seg, 23 dezembro 2024

Crítica | Homem-Aranha: Através do Aranhaverso

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Como superar um marco? É difícil falar de Homem-Aranha no Aranhaverso (2018) sem reconhecer que foi uma animação importantíssima para uma virada na forma de se produzir longas animados. Pegando exemplos recentes que vão de Arcane até Gato de Botas, é perceptível que o filme de 2018 foi responsável por instigar outras produtoras a se arriscarem em um meio que pode oferecer tanto. Para além do fotorrealismo ou o consolidado padrão Pixar, a energia e inventividade de Homem-Aranha no Aranhaverso acertaram o público como um meteoro, deixando aberto o espaço para uma inevitável continuação e infinitas possibilidades para Miles e todos os possíveis aranhas multiverso afora.

Em 2023 a tão aguardada continuação, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, após uma série de adiamentos, finalmente chega para o público e já carregando o peso enorme de se colocar à altura de seu antecessor. Dito isso, é preciso dizer que, se falando de qualidade gráfica, talvez esse novo filme inclusive seja um tanto superior. Se no primeiro longa estamos apenas no universo natal de Miles e os aranhas de outros universos o atravessam com seus diferentes estilos gráficos e climas que colorem ainda mais um filme já estilizado, agora Miles, como indicado no título, atravessa outras realidades inteiras, transitando por outras construções de mundo, outras cores, outros símbolos e outras formas de se animar. São ambientes riquíssimos e nesses ambientes novos personagens tem suas pontuais possibilidades de brilhar, seja um Homem-aranha punk que remete à colagens e zines de uma inglaterra dos anos 70 ou um homem-aranha futurista com um design regido por linhas dinâmicas que extravasam o contorno do personagem acentuando seu movimento e características mais agressivas. É um filme que indiscutivelmente expande a ideia de brincadeira visual do seu antecessor.

Falando da história, aqui temos uma trama que mais uma vez se apoia numa noção autoconsciente de “filme de herói” ou aqui ainda mais especificamente como “filme do homem-aranha”, onde as características definidoras do personagem no imaginário popular, suas relações e suas constantes tragédias são postas em contraponto ao protagonista, Miles Morales. São ideias que podem até parecer bobas em qualquer outro contexto, mas que aqui se alinham com muita força ao se relacionarem com a busca de Miles por encontrar sua identidade, algo tão fundamental para tantos outros jovens e vindo também muito alinhado ao mundo de hoje em sua forma de abordar a realidade do protagonista no seu dia a dia e com sua com sua família.

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O filme no entanto não é apenas de Miles, Gwen Stacy finalmente tem mais tempo de tela e o filme vai adentrar um pouco na realidade da personagem de maneira surpreendentemente sensível. Os dilemas de Gwen no seu mundo e a indefinição de sua relação pré-estabelecida com Miles são motor para grandes momentos no filme.

É surpreendente também que neste filme talvez não haja momentos de ação que superem seus momentos dramáticos. Sim existem grandes cenas de ação e, como dito antes, a animação talvez esteja mais refinada, mas o filme vai se fortalecer mais pelos conflitos morais e emocionais dos personagens do que pelo físicos, o que diz muito sobre o fator que potencialmente pode ser o mais frustrante sobre Através do Aranhaverso, que é seu caráter de primeira parte de uma história ainda a ser concluída. O filme entretém e prende pelo carisma dos personagens e seus conflitos, mas não entrega muitas conclusões para esses conflitos em tela, deixando essas eventuais conclusões para o próximo filme que encerrará a história. Não é um problema pensar no filme como metade de duas partes que se complementam narrativamente, mas tomando exemplos recentes, outros filmes fizeram um trabalho um pouco melhor em dividir esse grande arco em duas partes menores, como em Vingadores: Guerra Infinita (2019) e Ultimato (2019), também pensados para um intervalo de um ano mas que conseguem conter duas narrativas que se sustentam por si apesar da variação na qualidade de uma para a outra. Através do Aranhaverso é sim um bom filme e também possui seus momentos marcantes, mas faltou a ele ser a experiência que, apesar de abrir portas para o futuro, se contenta consigo mesma.

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Fabrizio Ferro
Fabrizio Ferrohttps://estacaonerd.com/
Artista Visual de São Paulo-SP
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