É uma surpresa mesmo uma sequência tão tardia, porém querida, ter ganhado uma continuação. Com toda certeza por causa dessa nova onda de falta de criatividade em Hollywood e basicamente eles se aproveitando de novo dos maiores sucessos de determinada época. A diferença aqui é a mão da direção, Tim Burton faz em boa medida a nostalgia com a bizarrice já conhecida, algo que estava faltando nos seus últimos quinze anos de trabalho. É uma prova da criatividade e esquisitice da maneira certa.
Retornamos à casa em Winter River, onde três gerações da família Deetz se unem após uma tragédia familiar inesperada. Lydia Deetz já é adulta e mãe da adolescente Astrid, que repentinamente descobre a misteriosa maquete da cidade no sótão e abre, sem querer, o portal para a vida após a morte, mais uma vez virando a vida da família Deetz de ponta-cabeça com o ressurgimento do extravagante fantasma Beetlejuice.
Talvez a cena que mais resuma a boa qualidade desse filme é a apresentação da Delores, a noiva cadáver do filme. É algo tão vivo de assistir, uma poesia combinando perfeitamente com a escolha musical, essa invenção de cada pedacinho dela ser encaixado, e claro acompanhando do charme da atriz. É interessante pensar que o diretor se aproxima mais do vivo quando ele trabalha com figuras literalmente mortas.
E sem qualquer medo, este filme parece causar uma impressão melhor do que o original. Talvez por causa de um ritmo mais bem calculado, e claro, ele possui essa confusão parecida com o primeiro, de trabalhar diversos núcleos ao mesmo tempo e as coisas vão acontecendo. Porém neste o sentimento de diversão é mais, o diretor faz uma cena envolvendo um bebê saindo da Wimona Ryder porque sim! E você vai se divertir com isto.
O personagem do Beetlejuice, ainda mais nos dias de hoje, parece esta mistura de aleatoriedade de O Máscara e a causar uma (boa) irritação a lá Deadpool. Michael Keaton tem muito mais destaque nesse novo longa, as escolhas de grande parte das cenas de humor e bizarrice são bem acertadas. Tal qual a cena rápida do personagem cantando Richard Marx- Right Here Waiting fica bem inesquecível quando surgida praticamente do nada, nossa cara é idêntica a de Wimona Ryder. Essa brincadeira de antes vilão, agora ajudando nossa mocinha com um problema maior ainda é clichê, mas funciona de uma maneira cômica e criativa. A decisão de se utilizar de efeitos práticos na maior parte do tempo é completamente acertada.
E se fixando na criatividade, o longa faz boa sacadas quanto o destino do personagem Charles, interpretado por Jeffrey Jones, o ator foi acusado e condenado dado diversos crimes em 2002. Com isso, o filme tem soluções bem criativas para inserir o personagem na história sem usar o ator, desde uma rápida cena em animação para nos contar sua morte ou a ideia dele passar o filme com o corpo pela metade dado a mordida do tubarão. É algo bem criativo e combina com toda essa inventividade da obra, deixando de lado talvez possíveis ideias de inteligência artificial.
É fato que um filme com vários núcleos, por mais caótico que seja e combine com o filme, pode parecer vazio com alguns personagens. A já elogiada Mônica Bellucci, por mais que esteja bem, sua história não acrescenta tanto na trama em si. Temos o grande clímax ao seu final, reunindo todos os personagens, porém o impacto dela não é sentido e a resolução é bastante fácil, apesar de visualmente bonita. Por outro lado temos William Defoe sendo um dos destaques ao interpretar um ator morto fingindo ser policial, e é tão visível a diversão do mesmo, ele está adorando tudo aquilo.
Falando do desfecho final, a cena é bonita e remete uma boa reciclagem e homenagem a icônica cena do jantar do primeiro filme. Os personagens cantando e sendo controlados pelo Beetlejuice, é algo bonitinho e bonito de acompanhar, porém mais se trata de uma pegada firme na nostalgia com o público do que uma real festa de criatividade.
E Tim Burton entendeu no que ele é bom mesmo. É divertir e trazer diversas bizarrices na tela. É colocar um trem ao som de música do anos 70 e diversas pessoas dançando rumo ao além e desconhecido. É monstro ali e aqui, humor em boa medida e loucura atrás de loucura até não queremos mais questionar apenas se entreter.