O cineasta Walter Salles foi homenageado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, com o Luminary Award, premiação concedida a artistas cujas contribuições transcendem as possibilidades criativas da produção cinematográfica. A homenagem marca mais uma vez o reconhecimento da Academia sobre a obra de Salles: recebeu duas indicações por “Central do Brasil”, em 1999, incluindo a de Melhor atriz para Fernanda Montenegro; conquistou o Oscar de Melhor Canção Original em 2005 para “Al Otro Lado del Río”, de Jorge Drexler, parte da trilha sonora de “Diários de Motocicleta” e venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional com “Ainda Estou Aqui”, que conquistou 65 prêmios e foi lançado nos cinemas de 98 países com um público total de mais 8,5 milhões de espectadores. “Ainda Estou Aqui” é produzido pela VideoFilmes e RT Features. O filme é um Original Globoplay, em coprodução com Conspiração, Arte France Cinéma e Mact Productions.
A cerimônia de premiação (fotos de divulgação no link) do 2025 Academy Museum Gala, foi realizada ontem e teve como objetivo arrecadar fundos para as iniciativas educacionais e culturais do Museu da Academia do Oscar, em Los Angeles. Além de Salles, também receberam homenagens a atriz Penélope Cruz (com o Icon Award), o cantor Bruce Springsteen que recebeu o Legacy Award, criado este ano e o comediante Bowen Yang (Saturday Night Live), ganhou o Vantage Award. O cineasta Wim Wenders entregou o prêmio para Walter Salles, que agradeceu ao diretor no seu discurso.
“Wim, não tenho palavras suficientes para agradecer a tua generosidade. Você é um dos cineastas que me levaram ao cinema. Como você, eu me apaixonei perdidamente pelo cinema graças a Michelangelo Antonioni. Aos 15 anos, entrei numa sala de cinema para assistir “Passageiro, Profissão Repórter”. Fui atravessado por uma emoção que nunca tinha sentido antes. Antonioni me fez compreender o que eram o tempo e o espaço no cinema. Wim aprofundou essa percepção com a humanidade radical de seus filmes. Nelson Pereira dos Santos me fez descobrir o meu próprio país. Antonioni foi o pai, Wim o coração, Nelson a alma.”
No seu agradecimento também falou da sua ligação com os outros homenageados: “É um presente estar nesta sala esta noite. Vi tantas pessoas aqui que admiro, pessoas que, em algum momento de suas vidas, também se apaixonaram pelo cinema. Sinto-me honrado de fazer parte deste grupo que está sendo reconhecido. Penélope Cruz me encantou desde seus primeiros filmes — que atriz sublime. E devo confessar: estou sob o feitiço de Bowen desde que o vi interpretando, sim, o iceberg que afundou o Titanic em Saturday Night Live.”
E continuou destacando algumas pessoas do cinema que fazem parte da sua trajetória como realizador: “Em um momento em que o futuro parece tão frágil, quero agradecer a todos por criarem filmes que revelam o quanto nós somos complexos. Obrigado por não cederem. O humano e a empatia, como disse Wim, são mais vitais do que nunca. Algumas palavras sobre pessoas sem as quais eu não estaria aqui. Obrigado, Robert Redford, por apoiar Central do Brasil no Sundance Institute e por me convidar a dirigir Diários de Motocicleta, uma aventura transformadora que eu não teria ousado realizar sem vc. Obrigado por sua integridade pública e artística, por ter abraçado com paixão as causas sociais em que acreditava. Obrigado por ter impactado de tal forma o cinema independente. E finalmente, “Obrigado às extraordinárias Fernanda Montenegro e Fernanda Torres e a todos os atores incríveis com quem tive o privilégio de colaborar e aprender.
E finalizou citando sua admiração pelas cinematecas na preservação da memória do cinema. “Quero terminar agradecendo ao Museu da Academia pelo trabalho que realiza. Museus e cinematecas são guardiões da memória coletiva do mundo. Os filmes projetados neste Museu são um prolongamento das pinturas rupestres de Lascaux, Altamira ou Serra da Capivara, no Brasil. Uma extensão de um desejo vital: o de deixar um reflexo de quem fomos em um determinado momento de nossa existência. Para sabermos de onde viemos, quem somos e para onde queremos ir. Eu venho de um país onde a nossa Cinemateca — que já foi considerada uma das melhores do mundo — foi fechada por um regime autoritário. Foi preciso um incêndio catastrófico e longas negociações para que ela fosse reaberta. O apoio das cinematecas do mundo inteiro, assim como o apoio de mestres como Martin Scorsese, foram fundamentais nesse momento. Obrigado a todos que tornaram essa reabertura possível. Juntos, somos muito mais fortes. Como dizemos no Brasil: a única luta que se perde é aquela que se abandona — ou que nunca se trava.”