Nos fins de semana teremos um revisão de um clássico disponível no Paramount+. A primeira produção a ser relembrada é o clássico de 1975, Tubarão. Confira a nossa crítica:
Quando a música começa a tocar, e uma enigmática câmera em primeira pessoa se aproxima de uma jovem moça apenas curtindo ao mar aberto, e logo em seguida desaparece, puxada por algo. Tubarão é um marco no “Creature Feature”( gênero onde monstros atacam as pessoas), uma revolução em questão técnica, e um precursor nesse tipo de filme envolvendo animais assassinos, saindo quase todo ano algum parecido. Além de ser responsável por alguns clichês tão comuns nos dias de hoje, ele foi precursor por deixar de lado essa questão fantasiosa envolvendo monstros gigantes, e escolher focar no realismo, mantendo uma história “pé no chão”.
Um terrível ataque a banhistas é o sinal de que a praia da pequena cidade de Amity virou refeitório de um gigantesco tubarão branco, que começa a se alimentar dos turistas. Embora o prefeito queira esconder os fatos da mídia, o xerife local (Roy Scheider) pede ajuda a um ictiologista (Richard Dreyfuss) e a um pescador veterano (Robert Shaw) para caçar o animal. Mas a missão vai ser mais complicada do que eles imaginavam.
Tubarão uma mistura quase perfeita, mesclando boa direção, eficiência da direção de fotografia, trilha sonora impactante, personagens esféricos bem delineados e uma temática “universal” que estará sempre no bojo das histórias que acompanham a humanidade. Em relação a imagem, se aderiu o uso da câmera subjetiva( primeira pessoa) para nos passar a visão do animal enquanto ele ronda suas vítimas, essa escolha é proposital para aumentar mais ainda o suspense. Para se ter uma ideia, o ser é apenas visto com mais de uma hora de filme, e ainda sim não é por completo, apenas no final do longa temos a real dimensão de seu tamanho.
Outro primor técnico é o animal desenvolvido por Robert Mattey, um feito nos meios práticos. Ao total eram três estruturas de representação do tubarão, todas complementadas por motores pneumáticos, um de corpo inteiro e outros dois de cada lado do perfil. Os problemas envolvidos na composição do animal é uma história a parte, um sacrifício que valeu a pena. A trilha sonora é um legado cinematográfico, quantas sátiras, quantos filme utilizaram desse arquétipo, seja para homenagear ou mesmo copiar. A música é responsável por 50% do suspense construído por Spielberg, quando seu tema começa a tocar, sabemos instintivamente que alguém não sairá vivo daquele mar.
Focando na parte da história, baseado no livro de Petet Benchley, a trama é dividida em quatro partes: a primeira o ataque, a segunda é a descoberta do grupo sobre o monstro apresentado, mas não é tomado nenhuma atitude severa, a terceira parte é o convencimento das autoridades em relação ao confronto eminente, e por fim a quarta parte, o encontro e duelo com a fera. Talvez o filme perca o alcance de perfeição justamente por conta da última parte, em que o confronto é bastante alongado, beirando quase os 50 minutos. O personagem de Martin Brody é o melhor trabalhado aqui, a identificação é quase direta, em um ambiente opressor aonde o prefeito ignora os ataques, e apenas se importa com o turismo relacionado ao feriado americano, o desespero do personagem é palpável, e o trabalho de movimentação é primordial para nos passar essa angústia. Inclusive em 2020, com o surgimento da pandemia, a obra obteve novamente destaque devido a constante comparação com a situação da cidade fictícia ao encobrimento de alguns lugares ao risco do COVID-19.
A partir de 2000, muitos filmes tentaram resgatar esse efeito causado por Tubarão, muitos beirando ao ridículo, mas um ou outro trazendo um frescor novo para o gênero. Águas rasas(2016) por exemplo teve uma boa execução, percorrendo nas homenagens e com uma identidade própria. O legado deixado pelo clássico filme de Steven Spielberg é automaticamente recordado toda vez que algum novo filme de animais assassinos aquáticos é lançado.
O fenômeno Tubarão é um marco no cinema, e também cultural. Se tornou uma veia de memória até os dias de hoje, um feito e tanto, dado as constantes atitudes das novas gerações em “banir o velho”. Existe muita coisa para se contar sobre esse filme, desde seus legados até sua construção cinematográfica. A obra mostra o poder da sugestão, a banalização dos efeitos especiais, e o impacto que uma trilha sonora tem nas cenas mais importantes. Uma obra prima atemporal.