E a história se repete! Mais uma vez, políticos tentam usar a desculpa dos jogos violentos como culpados pelas tragédias que causam comoção no país.
Ontem (18/04/2023), o nosso atual presidente trouxe de volta aquele velho discurso, que tenta culpar os games pela violência no mundo real.
Já existem vários estudos que refutam essa ideia há muito tempo, como mostra essa matéria de 2020 da CNN, mas parece que nossos políticos nem sequer dão uma conferida no Google antes de fazer um pronunciamento oficial sobre determinado assunto.
Recentemente, o deputado bolsonarista “Zé Trovão”, também fez um discurso muito semelhante, pedindo a suspensão dos jogos violentos no país, como podemos ver nessa recente matéria do Techmundo de 11/04/2023.
Mas dessa vez, por ter sido algo que foi dito pelo chefe do executivo aos seus ministros, ou seja, o próprio presidente da república, isso alcançou uma repercussão gigantesca no mundo dos games e de fato, é algo muito mais preocupante.
A preocupação que nos vem à cabeça é que, se este assunto está sendo colocado em pauta novamente pelos políticos, especialmente em tempos onde temos visto algumas tentativas controversas de taxação de importações, isso faz pensar que essas falas talvez sejam uma maneira de criar uma narrativa que sirva como justificativa para aumentarem os impostos sobre os jogos.
Essa estratégia de inventar uma historinha e fazer uma associação maliciosa a uma tragédia para criar ou aumentar impostos, já não é nenhuma novidade, mas se este for o caso, além de ser algo que provavelmente terá o efeito contrário, diminuindo a arrecadação, é uma desculpa velha, sem sentido algum e nenhum pouco criativa.
Com o preço dos lançamentos na casa dos R$300,00 ou mais, um aumento nos impostos irá incentivar ainda mais a pirataria ou o contrabando, já que isso é muito caro para a realidade da maioria dos brasileiros.
Essa diminuição de arrecadação gerada por impostos abusivos é muito bem explicada cientificamente no conceito da Curva de Laffer, que podemos resumir dizendo que, quando um produto é muito caro, as pessoas comuns deixam de consumi-lo de forma oficial e com menos pessoas comprando de maneira lícita, menos imposto passa a ser arrecadado na somatória final.
Quanto aos serviços de assinatura como Game Pass, PS Plus e Nintendo Switch Online, que democratizaram o acesso aos games para muitas pessoas que não podem se dar ao luxo de ficar comprando jogos caros, uma nova taxação poderia causar um impacto que vai além do aumento de preços, com algumas empresas se vendo forçadas a removerem títulos do seu catálogo, ou em uma situação mais extrema, deixando até de ofertar o serviço no Brasil.
Quanto às demais citações absurdas na fala do presidente Lula, como: “Não tem jogo que fala de amor”, “Não tem game falando de educação”, “É game ensinando a molecada a matar”, ou mesmo a reclamação que ele faz de brasileiros estarem jogando com pessoas de outro país, como se isso fosse algo ruim, vale a pena aproveitar a oportunidade para destacarmos alguns jogos de franquias incríveis e de muito sucesso, que não são violentos.
01 – It Takes Two
It Takes Two é um jogo de amor, focado na história e na cooperação entre dois jogadores,. Um jogo relativamente recente e que recebeu a maior premiação que existe no mundo dos games, o The Game Awards de 2021, equivalente ao prêmio Oscar para a indústria de games.
02 – Dr. Mario World
Dr Mario World é um jogo mobile da Nintendo que mostra a importância da medicina e ressalta para o público infantil que, para vencer algumas doenças, é preciso tomar remédios e vacinas, mesmo que não seja algo agradável de se fazer.
O uso de games como ferramenta educacional ajuda no ensino e contribui o desenvolvimento da criança. Segundo o pesquisador Nelson Zagalo, professor de Portugal associado com Agregação na Universidade de Aveiro e Coordenador Científico do DigiMedia – Centro de Investigação de Media Digitais e Interacção: “os métodos de ensino, em sua maioria pouco interativos, não combinam com os anseios desta nova geração, acostumada com processos cada vez mais abertos e independentes de busca de informação. Apesar da grande maioria dos alunos se mostrarem favoráveis a utilização de jogos eletrónicos em sala de aula 83,1%, apenas uma pequena parcela dos professores (6,9%) já havia utilizado jogos de computador em sala de aula”.
Existem vários jogos educacionais, mas nesse caso eu fiz questão de citar um jogo da franquia Mario, que não tem nenhum jogo violento e por ser o mascote mais famoso e mais longevo da indústria dos games.
03 – Life is Strange 1 e 2
Life is Strange 1 e 2 são jogos focados estritamente na narrativa que abordam temas como amor, amizade e por se tratarem de games onde a escolha do jogador influencia diretamente no desenvolvimento da história, eles trazem a liberdade de decisões e exploram relações interpessoais e relacionamentos homossexuais, trazendo representatividade ao mundo dos games de uma maneira artística, com um enredo muito bem construído.
Vale lembrar que estes jogos foram recomendados sem nenhum tipo de patrocínio ou incentivo, são apenas poucos exemplos dentre vários outros de franquias de sucesso que se destacaram no mundo dos games sem o apelo da violência.
Este pensamento retrogrado de que jogos aumentam a violência, além de já ter sido refutado cientificamente ao longo dos anos por vários pesquisadores sérios, podem ser considerados um argumento que beira o ridículo, uma vez que o Japão que tem um dos maiores públicos de gamers do mundo, ser um dos países com menores índices de crimes violentos segundo a ONU e lá é onde estão situadas as duas maiores empresas de consoles de videogame do mundo, Sony Playstation e Nintendo.
E por último, mas não menos importante, os jogos, assim como os filmes, jogos possuem uma classificação etária que vem descrita na capa da mídia física ou na descrição do game no caso da mídia digital. É importante estar atento à esta classificação, pois existem jogos voltados para o público infantil e outros que não são recomendados, mas cabe aos pais e aos educadores decidirem se uma criança é madura o suficiente ou não para jogar determinado jogo e não ao Estado, que pelo visto, nem faz ideia de como são os jogos no mundo de hoje.