Para abrir o mês de outubro, trazemos no Sábado de Clássicos de hoje três indicações de filmes que trabalham o gênero do horror de formas diversas, com comentários de nossa equipe. Confira:
Suspiria (Dario Argento, 1977)
Sinopse: Suzy Bannion, estudante estadunidense de balé, chega a uma conceituada academia alemã que a aceitara para aprofundar seus estudos, mas logo se dá conta de que a escola esconde mistérios por trás de suas paredes.
Comentário: Mais investido na criação de uma atmosfera do que na exposição concatenada de sua história, Suspiria talvez seja o exercício estético mais radical de Dario Argento. O diretor parte da estruturação fabular estabelecida desde seus primeiros momentos – a narração em off e a distorção expressiva das cores em ambientes banais como um aeroporto ou o interior de um táxi já indicam a abordagem distanciada do realismo – para explorar ao máximo as possibilidades oferecidas pelo espaço em que se passa a ação, construindo sua versão de castelo dos horrores e levando sua protagonista a passear por ele. Trata-se de um experimento pictórico extremo, pautado pelo impacto sensorial antes de qualquer coisa. O manejo das cores primárias e sons por Argento – desde sussurros pelos corredores da instituição até a vibrante e essencial trilha sonora composta pela banda de rock progressivo Goblin – constroem a aura de pesadelo/devaneio que impregna a obra e atinge o espectador de maneira frontal tanto pela mera sugestão como pela exposição em si do horror.
(Comentário de Felipe Lima)
Filme disponível no Amazon Prime Video
Halloween: A Noite do Terror (John Carpenter, 1978)
Sinopse: Um maníaco retorna a sua cidade natal para continuar o terror que ele começou há quinze anos.
Comentário: De impacto cultural estendido até os dias de hoje, o brilhantismo do filme de Carpenter reside em sua simplicidade. Estruturado como um slasher típico – assassino em série sem motivação aparente, artefato cortante como arma, final girl etc. –, a virtude de Halloween é ser capaz de encapsular, sem maiores digressões temáticas, a angústia de um terror suburbano que é tão disforme e insólito como é físico e concreto. A partir do uso dos planos em perspectiva de primeira pessoa o diretor dota seu filme de um ar quase fantasmagórico/onipresente de constante espreita. A atração do jogo proposto por Carpenter na maior parte da projeção está, fundamentalmente, nas implicações dessa dialética entre a identificação com a câmera em si e a identificação com a perspectiva do algoz – e nas possíveis subversões desse olhar. Mas Halloween não trabalha apenas pela sugestão. Quando embarca na ação concreta, o filme expõe Michael Meyers – o assassino – com uma fisicalidade sobre-humana, como uma ameaça inevitável e intangível que está destinada a se manter de pé e repetir seu procedimento. O ciclo do horror, no filme de Carpenter, mora tanto no olhar que sonda como no corpo que se impõe sobre a protagonista.
(Comentário de Felipe Lima)
Filme disponível na Netflix
Arraste-me para o Inferno (Sam Raimi, 2009)
Sinopse: A vida de uma bancária começa a mudar quando, para impressionar seu chefe, ela nega o pedido de prorrogação do prazo de pagamento das prestações da casa de uma idosa.
Comentário: Muito antes da celebração como o diretor da grande trilogia Homem-Aranha, Sam Raimi era especialista no terror trash, franco e criativo que se pode conceber com quase nada de dinheiro. Seus dois Evil Dead – clássicos-cult lançados respectivamente em 1981 e 1987 – seriam a mais perfeita definição de diversão no cinema de horror se não houvesse essa joia muito elogiada em 2009 mas que é, hoje, muito menos comentada do que merecia. Arraste-me para o Inferno dificilmente seria feito ou mesmo prestigiado em tempos de “horror de bom gosto” e de pretensões elitistas. Suas set-pieces são absurdas, hilárias, cartunescas – e feitas com uma convicção invejável. Raimi, então com todos os recursos da indústria que lhe careciam no começo da carreira, recobra toda sua veia camp para contar uma história que, apesar dos excessos, possui construção de personagem e dilemas morais um bocado mais complexos do que aparentam. Além de uma das cenas finais mais memoravelmente desconcertantes da história do gênero.
(Comentário de André Guerra)