qui, 27 novembro 2025

Crítica | Stranger Things 5 Volume 1: O Começo do Fim é Sombrio

Publicidade

Assistir a este primeiro volume da temporada final de Stranger Things foi uma experiência profundamente nostálgica e, ao mesmo tempo, estranhamente melancólica. Esperei por esse retorno como quem espera o reencontro com velhos amigos, mas a Hawkins que encontramos é uma cidade à beira do colapso, e esse tom diz tudo sobre a missão dos irmãos Duffer aqui: não há espaço para a inocência desbravadora de 2016. O que temos é um acerto de contas visceral, e a produção técnica – da fotografia à edição – é a primeira a gritar isso, enquanto os personagens secundários finalmente recebem o peso narrativo que merecem.

Desde o primeiro episódio, “The Crawl“, a fotografia abraça uma paleta de cores terrosa e esmaecida. Os verdes vibrantes e os laranjas quentes que pintavam as aventuras de verão dos meninos deram lugar a um cinza-azulado opressivo. Não é mais o medo do desconhecido, mas a certeza da tragédia. A luz, quando existe, é rasante, criando sombras longas e dramáticas que parecem consumir os personagens.

Esta escolha visual não é apenas estética; é narrativa. Ela nos conecta diretamente com o trauma silencioso de Will Byers. Lembram-se daquelas cenas na primeira temporada, em que a escuridão na casa dos Byers parecia viva? Ela voltou, mas agora não está confinada a um lar, está impregnada em toda Hawkins. A fotografia, assim, funciona como um personagem, externalizando o estado psicológico de um grupo que carrega o peso de todas as batalhas passadas.

Publicidade

Uma das escolhas mais acertadas desta primeira parte foi a decisão de deixar a história respirar. A edição não tem pressa para chegar aos jump scares ou às sequências de ação. Pelo contrário, ela se deleita em momentos de quietude que são, em sua maioria, protagonizados pelo elenco de apoio.

É nesses silêncios editados que o verdadeiro horror mora. Eles nos forçam a confrontar o custo emocional de tudo que aconteceu. A série, que em temporadas passadas às vezes pecava pelo excesso de plotlines (aaaa os russos….), aqui demonstra uma maturidade impressionante ao integrar as tramas secundárias ao núcleo do conflito.

Este volume acerta em cheio ao não tratar ninguém como descartável. As tramas dos personagens secundários não são mais linhas paralelas; elas se fundem ao tecido principal da narrativa, dando profundidade à ameaça final.

Publicidade

Will finalmente deixa de ser a “vítima” para se tornar o profeta. Sua conexão traumática com o Mundo Invertido é a bússola do grupo. Sua quietude não é mais passividade, mas uma escuta ativa da escuridão. A trama dele é sobre aceitar que sua dor única é a chave para salvar todos, uma redenção poderosa para o personagem que deu início a tudo.

Enquanto o grupo se prepara para a guerra, Lucas vive seu conflito íntimo. Sua tentativa desesperada de manter uma vida normal com Max em coma é um dos arcos mais comoventes. Ele representa todos que não são super-heróis ou detetives, mas apenas pessoas tentando segurar os pedaços de um mundo quebrado. Sua cena no hospital, lendo para Max, é um soco no estômago emocional que rivaliza com qualquer batalha contra o Vecna.

A dinâmica entre eles é carregada do peso das temporadas passadas e da iminência do fim. Jonathan, especialmente, tem seu momento de brilho. Longe de ser apenas o “irmão mais velho” ou o “namorado”, vemos um jovem adulto assombrado pelas responsabilidades e pelas próprias escolhas. Sua trama com Argyle, ainda que com momentos de alívio cômico, é tingida de uma melancolia adulta que contrasta com a missão determinada de Nancy, mostrando como o trauma afetou cada um de forma diferente.

Os episódios 2 e 3 são um exercício magistral em tecer a mitologia da série com o desenvolvimento dos personagens. Cenas que revisitam a história de Vecna são editadas de forma a ecoar os medos atuais de todo o grupo, não apenas da Eleven.

Publicidade

A sequência do quarto episódio, em que o terror finalmente se espalha por Hawkins, é a culminação perfeita desse trabalho. A edição alterna entre os pontos de vista do grupo principal e dos secundários com uma urgência crescente. Ver Lucas protegendo Max, Jonathan e Argyle tentando ajudar na logística, e Will sentindo a chegada da tempestade, cria um mosaico de pânico que é profundamente eficaz. Mostra que a batalha não é de um herói, mas de uma comunidade de almas quebradas se unindo.

O que Stranger Things 5: Volume 1 entrega, acima de tudo, é a confiança de uma série que entende seu legado. A fotografia sombria, a edição paciente e as cenas carregadas de subtexto emocional não servem apenas para entreter; servem para fechar um ciclo. E esse ciclo é fechado com a honra devida a personagens como Will, Lucas e Jonathan, cujas jornadas pessoais são tão cruciais para o desfecho quanto o poder da Eleven.

Essa primeira parte é uma prévia sombria e necessária, que resgata a alma claustrofóbica e pessoal dos primeiros dias em Hawkins, mas vista através das lentes cansadas e traumatizadas de todos os seus heróis, sejam estes principais ou secundários. Se os episódios finais mantiverem essa coerência entre forma, conteúdo e desenvolvimento de elenco, teremos não apenas um final satisfatório, mas uma das conclusões mais emocionalmente ressonantes da televisão moderna.

O fim está chegando, e ele é tão doloroso, coletivo e pessoal quanto deveria ser.

Publicidade

Publicidade

Destaque

Crítica | Zootopia 2

Em Zootopia 2, Judy Hopps e Nick Wilde, agora parceiros inseparáveis,...

Crítica | Stranger Things 5 Volume 1: O Começo do Fim é Sombrio

Assistir a este primeiro volume da temporada final de Stranger...
Uillian Magela
Uillian Magelahttps://estacaonerd.com
Co-Fundador do Estação Nerd. Palestrante, empreendedor e sith! No momento, criando meu sabre de luz para cortar a lua ao meio. A, SEMPRE escolha a pílula azul. Não faça como eu!
Assistir a este primeiro volume da temporada final de Stranger Things foi uma experiência profundamente nostálgica e, ao mesmo tempo, estranhamente melancólica. Esperei por esse retorno como quem espera o reencontro com velhos amigos, mas a Hawkins que encontramos é uma cidade à beira do colapso,...Crítica | Stranger Things 5 Volume 1: O Começo do Fim é Sombrio