Essa crítica foi escrita por Matheus Simonsen. Siga ela nas suas redes sociais: Instagram
Na era digital, em que aplicativos como Tinder servem para medidores amorosos, aqui, duas pessoas se conhecem à moda antiga. Sob as luzes de um mercado, dois estranhos se encantam um pelo outro, dando início a um relacionamento. Algo tão comum como uma comédia romântica é mostrada em seus primeiros trinta minutos, mas após isso Fresh mostra sua verdadeira face.
Mimi Cave e Lauryn Kahn se unem para entregar um inesperado terror cômico, do tipo que desperta na audiência as experiências sensoriais mais inusitadas e contrastantes. O termo “terrir”, usado para filmes que misturam terror e comédia, tem sido muito trabalhado por Hollywood nos últimos anos. Filmes como e A Babá (2017), Casamento Sangrento (2019) e Freaky: No Corpo de um Assassino (2020) mostram essa crescente no gênero. Entre o nojo e o horror, existe um humor sarcástico, ácido e inesperado.
Aqui, Sebastian Stan saí de sua zona de conforto dos filmes da Marvel, para viver um homem charmoso e carismático que acaba conquistando Noa (Daisy Edgar Jones), uma mulher cansada de encontros românticos frustrantes de caras achados no Tinder. Depois de alguns encontros, Steve a convida para sua casa, e lá ela descobre sua verdadeira intenção.
A diretora Mimi Cave (em seu primeiro trabalho na direção) e é particularmente competente no design de produção, explorando toda a casa de campo para construir o horror e te envolver. Muito do que o espectador vê na casa funciona como complemento do roteiro, não só pela atmosfera, mas para contar mais sobre o personagem vivido por Sebastian Stan.
O longa brinca com a nossa percepção, desafia os nossos sentidos e pavores, dando uma sagaz piscadela para a nova era de relacionamentos – em que tudo é digital e cada vez mais desconfiável. O gore funciona, e a cineasta definitivamente não tem medo de mostrar o incômodo e o sensível, adicionando a isso um humor irônico e uma excelente escolha musical.
A sensação ao final é semelhante àquela provocada por Corra! (2017), não apenas pela mistura do horror com a comédia, mas principalmente pelo seu terceiro ato, que, no caso aqui, acaba por ser a parte mais fraca do projeto, com decisões questionáveis dos protagonistas e o apelo a clichês mais datados do gênero.
Ainda assim, Fresh deixa o público sempre à beira de uma catástrofe, intrigando a cada novo absurdo descoberto a respeito do personagem Steve e utiliza a sua comicidade de maneira honesta, energética e revigorante.