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Entrevista | Denise Brown fala sobre o documentário “Vida e a Morte de Nicole Brown Simpson”

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O canal Lifetime vai exibir no mês de novembro o documentário “Vida e a Morte de Nicole Brown Simpson”, série documental de quatro episódios, parte da programação especial do Mês de Combate à Violência Contra a Mulher. O especial oferece a oportunidade para que a própria narrativa e voz de Nicole, ex-esposa de O.J. Simpson, sejam ouvidas, 30 anos após a sua trágica morte. Para falar sobre o documentário participei de uma entrevista coletiva com a irmã da vítima, Denise Brown.

Confira mais detalhes do programa e trechos da entrevista:

Com acesso inédito a vídeos caseiros, entrevistas exclusivas e ao diário pessoal de Nicole, o documentário revela novos detalhes impactantes da chocante história que ficou mundialmente conhecida como o “Julgamento do Século”, em que o acusado de duplo homicídio foi o proeminente jogador de futebol americano e estrela de Hollywood O.J. Simpson. “Vida e a Morte de Nicole Brown Simpson” traz os testemunhos das irmãs e amigos mais próximos de Nicole, que quebram o silêncio e dão conta do pesadelo vivido na intimidade pela jovem mãe de dois filhos, enquanto era casada com O.J. Simpson e também depois no divórcio.

Nicole Brown Simpson era uma garota de 18 anos quando conheceu O.J. Simpson, o famoso atleta e ator de 30 anos, na época casado há dez anos com Marguerite Whitley. No primeiro episódio da série documental, D’Anne Purcilly, amiga de Nicole, lembra que morou por um tempo na casa que dividia com o então marido David LeBon e conta como Nicole apareceu com as calças rasgadas após o primeiro encontro com O.J.

“Quando ela chegou em casa, suas calças estavam rasgadas… o zíper estava quebrado”, conta D’Anne. “”Eram jeans, e David disse a ele: ‘Você não pode rasgar jeans como se fossem de linho”. Ao que Lebon acrescenta no documentário: “Perguntei a Nicole o que tinha acontecido com ela, que me respondeu que O.J. tinha ficado um pouco violento. E eu perguntei a ela: ‘Por que você deixou ele fazer isso com você?'”

O caso levou ao divórcio de O.J. de sua primeira esposa Whitley; depois ele se casou com Nicole em uma grande e midiática cerimônia. Porém, por trás de um casal aparentemente perfeito, a história era diferente. O relacionamento era extremamente turbulento, além de abusivo física e psicologicamente. Nicole chamou a polícia diversas vezes, relatando incidentes de violência doméstica.

Após sete anos de casamento e dois filhos, em 1992 Nicole pediu o divórcio, alegando diferenças irreconciliáveis. Pronta para começar sua nova vida, O.J. faz de sua vida um tormento, devido ao seu ciúme e natureza controladora. De acordo com as três irmãs de Nicole (Denise, Dominique e Tanya), que compartilham sua história na série documental Lifetime, ela passou a maior parte de seu casamento com O.J. sorrindo para esconder a dor do abuso verbal e físico.

Na noite de 12 de junho de 1994, Nicole Brown Simpson e seu amigo Ronald Goldman foram brutalmente assassinados em frente à casa de Nicole, na área de Brentwood, em Los Angeles. Ela tinha apenas 35 anos quando foi morta a facadas e a violência do crime chocou uma nação inteira. A descoberta dos corpos levou à intervenção policial e as suspeitas rapidamente recaíram sobre O.J. como o culpado mais provável.

A violência doméstica que Nicole vivenciou em silêncio durante anos foi revelada publicamente ao mundo durante o julgamento de O.J. Simpson pelos brutais assassinatos de Nicole e de seu amigo Ron Goldman, um julgamento que seduziu a mídia em grande parte devido à sua fama. Embora o ex-jogador tenha sido absolvido das acusações, em 1997 ele foi considerado responsável pelos assassinatos após uma ação civil movida pelas famílias das vítimas e foi condenado a pagar 33 milhões de dólares.

Trinta anos após a morte de Nicole Brown Simpson, esse documentário é uma crônica sobre a protagonista e dá ao público a oportunidade de ouvir o depoimento de 50 entrevistados, incluindo aqueles que melhor conheceram Nicole – seus amigos e familiares – para lançar uma nova luz sobre sua vida, concentrando-se principalmente na violência doméstica que Nicole sofreu antes dos trágicos acontecimentos de junho de 1994.

Dirigida por Melissa G. Moore, a série documental foi produzida por Bunim/Murray Productions para Lifetime. Entre os produtores executivos adicionais, Melissa Moore (The Prison Confessions of Gypsy Rose Blanchard), Rit Saraswat (Surviving R. Kelly: Part II) e Brie Miranda Bryant (Where is Wendy Williams?, Janet Jackson, Surviving R. Kelly).

Estreia no domingo, dia 3 de novembro às 22h50.

Confira alguns questionamentos importantes da entrevista coletiva e também minha pergunta para Denise.

César Sabroso (apresentador): Então, Denise, antes de mais nada, você poderia nos ajudar a entender quem era Nicole?

Denise Brown: Nicole era minha linda irmã. Ela era uma mulher com o maior coração. Ela tinha o maior coração do mundo. E eu acho que foi isso que a tornou tão única e especial, e ela tinha amigos íntimos e maravilhosos porque ela era uma amiga verdadeira.

Sughey Baños (El Universal, México): Boa tarde a todos. Gostaria de perguntar à Denise se o processo de realização deste documentário ajudou ela a se curar?

Denise Brown: Não, na verdade, foi muito difícil. Como eu disse no início, ficamos em choque. E provavelmente foi mais raiva e frustração e desejo de saber tudo o que pudesse saber sobre violência doméstica depois que aconteceu. E isso é 30 anos depois. Isso é cavar muito fundo e trazer essas emoções de volta e lembrar.

César Sabroso (apresentador): Muitas vezes, as mulheres vítimas de violência doméstica não denunciam por serem manipuladas pelos seus agressores. O que você recomendaria às famílias dessas vítimas para ajudá-las a sair do ciclo de violência, para que tirem a venda e façam algo a respeito?

Denise Brown: Bom, lembro que um dia veio um jovem do Brooklyn, em Nova York, do Brooklyn College, e me disse: Denise, tenho uma amiga que está em um relacionamento violento. E eu disse isso a ele: Aprenda sobre o ciclo de violência e sobre sua amiga. Se você apenas falar com ela, o que você vai ouvir é “não, não é assim. Não, isso não acontece comigo.” Porque há muita negação em torno da violência de gênero e as vítimas de violência de gênero voltam entre sete a dez vezes para os seus agressores. Então você tem que aprender sobre isso, falar sobre isso. E eu disse a esse cara: “Diga a ela, você quer acabar como Nicole Brown Simpson, você quer acabar morta?” Sempre penso nesse menino, nesse jovem. Eu sempre me pergunto o que aconteceu? Mas você não pode tirar alguém de um relacionamento violento quando adulto. Em outras palavras, não vale a pena tentar extraí-lo fisicamente. Lembro que uma vez uma mãe me disse: “Eu fiz isso, agarrei minha filha e tirei ela de uma situação violenta”. E eu disse a ela, bem, você é a primeira pessoa a provar que estou errada. Eu disse a ela como foi bom você ter conseguido tirá-la fisicamente daquele relacionamento, porque o que aconteceu com ela é que ela tinha uma filha de 17 anos e aqui nos EUA, aos 18 você é maior de idade e você pode fazer o que quiser, certo. Mas minha sugestão seria sentar primeiro com a pessoa, aprender bem sobre esse ciclo de violência doméstica e não cometer os erros que cometi, dizendo “Você tem ficar longe desse cara.” “É ruim, é muito ruim.” Não faça isso porque assim você acabará isolando a pessoa e ela se distanciará de você porque não vai querer ouvir essas coisas pois está envolvida naquele pesadelo. Espero ter respondido à pergunta.

Marcel Botelho (Estação Nerd): Olá Denise, prazer em conhecê-la. É um prazer conversar com você. Gostaria de saber o que você acha destes documentários, e destas séries sobre crimes reais, você acha que esses programas podem ajudar as mulheres a identificar assassinos?

Denise Brown: Não creio que alguém consiga identificar um assassino, porque durante 17 anos pensei que este homem fosse da nossa família e nunca em um milhão de anos pensei que esta pessoa pudesse matar a minha irmã. Então você não pode identificar os assassinos, mas pode identificar o abuso. Dá para identificar a violência doméstica, porque falamos sobre violência doméstica no documentário e estávamos tentando educar as pessoas que assistiam. Acho que quanto mais falarmos sobre violência doméstica, mais as pessoas serão informadas sobre o assunto. Acho que é como um comercial de TV que tivemos há muitos anos. Você conta para dois amigos e eles contam para outros dois amigos, e eles contam para outros dois amigos, e continuamos a conversa, não só no mês de outubro, que é o mês de conscientização sobre violência doméstica, mas conversamos sobre isso 365 dias por ano.
E há muitas coisas que podemos fazer para falar sobre isso, para que ninguém mais seja assassinado, para que outra família não tenha uma tragédia como a nossa. E é por isso que sou tão inflexível em sair e conversar e tentar educar, principalmente os jovens que não sabiam nada sobre Nicole, que não sabiam nada sobre o caso, que não sabiam nada sobre isso, que nem estavam vivos há 30 anos. E acho que isso faz toda a diferença no mundo, que as pessoas falem sobre isso e falem continuamente sobre a questão da violência doméstica, porque a violência doméstica pode matar.

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