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Início Especiais Fim de Semana de Clássicos | O Franco Atirador

Fim de Semana de Clássicos | O Franco Atirador

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O cinema tem um relação muito particular com guerras, por mais que sejam consideradas eventos catastróficos da humanidade e marcando gerações, elas foram responsáveis por inspirar filmes e visões avassaladoras sobre diversos eventos de conflito na história da humanidade. Assim como a Primeira e segunda Guerras Mundiais, onde buscavam retratar esse horror e absurdo em prol de conquistar territórios e visões maléficas. Não seria diferente duas gerações depois com a Guerra do Vietnã, uma onda de alienação em prol de um orgulho mascarado de egoísmo. E o diretor Michael Cimino explora isso na excelência.

Em 1968, Michael, Nick e Steven, amigos de longa data, pertencentes a classe operária na Pensilvânia, preparam-se para servir na Guerra do Vietnã logo após casamento de Steven e da última caçada em grupo deles. No Vietnã, os sonhos de honra militar são rapidamente dissolvidos pela crueldade da guerra.

Em outros trabalhos futuros, o diretor Michael Cimino deixa detalhes da Guerra do Vietnã implícitos na sociedade americana, seja em trabalhos como “O Ano do Dragão” de 1985,com o protagonista sendo um ex veterano de  guerra e causando esse racismo praticado pelo mesmo no dia a dia em Chinatown. Fato é que ele trabalha muito bem esse imaginário Norte Americano da honra e orgulho patriota acima de tudo, essa alienação social que causou diversas marcas, e muitas delas vistas até os dias hoje.

O início do filme, ou melhor, sua longa e paciente introdução tem o objetivo de passar essa “vida perfeita” dos protagonistas, pessoas simples e envoltas de uma felicidade honesta, com amigos, festas e uma rotina muito diferente do eventual terror que irão viver em alguns dias. Acompanhamos até mesmo um longo casamento de um dos personagens que irá para a guerra, somos cercados de uma inocência que não parece conceber o peso e o lugar para onde eles vão, um sentimento que só é minimamente mostrado com a última reunião de todos ao bar, onde são acompanhados de um sutil piano ao fundo, e finalmente  o medo e ansiedade os dominando.

Com isso, o filme corta diretamente para a guerra, com explosões, helicópteros e mortes. E Rapidamente presenciamos cenas como um soldado vietnamita explodindo pessoas dentro de um esconderijo ou nossos protagonistas já em situação de urgência, sejam feridos ou encurralados. E é impressionante esse estabelecimento do horror da guerra em tão poucos minutos. É um filme longo, três horas de duração, mas num intervalo de 40 minutos ele exemplifica muito bem esse trauma e “maldição” que os cercarão pelo resto de suas vidas. O momento da roleta russa, tão icônico e marcante na história do cinema, é uma passagem de dor, horror e angústia com cada clique do revólver com uma bala no tambor.

E após isso tudo, temos o retorno dos soldados, vidas que nunca mais serão as mesmas, e não só entre eles, mas aquelas mesmas pessoas com quem eles conviviam, todos afetados e anelados por algo que eles não faziam ideia do tamanho do horror. Uma geração(mais uma!) marcada, não só fisicamente, mas mentalmente, ouvindo tiros em um simples derrubar de bandeja, e nem ao menos conseguindo olhar do mesmo jeito para um revólver, que constantemente retorna para o falho cotidiano de um dos protagonistas.

O diretor Cimino imprime isso com excelência ao passar esse vazio e dor, consequências de uma guerra que nossos personagens nem ao menos faziam ideia da real verdade. Um vazio que é perfeitamente demonstrado na cena final, do café da manhã após o enterro de um amigo veterano, que foi totalmente sugado por aquele horror, nem ao menos lembrando de seus antigos amigos em seus momentos finais. Um sentimento de derrota e quebra que é demonstrado por aqueles personagens e passado para o telespectador, que se vê desolado com tudo o que presenciou. Brilhante.

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