
A Marvel Studios não vem tendo bons resultados de bilheteria e opinião sobre a maioria dos seus lançamentos, que pertencem a fase 4 e 5 do MCU. Filmes como Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania e Thor: Amor & Trovão deixaram o público com um pé atrás com o estúdio. Já produções como Deadpool & Wolverine e Guardiões da Galáxia: Volume 3 trouxeram esperança da retomada por dias melhores. Cercado de incertezas chega aos cinemas Thunderbolts*, filme que conta a história de uma equipe de anti-heróis recrutada para uma missão perigosa.
É inegável que a premissa de Thunderbolts* é muito parecida (leia igual) com a de O Esquadrão Suicida da DC Studios e são filmes que servem para mostrar que anti-heróis/vilões também podem fazer o bem, mesmo que de um modo torto. Mas as comparações entre as produções ficam apenas nisso. A produção dirigida por Jake Schreier (Cidades de Papel) tem uma pegada e proposta narrativa totalmente diferente da que vemos no filme de James Gunn e isso não é ruim, mas as diferenças são gritantes.

No aspecto técnico, Schreier merece aplausos por usar diversos efeitos práticos e locações reais no filme, o que dá um ar de verdade ao que vemos e impressiona. O CGI é usado de modo pontual, aqui ou ali se vê um exagero mas nada que atrapalhe a diversão, alguns são muito bem feitos e dignos de Oscar (como o visual do vilão da trama). O mesmo não se pode falar das cenas de ação, que são poucas e algumas não são tão bem coreografadas. Mas é bom ver que o diretor deu tempo e usou poucos cortes nas cenas, mas os ângulos escolhidos por ele não foram os melhores e deixam um ar de que o que vemos poderia ser melhor. O uso excessivo de close-ups no elenco, afim de mostrar pouco dos espaços usados para contar a história, pode incomodar alguns que queiram entender a geografia do local onde os heróis estão.
O brilhantismo deste filme e o grande ponto de destaque é o roteiro escrito pela dupla Lee Sung-Jin (Treta) e Joanna Calo (O Clube das Babás). O uso da metalinguagem na cena de abertura mostra o como o texto quer criar algo diferente do que já foi apresentado no MCU e consegue fazer isso ao criar um filme que é sombrio e que também consegue divertir. A escolha dos personagens é um acerto da produção: Yelena (espiã e assassina russa Sala Vermelha), Guardião Vermelho (super soldado russo), Ava Starr (espiã da SHIELD conhecida como Fantasma), John Walker (o Agente Americano, herói descartado de sua posição como substituto do Capitão América por seu jeito impulsivo e violento). Treinadora (assassina ciberneticamente aprimorada) e Bucky Barnes (o Soldado Invernal, assassino mentalmente pela HYDRA) eles são personagens que não se conhecem e a narrativa os obriga a unir forças por um bem maior, o que gera diversas situações cômicas pra lá de engraçadas. São alfinetas, humor nonsense e diálogos afiados que vão fazer o público se divertir.

A dinâmica entre esses personagens é o coração da trama e os atores brilham em seus papéis, o respeito pelas obras anteriores é perceptível e vemos as características mais marcantes que cada personagem possui em seus filmes/séries solos. Pena que nem todos tem espaço para brilhar. Acabam roubando a cena Florence Pugh (Oppenheimer), Lewis Pullman (Top Gun: Maverick) e David Harbour (Stranger Things). A dinâmica entre pai e filha faz Harbour se destacar por variar entre situações que são pura vergonha alheia e comuns em um pai protetor e momentos emocionalmente tocantes. Pugh e Pullman brilham por serem dois lados de uma mesma moeda e a jornada que eles dividem acaba sendo o fio narrativo desta produção que mostra o lado mais sombrio do MCU.
Thunderbolts* cria uma metáfora sobre saúde mental e solidão que aterroriza e choca na mesma proporção. Os paralelos traçados sobre o herói que tem dias que se sente invencível e dias em que um vazio monstruoso assume o controle causando estragos é real e mostra como devemos encarar isso em nossa vida, afinal todos nós somos heróis da nossa própria jornada.
Em resumo: Thunderbolts* é um bom filme e um ótimo encerramento da fase 5 no MCU. Que venham mais aventuras desse grupo.
AVISO: O filme possui duas cenas pós-créditos.