais teria nascido, ele inevitavelmente se tornou o vilão da história.

A construção da personalidade de David e Elijah é perfeita, enquanto um possui força e resistência avassaladoras, mas com problemas extremamente humanos: casamento desgastado, relação fraca com o filho e problemas de aceitação e felicidade, não diferente, a primeira cena evidência uma tentativa de traição de sua esposa, um homem totalmente falho. Do outro lado, temos Elijah, uma pessoa diagnosticada com Osteogênesis imperfecta, uma doença que causa extrema fragilidade nos ossos, como se fossem vidro, não diferente, ganha esse apelido entre as crianças do bairro. Apesar desse problema, é um homem inteligente e entendemos desde a infância toda esse trauma e obsessão pelo oposto. Os dois carregam durante o filme uma semelhança, a infelicidade na vida, os dois sentem um vazio que precisam preencher, e justamente o encontro dos dois traz essa resposta. São dilemas extremamente interessantes, um precisa do outro, algo bastante paralelo com a dinâmica Batman/coringa, herói e vilão clássicos dos quadrinhos.

Marcado principalmente neste período de sua filmografia, o diretor Shyamalan demonstra novamente um controle único no suspense de seu filme. Uma evidência mais clara dessa habilidade é praticamente a única cena de combate de todo o longa, onde vemos David salvando uma família de um psicopata que os fez refém, todo o acompanhamento da cena é primoroso, vamos descobrindo tudo juntamente com o protagonista, até o inevitável confronto. Usando justamente essa fraqueza do herói, a água, somos forçados a assistir uma quase morte de nosso herói, mas sendo resgatado pelas crianças que anteriormente tinha salvado. E assim seu primeiro ato heroico, onde em uma dura batalha, o herói mata o vilão e salva quase toda a família.

As habilidade do diretor com a câmera são impressionantes, se utilizando muito dos reflexos, da brincadeira envolvendo vidros e sua a representação física nas cenas, exemplo é a cena da queda de Elijah na escada e sua bengala de vidro é estraçalhada no chão. Tudo é feito pacientemente para combinar com o roteiro, as longas cenas para evidenciar o suspense a ser construído aqui, aumentam mais ainda o grau de tensão e  atmosfera. A cena de levantamento de peso do David é sublime, traz um senso de descoberta e fé gigante, misturando esse grau de idealização e obsessão do filho pelo pai, mas também um senso de importância que o protagonista leva com todo esse poder alcançando.

Corpo Fechado é um show de criação de mitologia e atmosfera, ele se utiliza muito bem da câmera na mão e os excelentes planos-sequências. São detalhes que adicionam para esse mundo sobrenatural de seres especiais, até mesmo o detalhe da capa de chuva como uma espécie de “traje de super herói” faz a diferença, combina demais com o aspecto realista da obra. É uma produção que passa a impressão de conforme o tempo passa, mais querida e importante ela se torna. Ela traz uma carga emocional muito grande, não a toa, surgiram duas continuações anos depois: Fragmentado e Vidro, fechando a trilogia. Se deixar o aspecto heroico de lado, temos uma trama sobre descobrimento e a constante procura do ser humano pelo seu papel no mundo. Filmaço!

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