sáb, 23 novembro 2024

Crítica | Garotas em Fuga

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Os irmãos Cohen são uma conhecida dupla de cineastas responsáveis por algumas grandes obras contemporâneas, como Onde os Fracos Não Têm Vez e Inside Llewyn Davis – Balada de Um Homem Comum. Alguns anos atrás, no entanto, eles anunciaram que seguiriam caminhos separados e tentariam carreira solo, desde então Joel lançou A Tragédia de Macbeth em 2021 e agora foi a vez de Ethan fazer sua estreia sozinho na direção de um longa-metragem de ficção com Drive-Away Dolls.  

Trata-se de um road movie que conta a história de duas jovens mulheres lésbicas com personalidades completamente distintas que decidem tirar um tempo de férias para fazer uma viagem de carro. Durante o percurso, as duas acidentalmente cruzarão o caminho de alguns criminosos e precisarão colocar suas diferenças e sentimentos pessoais de lado para lidar com a situação.

Os temperamentos conflitantes das protagonistas inseridas naquele contexto geram excelentes momentos de comédia, enquanto Marian é completamente fechada e pragmática, Jaime é movida por um espírito tão demasiadamente livre que, por vezes, compromete seu bom senso. Sua impulsividade quase ingênua é um dos pontos mais fortes do filme, graças ao timing cômico de Margaret Qualley (Era Uma Vez em Hollywood) que está em uma das performances mais charmosas de sua carreira, até mesmo seu exagerado sotaque que tem sido alvo de duras críticas, funciona na medida que casa perfeitamente com os absurdos da narrativa.

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Além de genuinamente divertido, há também muita sensualidade no longa, que não é presente apenas nas cenas de sexo propriamente ditas, mas permeia toda sua estética. É um filme apaixonado – não só no sentido romântico da palavra –, cheio de desejo e latência, características cada vez mais em falta no cinema atual.                   

Se por um lado essa combinação de humor e paixão é muito bem explorada pelo diretor, por outro ele encontra nos vilões seu calcanhar de Aquiles. Sempre que eles estão em tela, há uma queda brusca na empolgação, já que não são ameaçadores, nem carismáticos e tampouco cartunescos o suficiente para ao menos se tornarem divertidos, comprometendo até mesmo o nível da comédia. Até mesmo o carisma singular de Colman Domingo (Candyman) não foi o bastante para salvar o núcleo dos antagonistas da pieguice.  

Um projeto que já tem a classificação indicativa elevada por conta das cenas de sexo poderia ter se aproveitado disso para investir de cabeça nessa proposta mais adulta, com criminosos verdadeiramente assustadores. O que, vale dizer, não necessariamente iria na contramão do tom cômico proposto pelo filme.

Apesar de estar longe de ser perfeito, é sem dúvida um filme inegavelmente autoral – cheio de cores, texturas e uma trilha sonora recheada de clássicos – feito por um realizador experiente e confiante, sem medo de brincar com cortes e transições menos convencionais, que, apesar de estarem em clara consonância com o restante da obra, certamente causará estranhamento em parte do público, gerando opiniões divisivas.

Não me restam dúvidas de que esse é um promissor começo de carreira individual e me agrada perceber que Ethan Cohen decidiu não ficar preso em uma zona de conforto e se propôs a tomar alguns riscos, ainda que nem todos tenham rendido resultados que me agradem, é melhor do que não se arriscar em nada.

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Destaque

Raíssa Sanches
Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
Os irmãos Cohen são uma conhecida dupla de cineastas responsáveis por algumas grandes obras contemporâneas, como Onde os Fracos Não Têm Vez e Inside Llewyn Davis – Balada de Um Homem Comum. Alguns anos atrás, no entanto, eles anunciaram que seguiriam caminhos separados e...Crítica | Garotas em Fuga