Surpreendentemente bem-humorado após uma longa viagem vindo direto do México para a entrevista no Brasil, Luc Besson já chegou fazendo brincadeiras com os jornalistas e com Dane Dehaan, estrela do seu novo longa Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, este visivelmente cansado.
Besson começou respondendo sobre o momento do filme, se foi filmado agora para coincidir como aniversário de 50 anos do lançamento dos quadrinhos (Valerian et Laureline, de Pierre Christin e Jean-Claude Mézières, 1967) ou se foi uma escolha técnica, por ser um filme tão grandioso e com muita tecnologia necessária para produzí-lo. O diretor que é conhecido por outras obras grandiosas como O Quinto Elemento(1997), Lucy (2014), Nikitta: Criada para Matar(1990) e também por personagens femininas fortes e marcantes, fez um comparativo com um atleta olímpico para responder a pergunta, no qual 4 anos antes pode ser muito cedo e 4 anos depois muito tarde para o atleta em questão de potencial. “É preciso que a criatividade e o conhecimento estejam equiparados, e este era o momento certo, onde meu frescor e meu conhecimento eram suficientes. Foram 7 anos de trabalho para esse filme e você precisa esperar pelo conhecimento (tecnologia) e pela coragem. Este não é um filme de super-heróis americanos. No meu filme os heróis são como nós.”
Para Dane Dehaan esse “foi o filme mais desafiador fisicamente que ele já participou”. Na cena do Grande Mercado, o cenário tinha o tamanho de um campo de futebol, e ele, amarrado em cabos, precisou correr, pular, subir e descer escadas, desviar de obstáculos. “Foi complicado porque a primeira cena eu tive que fazer 25 vezes (risos). Foi duro, mais divertido.”
“Não sei dirigir uma bola de tênis, é complicado, rsrs” disse Besson sobre os atores que contracenam em tela azul. “Todas as vezes que vamos gravar seja uma criatura, seja um monstro, temos um ator. Sempre.” A pós-produção é bem demorada, mas sempre são atores interpretando, inclusive os animais.
Luc Besson é um notório fã dos quadrinhos que deram origem ao filme, e disse que ficou muito impressionado com a história quando era jovem e sempre pensou na personagem Laureline (Cara Delevingne) como antiquada para o século 28. “Ela tem um forte senso de moralidade, quer casar, ter filhos.” Disse que a escolha de Cara para o papel foi como outro qualquer, testou algumas atrizes e quando olhou para Cara pensou “Ela pode ser a Laureline.” Mas em tom de brincadeira disse que torturou bastante a atriz com vários outros testes. “Ela deveria ser forte para o papel.” Disse ainda que o fato de Cara Delevingne ter sido modelo foi só um acaso. “Ela estava na rua e foi abordada. Ela é uma atriz inata.”
Sobre Rihana, tanto Besson quanto Dehaal foram só elogios. Besson conta que a cantora tinha muito interesse no papel e se entregou, se deixou levar pela direção. “Rihana trabalhava literalmente dia e noite” disse Dehaal, já que durante as gravações a atriz também estava em estúdio gravando seu novo disco. “Tanto Cara como Rihana são maravilhosas e trabalham muito mesmo. Cara além de atuar, compôs uma música (I Feel Everithing) para a trilha de Valerian) e escreveu um livro (Mirror, mirror previsto para outubro)!”
Perguntados sobre quais suas partes preferidas no longa, Dehaal diz gostar muito da sequência de abertura, com todos os povos alienígenas se conhecendo e se cumprimentando em Alpha ao longo dos séculos. Já Besson riu, dizendo gostar de todas as partes para começar, “Talvez uma cena por ter sido muito difícil de fazer, o Grande Mercado com 1milhão de lojas em 500 níveis. Foram 6 semanas de gravações só para essa cena e 2 anos de trabalho de efeitos especiais.”
E se pudessem escolher uma personagem para viver por um dia? Luc Besson teve dúvidas entre Bubble a alíen polimórfica vivida por Rihana ou viver no planeta Mül com os Pearls. (Te entendo Luc, também teria essa dúvida, rsrs), mas Dane Dehaal foi categórico: “Queria ser Valerian todos os dias da minha vida!”
Tanto para o diretor quanto para o protagonista, o filme fala principalmente sobre o valor do amor. “Valerian precisa aprender a amar, mas Laureline também precisa” disse Besson. Para Dehaal “A conscientização do que é o amor é a parte mais importante do filme.”
O filme trata também sobre humanidade, disse Besson. “Os Pearl são perfeitos, são a imagem do que nós deveríamos ser.” São um povo pacífico apresentado logo no início do filme, que vivem do que a natureza proporciona, em harmonia total e de uma beleza ímpar. Besson ainda faz uma comparação com o que ocorreu quando os povos ditos civilizados encontraram culturas mais naturais, como foi o caso dos índios norte-americanos e da américa do sul, dos aborígenes australianos e tantos outros. “E a única coisa que nós humanos tentamos fazer é matá-los assim como a história dos indígenas, por motivos econômicos, religiosos. Nós eliminamos.(…) É basicamente a história da humanidade e os dois heróis são a nossa consciência”. Dehaal completa: “São um povo que já tem tudo resolvido, um modo de vida bonito, diferente. Têm possibilidade de criar algo valioso dentro de Alpha e são demonizados pelas pérolas que criam. Pérolas são poder.”
E no fim, Besson ainda acrescenta: “Um alien nos dá uma lição de humanidade. Eles não querem vingança, só querem a terra deles de volta. E essa é uma lição maravilhosa!”
https://www.youtube.com/watch?v=nIB9XFlFdFQ