dom, 19 maio 2024

Crítica | Você não tá convidada pro meu Bat Mitzvá

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O cinema “coming of age” é um subgênero cinematográfico que se dedica a explorar as experiências dos jovens durante a transição da adolescência para a idade adulta, ou seja, o processo de amadurecimento. Este estilo tem como objetivo capturar a complexa jornada de crescimento emocional, físico e psicológico que os adolescentes enfrentam nesse período crucial de suas vidas. Suas histórias frequentemente se concentram em temas como identidade, amor, amizade, família e a busca por pertencer em alguma coisa e o seu lugar no mundo. O “coming of age”, na maioria das vezes, segue dois caminhos: o drama e a comédia. No primeiro, concentramo-nos na dor, na melancolia e na constante sensação de que o mundo não os entende. No segundo, temos uma perspectiva complexa, porém mais leve, buscando os momentos mais engraçados e constrangedores dessa fase.

Ademais, as relações interpessoais desempenham um papel fundamental nas tramas dos filmes de “coming of age”, os personagens interagem com amigos, familiares e figuras de autoridade, e essas interações desempenham um papel crucial em seu desenvolvimento e na construção da narrativa. A ambiguidade moral é outra característica comum nesse subgênero, onde essas narrativas frequentemente exploram situações moralmente complexas, forçando os protagonistas a tomar decisões difíceis e a enfrentar as consequências de suas ações.

Assim, apresentamos “Você não tá convidada pro meu Bat Mitzvá”, um filme que narra a história de Stacy (Sunny Sandler) e Lydia (Samantha Lorraine), amigas inseparáveis de longa data. Elas dedicam seus dias à meticulosa preparação de suas festas de bat mitzvá, uma cerimônia judaica que simboliza a passagem para a maioridade e que ocorre quando as garotas completam 12 anos. Enquanto têm diversas ideias para tornar esse rito de passagem verdadeiramente épico, as jovens não podem prever que Andy Goldfarb (Dylan Hoffman), o garoto mais atraente e popular da escola, iria se envolver no meio da situação e criar um autêntico drama adolescente entre as amigas. Esse desdobramento inesperado transforma-as em rivais na busca pela realização da festa de bat mitzvá mais grandiosa da temporada.

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Embora “Você não está convidada para o meu Bat Mitzvá” adote uma abordagem claramente algorítmica, caracterizada por uma estrutura narrativa episódica que se assemelha às séries produzidas pela Netflix, ele consegue, de forma notável, preservar e incorporar os elementos tradicionais da comédia “coming of age”, o que, em si, é um ponto altamente positivo. O problema não se resume apenas à algoritmização, mas sim à capacidade de trabalhar com ela, o que, de certa forma, o filme consegue fazer. Sendo assim, o longa dirigido por Sammi Cohen (conhecido por “Crush”) retoma em mais um filme sobre a adolescência e diferentemente do seu antecessor “Crush”, aqui ele estabelece muito bem o humor leve e juvenil.

Divulgação Netflix

De fato, a juventude desempenha um papel central neste filme, tanto no desenvolvimento dos personagens quanto no tom humorístico. Toda a trama gira em torno dos adolescentes, em especial Stacy e Lydia, explorando suas vivências, desejos amorosos, conflitos “insignificantes” e, é claro, a abundância de referências da cultura da internet. O aspecto mais fascinante reside na abordagem contemporânea da adolescência, especialmente considerando como essa fase está profundamente ligada aos avanços sociais e tecnológicos. É notável como Cohen conduz o humor por meio desses elementos — as gírias peculiares, os comportamentos, e, acima de tudo, o impacto que a tela de um celular exerce sobre esses jovens são incrivelmente divertidas. Todas as características clássicas do subgênero estão presentes: a busca pela popularidade, o desejo de organizar a festa perfeita e a ânsia de conquistar o rapaz mais atraente da escola, entre outros. No entanto, há um adicional da era moderna: a internet e as redes sociais, que se tornaram uma extensão essencial da vida desses jovens. O humor, assim, é gerado a partir desses elementos tão contemporâneos. Entretanto, a mise-en-scène “contemporânea” não se restringe apenas a isso; o filme é “hiperestilizado”, com cores vibrantes e até mesmo estímulos visuais que são emblemáticos do cinema juvenil atual, ou seja, daquele que adota a “estética do TikTok”. Embora esse estilo pessoalmente não me agrade, acredito que ele se integra de forma coerente com toda a proposta “moderna” desses adolescentes.

Discutir a adolescência sempre me interessou profundamente, dada a complexidade inerente a essa fase. Logo, aprecio a maneira como o filme retrata com empatia e humor a experiência de ser adolescente. O método como Sammi decupa as cenas mais pessoais é de uma sensibilidade agradável de se ver na tela. Ele, portanto, confere à sua mise-en-scène muita ternura, alegria e nenhum tipo de julgamento. A atuação de Sunny Sandler é admirável, pois ela captura de forma precisa o olhar perdido de um jovem que se observa no espelho, mas não consegue enxergar-se. Ao mesmo tempo, ela consegue infundir esse olhar com uma esperança característica dos adolescentes — o medo, a crise de identidade e, ao mesmo tempo, a empolgação pelo futuro.

Sammi Cohen, além disso, explora a moralidade desses jovens, não é por acaso que os conflitos surgem de ações que poderíamos classificar como imorais, como a exposição da intimidade. Stacy age impulsivamente, sem pensar antes de agir, o que mostra o quão comum é a instabilidade emocional na adolescência. Dessa forma, torna-se fundamental a abordagem leve do diretor na construção da narrativa, fazendo com que esses elementos absurdos e amorais não nos causem raiva, mas sim compaixão ou identificação. Afinal, quem nunca cometeu um erro ou magoou alguém devido a uma atitude imatura? Cohen cria um filme que diverte, inspira, ensina e relata com carinho e sensibilidade a complexidade de crescer.

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Caique Henry
Caique Henryhttp://estacaonerd.com
E aí, galera! Eu sou o Caique Henry, um amante da arte que adora dar uns pitacos sobre cinema. Loucamente apaixonado pelo cinema de gênero, posso ser considerado o crítico de cinema mais legal do país.
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