Desaparecida é o novo projeto dos criadores de Buscando… (2018), dessa vez acompanhamos a saga da jovem June (Storm Reid – “O Homem Invisível”) em busca de sua mãe que desapareceu misteriosamente enquanto fazia uma viagem com seu novo namorado, durante as buscas a garota descobrirá segredos escondidos sobre seu passado.
Ambos os filmes se passam no mesmo universo, inclusive os acontecimentos de “Buscando…” chegam a ser referenciados logo no início da trama. O filme de 2023 tenta replicar os acertos de seu predecessor, sem lograr tanto êxito, isso porque se no primeiro o formato desktop – no qual acompanhamos o desenrolar da trama por meio de uma tela, geralmente de notebook ou celular – é utilizado de forma orgânica, no segundo essa opção parece arbitrária e soa forçada.

Há momentos em que a protagonista sequer está usando seu computador, mas ainda assim o filme acontece por lá, ou seja, não estamos recebendo as mesmas pistas que a jovem encarregada de solucionar o mistério, porque existe essa necessidade dos realizadores de seguir o mesmo modelo adotado anteriormente.
Isso é devido ao fato de que se não pudesse se valer da estratégia de marketing surfando na onda de um filme que já deu certo anteriormente, esse novo não teria nada a oferecer e dificilmente atrairia a atenção do público, já que o desenvolvimento da narrativa é um tanto quanto simplório e tampouco há qualquer virtuosismo técnico.
Mas o que faltou perceber foi que o primeiro filme não era bom apenas por se enquadrar no subgênero desktop, mas sim porque elaborava bem sua trama de mistério, com um bom sistema de pistas e recompensas, incentivando o espectador a tentar solucionar o caso junto com o protagonista.
E esse é outro problema de “Desaparecida”, não há qualquer progressão do mistério e quando o filme está se encaminhando para o final as respostas simplesmente caem subitamente no colo da personagem principal. Explico melhor, não é o descobrimento de uma pista, que leva a outra pista e assim sucessivamente, é uma hora e vinte sem nenhum progresso para tudo ser desvendado abruptamente nos últimos minutos, simplesmente porque o filme precisa acabar.
Não há nada de errado em guardar a grande revelação para o desfecho do longa, o problema é a falta de uma cadeia de eventos que levem logicamente àquela conclusão.
Para tentar deixar a experiência menos morna os diretores e roteiristas optam por uma chuva de plot twists que servem apenas para causar espanto, é o choque pelo choque, mais uma vez, o filme não sente a necessidade de se desenvolver, basta surpreender e pronto, isso é o suficiente.

Outra tendência atualmente é a “obrigatoriedade” de se fazer um comentário social – na maioria das vezes, da forma mais rasa e sem nenhuma sutileza – para se manter relevante, e outra vez repito, sem qualquer desenvolvimento do assunto, basta que a crítica seja abordada. É a preocupação excessiva com a temática, sem o devido cuidado com a forma. O filme não acredita no potencial daquilo que realmente funciona em sua premissa: o desaparecimento de uma mulher e o desespero de sua filha tentando encontrá-la. E perde forças por não apostar justamente no que seria interessante, ao invés, prefere se enfeitar com firulas desnecessárias que não acrescentam a trama e em nada somam para a experiência final.
Talvez se existisse um cuidado maior em trabalhar o mistério – como foi feito no primeiro filme – teríamos em mãos uma grande sequência, no entanto é preciso julgar uma obra pelo que ela é e não pelo que poderia ter sido e, infelizmente, esse não é grande coisa.