sáb, 27 abril 2024

Fim de Semana de Clássicos | Comboio do Medo (1977)

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Com a crescente Nova Hollywood, o diretor William Friedkin, já consolidado positivamente tanto em crítica como público com os excelentes “Operação França” e “O Exorcista”– apresentou um projeto que seria um remake do conhecido “O Salário do Medo(1953), mas como o próprio diretor defendeu e inclusive se irritou com essa apresentação de seu novo filme, na verdade se trata de uma nova visão sobre essa história. E Comboio do Medo (1977) entra como um dos mais subestimados filmes dos anos 70, não só por fazer parte de um importantíssimo movimento cinematográfico, mas também se revelar extremamente ousado e imersivo.

Quatro homens impedidos de voltar aos seus próprios países, por diferentes motivos, se encontram num país pobre da América do Sul, onde são contratados por uma companhia de petróleo para uma missão quase suicida: transportar uma perigosa carga de explosivos por um terreno acidentado.

Os segmentos de divisão da história são bastante curiosos. Temos uma introdução que ao ser vista pela primeira vez causa até um estranhamento, mas mesmo assim coloca o primeiro passo de cada personagem de maneira compreensível, e com as divisões do local e os motivos da fuga de cada um. É bem misturado em questão de explicações, por um lado temos o personagem Roy Scheider que se envolveu em um assalto contra a máfia local e assim um dos irmãos do chefe acabam morrendo e ele precisa desesperadamente fugir daquele local devido uma jura de morte. Por outro lado temos Nilo, sendo passado como o primeiro segmento de personagem, e é bastante vago sua história, vemos que ele comete um assassinato e não sabemos o motivo ou consequência disso, apenas seu já esperado exílio no terceiro mundo- aliás o personagem mais aberto de todos, nunca sabemos e nunca saberemos seus motivos e desconhecido passado.

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Com os personagens principais introduzidos, somos jogados para esse cenário de extrema pobreza e angústia. O Friedkin filma com excelência essa troca de vida daqueles personagens, acompanhamos um pouco da rotina de cada um, e observamos toda essa sensação de fim de mundo e a falta de condições básicas para aquela população, é um cenário realmente miserável. E não só isso, o filme trabalha muito essa sensação de suor e sujeira, ele consegue passar isso nas pequenas coisas, desde uma simples caminhada entre os cenários até o extremo com situações de morte e desespero genuíno. Com isso ele ainda trabalha a questão da petrolífera e a população, no sentido que ela está dando alimento, dinheiro e condições para aquelas pessoas, mas também uma exploração absurda, sugando elas pela necessidade e condições perigosas do trabalho, é uma critica extremamente valida do filme.

E após tudo isso, temos a inevitável e maravilhosa passagem do perigoso trajeto dos caminhões. São sequências inesquecíveis e completamente tensas em relação a sensação de urgência passada- qualquer tipo de descuido é a morte certa, de maneira que a carga que está sendo transportada é de uma sensibilidade extrema, o filme deixa claro isso que um simples derramamento do material já causa uma explosão bizarra. A cena mais icônica do filme- da ponte- evidência muito bem essa luta contra a natureza, e de como o ser humano quando é jogado nessa situação ele é apenas dominado pelo sentimento de medo e flerte com a morte, naquele local eles não são nada e a simples condição de estar vivo é uma vantagem. É um total controle nessa passagem, em um simples plano geral ele evidência o medo e fragilidade da situação, desde a estrutura da ponte extremamente limitada e com uma sensação de desabar em qualquer instante, a chuva que mais parece um dilúvio, fora isso temos a música que se apresenta nos momentos certos e funcionando quase como um susto, principalmente na cena da árvore.

E Comboio do Medo(1977) é essa jornada maluca e desesperadora de quatro homens onde sabemos pouquíssimos sobre cada um e isso não importa! O mais importante é descobrirmos como eles irão transportar essa carga praticamente mortal em um cenário extremamente infernal. É uma obra que casa perfeitamente com a filmografia realista e nillista do diretor, talvez a obra mais pessimista dele. Um trabalho extremamente injustiçado e azarado em sua época, sendo engolido pelo estrondoso lançamento de Star Wars(1977) e também pelo preconceito dos americanos com as legendas em algumas passagens do longa.

O diretor William Friedkin é espetacular, é extremamente importante para o cinema autoral. Seu aspecto de controle criativo, buscar a perfeição/excelência nos presentou com alguns dos melhores trabalhos de Hollywood. É uma personalidade que faz falta nos dias hoje, dado tanto controle dos estúdios e a preocupação com o lucro. É fato que contamos no dedo realizadores que apresentem esse arquétipo de controle criativo com suas obras nos dias de hoje. Friedkin é aquele caso de um realizador que não produziu tanto, mas as poucas coisas que ele fez são gigantes e inesquecíveis. Desde revolucionar o terror para sempre até apresentar excelentes thrillers de ação e suspense, é um cineasta que merecia ter feito muito mais, era um direito dele.

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