Os Titãs formam um grupo indescritível. Em 38 anos, surpreendem a cada lançamento – nos 15 álbuns de estúdio anteriores gabaritaram os gêneros (do new wave ao punk), tiveram todo tipo de formação (do trio ao octeto), e em todas ocasiões se recusaram ao conforto de uma estrada conhecida. Não poderia ser diferente agora, no projeto “Titãs Trio Acústico”, que lançam com o primeiro de três EPs.
A formação traz Branco Mello, Sergio Britto e Tony Bellotto. Os três se revezam nos vocais, enquanto Britto assume piano ou baixo, Branco, baixo ou violão, e Tony, violão, violão de 12 cordas ou guitarra acústica. Titãs Trio Acústico EP 01, já disponível nas plataformas digitais, traz novas versões para “Sonífera Ilha”, “Porque Eu Sei Que é Amor”, “Isso”, “O Pulso”, “Miséria”, “Tô Cansado”, “Querem Meu Sangue” e “Família”.
O registro era para ter marcado a efeméride de 20 anos do lendário “Acústico MTV”, só que o seria se fosse lançado em 2017. Mas na época eles estavam focados na composição e lançamento da primeira ópera-rock escrita e composta por uma banda no país, “Doze Flores Amarelas”. Só um reforço de que não dá para esperar lugar-comum da banda.
“Nós marcamos, então, quatro shows em teatros (neste formato acústico), e o resultado foi tão impactante que virou uma turnê. Quando vimos o material que tínhamos, resolvemos entrar estúdio para gravar”, diz Branco Mello.
Neste “Trio Acústico – EP01”, o desafio foi recriar canções com o mínimo de elementos, já que nem no acústico de 23 anos atrás fizeram essa economia. Algumas ganharam versões onde um deles somente a conduz em voz e algum instrumento.
A escolha do repertório, aliás, é outro ponto de atenção no trabalho, já que mais uma vez encararam o desafio de desnudar as canções seja qual fosse a complexidade de elementos no registro original.
“Fazer de maneira diferente é algo intrínseco nos Titãs. Nosso desafio é sempre sermos diferentes do trabalho anterior. Temos que surpreender a nós mesmos”, diz Tony Bellotto.
“Trio Acústico – EP01” começa com “Sonífera Ilha”, que é o primeiro single e data do disco de estreia da banda, de 1984. Aqui, ela viaja para um ska essencial, com piano, baixo, guitarra acústica e um acento percussivo ganhando uma despretensão como se tivesse sido composta na semana passada.
“O clipe (desta versão) é como se fosse um retrato emocional desses 38 anos de carreira. Com direito a participações especialíssimas de pessoas queridas, que amamos e admiramos. É como se estivéssemos fechando mais um ciclo, relançando o nosso primeiro single totalmente repaginado”, conta Sérgio Britto.
Na sequência, “Porque Eu Sei que é Amor” encaixa como se ganhasse uma versão R´n´B/soul dos Temptations. A balada, aliás, é de 2009, posterior ao primeiro acústico.
“Isso” igualmente é futura ao especial da MTV – é de 2001 -, mantém certo tom da original e traz uma dramaticidade ainda maior do que foi gravada no trabalho mais sensível do conjunto, “A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana”, quando perderam o guitarrista Marcelo Frommer. Marca também a estreia de Tony Bellotto como vocalista na banda.
O desafio inovador a que o guitarrista se referiu, aliás, é explícito na sequência, com duas do álbum inventivo de 1989, em que mesclaram o rock a programações eletrônicas, “Õ Blésq Blom”. “O Pulso” e “Miséria” mostram porque desde suas primeiras versões sinalizaram para onde a música brasileira apontaria nos anos seguintes, com a explosão de mangue beat e Cia.
É também uma abertura para as performances quase solo de “Trio Acústico – EP01”. “Miséria” é conduzida em piano e voz por Sérgio Britto, além de percussão, “Tô Cansado” é levada por Branco Mello no vocal e violão e Tony empunha guitarra e novamente microfone em “Querem Meu Sangue”.
Do raivoso “Cabeça Dinossauro”, de 1986, vem “Família”, que fecha o primeiro EP, na vibe reggae/ska daquela gravação e tocada por quinteto – com o acréscimo de Mario Fabre na bateria e Beto Lee no violão.
E a única coisa que dá para adiantar para o próximo é que os fãs não devem esperar a mesma coisa.