
O escritor paulista Iohan V. Silva lança sua nova obra, A Sagração, uma novela de terror cósmico que aborda identidade, rituais familiares e a colisão entre o sobrenatural e o drama humano. Publicado de forma independente com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), o livro já está disponível nas versões física e digital.
Morador de Jandira, na Grande São Paulo, Iohan é estudante de Letras-Português pela Universidade de São Paulo e dedica-se integralmente à escrita, especialmente no gênero do horror. “O terror é minha chave de compreensão não só para meus medos e angústias, mas também para desejos, fantasias, conexão com o outro”, afirma o autor. “Entre crenças e fascínios, deixo pedaços do que chamo ‘Iohan’ em cada palavra. No fundo, o que realmente me assusta é não ter tempo de contar o que quero.”
A Sagração é uma adaptação expandida do conto Cibele, primeira publicação de Iohan. Segundo o autor, o ponto de partida foi simples: “um jantar em família evolui para um ritual cósmico.” A inspiração veio de obras como Rope, de Alfred Hitchcock, e Hereditary, de Ari Aster. “Sempre me atraiu essa ideia de uma reunião familiar que esconde o insólito”, explica. “Quando a obra decidiu que seria um horror cósmico, a abordagem dramática foi natural. O desconhecido assustador é a própria personagem.”
O livro conta a história de Cibele, uma jovem trans que enfrenta o caos em sua vida familiar e afetiva. Após o convite para uma celebração na casa da tia Íris, mergulha em uma espiral onde o terror cósmico e o drama pessoal se entrelaçam. “O desconhecido nos assusta justamente pela vontade de conhecê-lo”, pontua Iohan. “A escolha de retratar a ascendência ao divino como uma forma de aceitar o eu foi natural, especialmente porque o estudo de gênero e sexualidade é um tema que sempre me interessou. O desconhecido interior que atormenta Cibele é sua identidade.”
Além de abordar questões existenciais e filosóficas, o autor também reflete sobre o cenário literário no Brasil. “Apesar da onda conservadora e negacionista, caminhamos. O Brasil pulsa arte”, declara. “Ainda há imensas barreiras pessoais, profissionais e sociais. Mas independente do que o futuro reserve, quero ser lembrado como um homem negro, bissexual, amante do terror e excêntrico contemplador.”
Iohan acredita que a literatura é uma ferramenta poderosa de autodescoberta e conexão. “Escrevo para morrer”, resume. “Quero ser lido, quero críticas. Quero ser compreendido e encontrar quem ressoe comigo. O ‘outro’ é definido pelo ‘eu’. Então espero ser, no futuro, um outro que eu ainda reconheça.”
A Sagração é, portanto, mais do que uma história de terror: é uma jornada interior, um grito de identidade em meio ao caos e um convite para enfrentar o desconhecido que habita cada um de nós.