Desde muito cedo, a vida de Damaris é marcada por tragédias e, apesar da companhia do marido, com quem mantém uma relação de altos e baixos, carrega uma solidão que deveria ter sido preenchida pelo filho que não veio. Cuidar da casa de veraneio há muito abandonada pela família Reyes ocupa seus dias, alivia sua consciência pelo que sente ter sido omissão sua no passado, mas nada disso lhe traz conforto.
Quando, num rompante, decide adotar a cachorra da ninhada de uma vizinha, Damaris tem a chance de desviar um pouco o foco das tentativas frustradas de engravidar. A fêmea que agora circula pela casa modesta faz aflorar instintos protetores e violentos, emoções díspares e profundas que supostamente só poderiam ser despertadas pela maternidade. A força e a intensidade dessa relação alteram tão drasticamente as dinâmicas de sua existência que Damaris já não sabe se a simples presença da cachorra fez sua vida ganhar ou perder, de uma vez por todas, o rumo.
Uma das representantes mais relevantes da literatura latino-americana atualmente, a autora é atração confirmada da 18ª edição da Flip, que este ano, em função da pandemia da Covid-19, será realizada em formato on-line, gratuito, entre os dias 3 e 6 de dezembro. Breve e magnético, A cachorra tem como ponto central o desejo de ser mãe e grande parte de sua força vem do cenário em que a trama se passa: a pobre e selvagem costa do oceano Pacífico colombiano, onde a própria escritora viveu durante nove anos. O lugar conhecido por possuir uma das maiores biodiversidades do planeta é também uma das regiões mais pobres do país. A autora teve seu primeiro filho aos 40 anos e conta que escreveu o romance inteiro no celular, enquanto amamentava o primogênito. Ambientado em uma bolha de tempo desacelerada, na qual os acontecimentos se desenrolam com a típica lentidão sazonal de uma cidade de veraneio, é um romance contundente sobre vidas marginalizadas em um contexto bastante familiar aos leitores latino-americanos.
”Este livro muda você. Ele examina profundamente a maternidade, a crueldade e como a natureza pode ser inflexível, com sua paisagem selvagem da costa colombiana, que é tão linda quanto brutal. O resultado é inesquecível.”
Mariana Enriquez
A CACHORRA, de Pilar Quintana
Tradução: Livia Deorsola
Editora: Intrínseca
160 páginas
Impresso: R$ 34,90
E-book: R$ 22,90