sáb, 17 maio 2025

Crítica | Hurry Up Tomorrow – Além dos Holofotes

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A Psicodelia da Fama e a Autodestruição de The Weeknd

Desde sua ascensão meteórica na música pop, Abel Tesfaye — mais conhecido como The Weeknd — sempre flertou com narrativas de excessos, solidão e autodestruição. Hurry Up Tomorrow – Além dos Holofotes, sua primeira grande incursão no cinema, não apenas acompanha seu álbum homônimo, mas também se apresenta como um thriller psicológico que expõe, sem filtros, os demônios internos do artista. Sob a direção de Trey Edward Shults, o filme se desdobra como uma experiência sensorial intensa, repleta de simbolismos e referências à psicanálise junguiana.

A Jornada de um Ícone em Ruínas

No início do filme, Abel Tesfaye parece ter tudo: The Weeknd inicia uma nova turnê, sendo saudado por legiões de fãs entusiasmados. No entanto, essa euforia é apenas uma fachada. Por trás da imagem de celebridade, Abel luta para superar uma recente desilusão amorosa (expressa pela voz de Riley Keough em uma participação fora da tela). Seu melhor amigo e empresário, Lee (Barry Keoghan), insiste para que ele continue alimentando a máquina do sucesso, pressionando-o a seguir adiante sem tempo para processar suas emoções.

O estresse atinge seu ápice quando The Weeknd perde a voz no palco — a metáfora perfeita para sua crise existencial. Buscando uma fuga temporária, ele passa a noite com Anima (Jenna Ortega), uma fã devota que, ao amanhecer, se recusa a partir. O que começa como um caso clássico de invasão de limites por parte de uma fã rapidamente se transforma em algo muito mais profundo— uma jornada na qual Anima obriga Abel a enfrentar seu maior inimigo: ele mesmo.

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Psicologia Junguiana e a Fragmentação da Identidade

A estrutura do filme se apoia fortemente na teoria de Carl Jung. Lee representa a sombra da personalidade de Abel Tesfaye, enquanto Anima encarna sua faceta sensível e feminina. Abel, por sua vez, assume o arquétipo junguiano do “eu”, posicionando-se no centro da narrativa. Essa dinâmica cria um trio explosivo, onde cada personagem funciona como um reflexo distorcido do protagonista.

Jenna Ortega entrega uma performance magnética. Em uma das cenas mais marcantes, ela dança ao som de alguns dos maiores sucessos de The Weeknd enquanto ele permanece amarrado, forçando-o a confrontar sua própria identidade fragmentada.

Estética Visual e a Reinvenção da Narrativa Musical

A cinematografia flui de cena em cena com uma presença quase onipotente. A proporção da tela se ajusta constantemente, refletindo a euforia de estar no palco com uma abertura total, enquanto momentos de introspecção e confronto pessoal são encapsulados em um formato 4:3 mais restrito. A fotografia de Chayse Irvin utiliza neons hipnóticos e iluminação difusa para criar uma atmosfera quase alucinante.

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A música pulsa no coração do filme, seja por meio das faixas originais de The Weeknd ou pela trilha sonora complementar assinada por Daniel Lopatin. Sequências musicais marcantes, como duas interpretações completas de Wake Me Up, refletem diferentes estados físico e emocional de Abel ao longo da trama. As canções não são meros adornos, mas sim o eixo que impulsiona a narrativa.

Um Projeto de Vaidade ou uma Exposição Genuína?

Não há dúvidas de que o filme gira em torno de The Weeknd. Inevitavelmente, o termo projeto de vaidade surge à mente. Por definição, trata-se de um filme concebido para explorar a psique de uma figura real, e seu enredo está repleto de referências à trajetória pessoal e artística de Abel Tesfaye. Isso faz com que a experiência seja muito mais significativa para os fãs do cantor do que para o público casual.

Se o resultado é um longa-metragem envolvente ou não, dependerá da perspectiva de cada espectador. No entanto, a imersão profunda na vida de uma estrela pop em um momento de vulnerabilidade tem um apelo dramático inegável. A colaboração entre Trey Edward Shults e Abel Tesfaye resulta em um thriller psicológico profundamente incomum, que desafia convenções e se recusa a oferecer respostas fáceis.

Conclusão: Um Filme Destinado a Dividir Opiniões

Quando Abel, imerso na dor, interpreta a faixa-título diretamente para a câmera, o momento se torna uma declaração ousada, quase desafiadora, voltada ao público. Hurry Up Tomorrow – Além dos Holofotes é, por essência, um filme destinado a dividir opiniões. Com uma estética audiovisual arrebatadora, atuações excepcionais de Jenna Ortega e Barry Keoghan e uma vulnerabilidade genuína, o longa se destaca como uma imersão singular na mente de uma estrela.

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Seja provocando distanciamento ou atraindo o espectador para seu universo, o filme é uma experiência sem paralelos — um espetáculo visual e emocional que, para alguns, será uma obra-prima, e para outros, uma egotrip indulgente.

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