Quando um filme é muito bom, é sempre lembrado pelo seu roteiro, atuações e afins. Quando o filme é excepcional, acaba se tornando um épico, com o tempo um cult, que será sempre referenciado ou rediscutido.
Quando esse filme é Coringa, um novo patamar deve ser definido, justamente por ser simplesmente a exposição da sociedade e de nossas faces e mazelas diárias com os demais.
Coringa é pesado, tenso, triste (muito triste) mas acima de tudo verdadeiro. E não estou falando do personagem em si, e sim no que ele nos mostra. Uma sociedade doente, ignorante, individualista e desprezível.
Nos mostra que somos assim. Desprezíveis. É o único sentimento que tive de mim mesmo ao sair do cinema. O quanto somos ruins, o quanto ignoramos os problemas e só achamos que nós, o centro do mundo, temos dificuldades. Que nossa dificuldade ou alegria tem que ser única. Que o sofrimento alheio não me importa, e porquê deveria?! Eu também sofro, isso que importa.
Não dá pra escrever esse texto com uma gota de alegria. Sabe, aquele entusiasmo ao sair de um filme histórico e querer falar dele? Não. Só há silêncio, reflexão. Por isso demorei tanto a falar sobre, e ao relembrar percebo que preciso rever o filme, levar outro tiro na cara e reaprender que nesse mundo doente de hoje em dia, de divisões, de esquerda e direita, de tribunais da internet, é mais fácil alimentar ódio que efetivamente ser alguém melhor. Pois, não vale dizer que é uma boa pessoa, ou que está tentando melhorar, sem de fato, fazer algo para isso. Até porquê, se alguém não é fiel a minha causa, ou não compartilha dos meus problemas, é melhor que fique longe.
Ignorando todo o fato e histórico que permeia o personagem em si, e as atuações épicas do filme, nunca antes o cinema nos mostrou tão bem que não é preciso “cair num tanque de ácido” ou “ser internado em um manicômio” para se tornar um “Coringa”. Só é necessário cair na sociedade, e ser rejeitado por ela.
Por fim, somos culpados demais em tantas coisas, que temos que aceitar que, quando algo grave acontece, o dedo também deve ser apontado pra nós! E, talvez você só tenha visto o filme de um vilão psicopata famoso nos quadrinhos. Se esse foi seu entendimento, aconselho procurar ajuda.