Em abril, a quadra do Império Serrano, no coração de Madureira, virou mais que ponto de encontro do samba. Por duas semanas, o espaço se transformou num centro pulsante de criação e troca de saberes com a chegada do projeto Dos Filmes que Ainda Não Fizemos: Rio, Zona Norte. Idealizado por Rober Corrêa, o projeto percorreu diversas cidades do país e, pela primeira vez, aterrissou no Rio, com oficinas gratuitas de roteiro cinematográfico e diagramação de livro voltadas para moradores da Zona Norte.
É o tipo de iniciativa que vai além da oficina: é sobre ocupar com propósito, sobre escutar o território. A proposta aqui não é só ensinar roteiro — é reconhecer que a escrita audiovisual também nasce da vivência, da oralidade e da memória coletiva. O resultado disso tudo será um livro de roteiros inéditos, com lançamento previsto para o próximo dia 16 de junho, em formato digital e físico. Mas mais do que um produto final, o que se construiu ali foi um gesto de afirmação criativa e política: histórias que talvez nunca fossem contadas, agora ganham corpo.
“Mais que textos, são documentos afetivos da Zona Norte hoje”, define Rober Corrêa. E é isso mesmo. Os roteiros surgem como retratos da vida em movimento, espelhando um Rio que, quase sempre, é ignorado pelas grandes narrativas audiovisuais. A ação foi realizada com apoio da Lei Paulo Gustavo, RioFilme, Descompasso Produções e, claro, em parceria com o próprio G.R.E.S Império Serrano — símbolo histórico de resistência cultural no subúrbio carioca.

Além das oficinas de roteiro, os participantes também tiveram aulas práticas de diagramação, comandadas por Helena Lessa, que apostou no incentivo à autonomia criativa como fio condutor. “Descobrimos, na prática, que é possível pensar e produzir nossas próprias publicações, com liberdade e atenção aos detalhes”, conta a professora.
Os relatos dos alunos mostram o impacto real do projeto. Vivian, publicitária e moradora de Madureira, celebrou a iniciativa como um momento de reconexão com a cultura local. Já Gabriele Nascimento, estudante de Biologia, começou querendo entender a estrutura do roteiro para fins pedagógicos e terminou explorando a ficção como ferramenta de divulgação científica. Outros participantes, como o professor Luiz Claudio Motta Lima (cineclube Subúrbio em Transe) e a artista visual Isabelle Trigo, destacaram como a oficina rompeu barreiras criativas e técnicas, tornando o audiovisual mais acessível.
Dos Filmes que Ainda Não Fizemos é, antes de tudo, um lembrete: existem muitas histórias esperando para serem escritas. E às vezes, tudo que elas precisam é de espaço, escuta e um empurrão afetuoso.
O livro será lançado em 16 de junho.