dom, 22 dezembro 2024

Crítica | Seus Ossos e Seus Olhos

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Em Seus Ossos e Seus Olhos, o cineasta de classe média João (Caetano Gotardo) está habituado a passar por uma série de encontros e desencontros durante sua rotina. Desde relacionamentos mais habituais e simples como Irene (Malu Galli), uma amiga de longa data, até seu namorado Álvaro (Vinicius Meloni) e seu companheiro casual Matias (Carlos Escher). Tudo o que ele vive eventualmente se converte em inspiração e criatividade, gerando também uma série de reflexões pessoais.

Diálogos capacitadamente trabalhados, conduzidos de forma precisa que saiba também deixar audível palavras incapazes de serem ditas, são o principal sustento do drama nacional “Seus Ossos e Seus Olhos”, realizado e lançado em meados de 2019, que passa a ter um sentido ainda maior nessa era de encontros e reencontros pós-pandemia da Covid-19. Se a produção de Caetano Gotardo almejava impactar o público com uma narrativa poética de como relações acontecem e fluem, agora ela está ainda mais enriquecida, tornando “Seus Ossos” uma obra atual e verdadeira, apesar de suas visíveis licenças poéticas e até brincadeiras com a metalinguagem.

O roteiro de Seus Ossos e Seus Olhos, também assinado por Caetano Gotardo, permite a trama de desvincular de uma narrativa decidida em manter uma estrutura unicamente voltada para acompanar as memórias de seus personagens e suas relações para um catártico momento em que se prova sinuosa e até imprevisível. Gotardo, um artista nato em tudo que realiza na sua produção, desde a escrita, direção e performance, é assertivo em construir sua trama com crônicas cotidianas como base, tendo também evidentes inspirações no cinema europeu e no teatro. Destacam-se os inúmeros planos sequência do filme, ensaiados e conduzidos com total esmero, favorecendo diálogos e as emoções de seus atores em cena.

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As longas sequências que exibem histórias cotidianas contadas pelos personagens, ou até mesmo cenas performáticas – que ora servem como uma interessante transição de tempo, ora se tornam massivas por estarem em excesso na trama e com a visível pretensão de preencher espaços vazios para completar a metragem do filme -, predominam Seus Ossos e Seus Olhos. Há poesia, beleza, tristeza, além de variadas intensões e associações literárias e filosíficas em suas respectivas realizações, mesmo que esses planos atribuam ao longa um ritmo lento e difícil de se acompanhar, principalmente para o público desacostumado com produções movidas pelo diálogo e acontecimentos rotineiros. Também não se pode deixar de notar alguns problemas técnicos, como o som abafado e, por vezes, inaudível, além da baixa qualidade gráfica de algumas câmeras utilizadas, o que felizmente não chega a prejudicar o longa de forma tão grave.

O protagonista João, de Gotardo, se move através de lembranças, pensamentos futuros e interações presentes com os ótimos personagens Irene (Malu Galli), sua melhor amiga, Álvaro (Vinicius Meloni), diretor de teatro e namorado, e Matias (Carlos Escher), seu companheiro casual. Todos os co-protagobistas possuem algo a dizer, sendo dito de maneira emotiva e que desperta o interesse e a imaginação do expectador.

Arrastado em alguns momentos, mas coerente no início, meio e fim (pelo menos para quem se permite ter acesso ao sentido da obra), Seus Ossos e Seus Olhos é, de fato, um belo estudo sobre relações, encontros e desencontros da vida.

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