‘O Ritual’ é apenas o terceiro longa-metragem de David Midell, diretor e roteirista que seu filme mais conhecido até agora foi ‘O Assassinato de Kenneth Chamberlain’ (2019), outro filme de terror. Porém, agora com uma diferença grande: a presença de Al Pacino. Um dos maiores atores do cinema estadunidense das últimas décadas assinou para estar no elenco desse filme em 2023 e marcar sua presença na tela grande. O protagonismo do roteiro fica com Dan Stevens, conhecido por interpretar a Fera em ‘A Bela e a Fera’ (2017), além de filmes como ‘Abigail’ (2024) e ‘Godzilla e Kong: O Novo Império’ (2024) e tem como coadjuvante a atriz Abigail Cowen, com uma filmografia mais recente e conhecida mais por ‘Amor de Redenção’ (2022).
Padre Joseph (interpretado por Dan Stevens) e o Padre Theophilus (interpretado por Al Pacino) são chamados para salvar uma jovem garota possuída por um demônio poderoso.
Acredito ser normal existir uma obsessão em estabelecer uma relação mais próxima com o espectador, principalmente em um filme de terror e numa história que parece buscar sempre a proximidade entre os personagens, suas histórias pessoais e o próprio exorcismo. Porém o maior problema seria em usar “o ritual” como meio para interligar todas as histórias ao invés de aproveitar para fazer uma construção buscando fazer com que cada cena do ritual tivesse maior impacto. A escolha da decupagem soa como apressada por apenas escolher uma ordem básica: mostrar a sequência do ritual daquela noite, mostrar de forma superficial os impactos que a última tentativa teve nos padres e nas freiras, cortar para a próxima noite com a sequência do exorcismo. A obra parece não se preocupar com nada além de tentar desesperadamente fazer essa associação entre os passados dos personagens. Afinal, dada a pressa que a narrativa age, não temos tempo e muito menos algum uso diferente da linguagem cinematográfica para nos apegar emocionalmente com o fato do irmão do protagonista ter se suicidado pouco tempo antes dos acontecimentos do filme, por exemplo. Junto com isso, ainda há subtextos debatendo a dúvida da fé entre os personagens.

O que chama a atenção à primeira vista é a fotografia, uma câmera tremendo bastante e zooms em excesso no meio de diálogos recheados de cortes, semelhante ao que vimos na série ‘The Office’, com a diferença que aqui, a ideia pelo menos, era se levar a sério. Nessa tentativa apressada em tentar uma conexão com o público a qualquer custo, os primeiros 15 minutos de filme, principalmente os diálogos, filmados desse jeito, fazem criar a dúvida se estamos assistindo um filme de terror ou alguma sátira. A câmera mais trêmula em si não é um problema, como eu sempre faço questão de repetir em meus textos, não há certo ou errado na arte, muito menos regras. O importante é como você vai escolher para contar aquela história. Essa escolha estética funciona bastante na cena do primeiro dia de ritual, por exemplo, já que a câmera na mão passeando dentro daquele quarto demonstra uma força sobrenatural muito boa, condizente com o terror que o filme quer passar, mas acaba se perdendo dentro da repetição das cenas, seguindo a decupagem repetitiva e mostrando cada um dos rituais durante os sete dias. Até gosto das atuações, não acho que comprometem e são bem impactantes dentro dessa proposta de tudo ser mais próximo da tela, destaco a atuação da Abigail Cowen como Emma, que realmente trás uma presença em cena, uma dualidade entre a menina inocente que está sendo possuída e o mal que há dentro dela. Al Pacino, lógico que não é nenhum grande projeto perto do que ele tem na sua filmografia, mas ele ainda mostra porque é uma lenda do cinema e mesmo estando em um projeto menor, ainda entrega a energia que o seu personagem pede. Infelizmente, esses elementos acabam se perdendo dentro de uma obra que tenta desesperadamente atingir uma profundidade mas não consegue sair da superfície.
‘O Ritual’ acaba se perdendo dentro do seu desejo de estabelecer uma relação entre os personagens a todo custo dentro de uma premissa que é interessante mas não é explorada de um jeito satisfatório. Mesmo com grandes atuações e uma cenas isoladas que são impactantes, a obra acaba esbarrando na sua própria ambição.