Apesar da estrutura repetitiva, que baseia o filme no formato de um programa de TV e usa comerciais para cenas dos bastidores, “Late Night with the Devil” funciona bem com sua trama de escalada absurda em busca de audiência. A direção de Cameron Cairnes e Colin Cairnes é habilidosa ao criar gradualmente uma atmosfera peculiar, inicialmente gerando um senso de estranheza com detalhes como figurantes vestidos de caveira e closes contínuos em expressões faciais, e depois brincando com o formato de TV ao usar glitches.
Esses elementos preparam o terreno para flertes com outros gêneros, como possessão e body horror, de forma explícita, visando chocar com as aparições. O filme pode ser descrito como um “Programa do Ratinho” dirigido por Tobe Hooper. O elenco é o ponto alto, com David Dastmalchian, Fayssal Bazzi, Michael Ironside e a novata Ingrid Torelli representando arquétipos televisivos clássicos, como o apresentador simpático, o vidente estrangeiro e o cético chato.
O maior problema do filme é que ele se torna refém de sua própria estrutura por quase todo o tempo, e quando decide sair do formato de programa, o faz de maneira que não se encaixa bem na narrativa, esquecendo que estava no formato de documentário. Isso não seria tão ruim se a sequência criada para essa mudança não fosse derivativa do que já havia sido apresentado.
“Late Night with the Devil” emula bem um programa setentista, desde os aspectos visuais até a filmagem e os efeitos práticos, criando uma atmosfera que ressalta os momentos de susto. David Dastmalchian está excelente no comando do show. Embora o filme seja competente nos sustos e na atmosfera, ele nunca ultrapassa o estágio de um exercício cinematográfico, parecendo preso à sua própria premissa. Em um filme tão enxuto, as ações começam a se tornar repetitivas e previsíveis, tornando-se monótonas entre seus momentos mais fortes.