sex, 22 novembro 2024

Crítica | Certas Pessoas

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Jonah Hill é um ator com uma carreira já consolidada nas suas comédias das últimas duas décadas. O ator consegue ter um alcance singular no humor de vergonha alheia em que o mesmo atua ou até escreve. Agora, na sua nova estreia da Netflix, “Certas Pessoas”, Hill co-escreveu com o criador de Black-ish, Kenya Barris, uma comédia romântica que tenta abordar temas mais profundos e sociais sem querer perder o charme situacional.

“Certas Pessoas” tem como seu personagem principal Ezra, vivido por Hill, um judeu solitário nos seus 35 anos preso em um emprego no mundo de finanças que odeia. Sua vida de frustrações muda quando ele conhece Amira, encarnada por Lauren London, uma mulher preta que trabalha como estilista. Superando um primeiro encontro inusitado, os dois se aproximam e descobrem que realmente gostam um do outro. Em questão de algumas transições eles estão completamente apaixonados.

A relação de Ezra e Amira é fofa pra dizer o mínimo. As interações entre Hill e London transmitem uma química engajante que convence o espectador que aqueles dois realmente estão felizes um do lado do outro. Tanto Ezra quanto Amira demonstram um companheirismo um com o outro que nos conecta e emociona. O conflito maior do filme se inicia após o relacionamento dos dois estar estabelecido. O pai de Amira, Akbar, vivido por Eddie Murphy, o vê como totalmente inadequado para sua filha. 

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Murphy como Akbar é convincente e conecta o espectador com seu personagem, ainda que o mesmo seja uma figura que com um porte mais distante. Infelizmente o filme tenta estabelecer um paralelo entre os dois pares de pais que não soa natural. Os pais de Ezra ao conhecerem Amira se esforçam para deixar claro da maneira mais desconfortável possível que eles não são racistas. As declarações dos dois acabam deixando passar o racismo velado na família, mas mesmo com isso eles não deixam de apoiar o casal. 

Ao contrário dos pais de Ezra, Akbar está simplesmente se comportando como um ser humano horrível, tentando sabotar o casal das maneiras mais mesquinhas possíveis, mas de alguma forma devemos atribuir seu comportamento a diferenças culturais. As ações de Murphy contrariam a persona do personagem. Enquanto as da mãe de Ezra são situações desconfortáveis pra dizer o mínimo mas nunca beiram a afetar propositalmente.

Certas Pessoas tenta criar um argumento em cima de relações raciais dentro dos Estados Unidos, mas acaba caindo na armadilha das tropes de comédias românticas. Em vários momentos do filme Akbar deixa de lado a figura sábia e age como o previsível sogro que odeia o protagonista em filmes do gênero. É algo frustrante e comum em produções da Netflix trazer obras com premissas e temas interessantes e estimulantes a serem aprofundados para serem cobertos de tropes que não encaixam de forma alguma na trama que foi estabelecida nos primeiros 30 minutos de longa. 

No fim, o filme entrega um humor situacional engajante mas na hora de discutir os temas que se propõe, se embola nos próprios argumento e para criar uma conclusão “satisfatória”. “Certas Pessoas” apela para tropes conhecidas que não se encaixam na trama pré-estabelecida e assim retira o potencial de se tornar uma sátira engraçada para ser apenas mais um título medíocre no catálogo do streaming. 

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