Vencedor do Prêmio Jabuti em 2020 como coautor de 130 anos: em busca da República, Simon Schwartzman reconstrói sua trajetória pessoal e intelectual em Falso Mineiro, que será lançado em março pelo selo História Real, da Intrínseca. O ex-presidente do IBGE revisita suas origens judaicas, a juventude nos tempos da ditadura e a carreira acadêmica, que se confunde com a história das ciências sociais no Brasil. Neste livro de memórias, o autor faz um estudo das políticas públicas adotadas no Brasil nas últimas décadas, incentivando uma discussão lúcida e embasada sobre o nosso momento atual.
Nascido e criado em Belo Horizonte, filho de imigrantes judeus — daí o “falso mineiro” do título —, o autor faz parte da geração de cientistas sociais brasileiros que se formou nos anos 1960 e atuou contra o golpe militar, vivendo a experiência do exílio, até a abertura democrática. Esse grupo foi responsável pela modernização das ciências sociais no país, com a introdução de novas perspectivas para o debate em torno da democracia, da pobreza, das desigualdades, da cultura, da ciência e da educação.
Ao refletir sobre as dificuldades do Brasil em conseguir se consolidar como uma sociedade mais democrática, mais justa e economicamente mais produtiva do que a que temos, Simon afirma que estamos presos a uma “armadilha de crescimento médio”. Ele acredita que esta condição “afeta não só a economia, que cresce — quando cresce — a passos de tartaruga, mas também a educação, que praticamente não melhora”.
O autor aborda temas de primeira ordem, como o ressurgimento no mundo do fantasma do fascismo em todas as suas manifestações políticas, intelectuais e sociais, os rumos da democracia e o poder do conhecimento. Em relação às crises institucionais, ele afirma que nos resta a “esperança de que o trauma da pandemia de covid-19 possa criar condições para que o país se reorganize em bases mais sólidas, com políticas sociais mais consistentes e mecanismos institucionais que tornem o governo menos sujeito aos altos e baixos do populismo”.
Um olhar retrospectivo honesto e revelador, que não apenas ajuda a refletir sobre temas importantes da atualidade no Brasil, como também reitera o valor do conhecimento e da razão como os melhores instrumentos para lidar com os conflitos e as questões sociais.