qui, 2 maio 2024

Crítica | Carro Rei

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O Brasil hoje é um país hoje cuja economia e mobilidade estão intrinsecamente conectadas ao sistema rodoviário nacional. A cultura brasileira tem na figura do carro um símbolo  de “liberdade” na medida em que esse é o principal meio que uma pessoa tem para se locomover no país apesar de um constante encarecimento do combustível que cada vez mais afasta classes mais baixas dessa “liberdade”. Levando em conta todo esse contexto, Carro Rei, da diretora Renata Pinheiro, é um filme que se propõe a refletir sobre a relação de homem e carro no Brasil a partir da ficção científica, mas tropeça em suas boas intenções.   

A história começa com Uno, um jovem que por acaso acaba nascendo dentro de um carro cujo modelo é o seu nome. A família de Uno possui uma pequena frota de táxis, que é gerida por seus pais, enquanto a parte de manutenção dos carros fica com seu tio, Zé Macaco(Matheus Nachtergaele). Uno (também conhecido como Ninho) possui uma relação extremamente profunda com o carro onde nasceu ao ponto de conseguir ouvir a “voz” do veículo, que demonstra não apenas possuir uma mente como também conseguir se mover por vontade própria graças a sua conexão com o menino. Após um acidente que leva a vida de sua mãe, o filme salta para o presente onde a história de fato começa: Ninho deseja abandonar as pretensões de seu pai de gerir a frota de carros e escolhe ir para a área de estudos ambientais. Esse fato por si irá reger a temática do filme ao criar um embate entre seguir refém de uma lógica social que até então funciona ou procurar uma forma alternativa de viver que potencialmente será mais sustentável.   

 Os elementos de ficção científica são evidentes desde uma excelente trilha sonora original que abusa de sintetizadores de diversas camadas à evocações imagéticas diretas de clássicos do gênero como Planeta dos Macacos(1968) e Christine(1983), acenando em momentos pontuais para o excelente Crash(1996), de David Cronenberg e inclusive criando paralelos imediatos com filmes recentíssimos como o controverso Titane(2021), da diretora francesa Julia Ducournau mas sem nunca alcançar o potencial de discurso que estas referências alcançaram, seja por uma questão de alegoria social ou um apelo simplesmente pelo charme de sua estranheza que também pode ser a base de diversos tipos de discurso. O elemento ficcional desenvolvido passa muito pela figura de Zé Macaco, que com seus trejeitos animalizados que dão justificativa a seu nome ainda é o personagem mais próximo do desejo pela união de homem e máquina. É um filme que busca criar um subtexto a partir da fiscalidade dos atores, de elementos mecânicos e naturais, mas que nem sempre sabe equilibrar estes discursos para vender uma ideia de crítica que parece ser o objetivo aqui.   

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A falta de personalidade do protagonista que parece estar em um momento de decisão de sua vida ao começar a jornada mas então é apenas jogado de um lado para o outro sem refletir muito sobre o que faz diminui o envolvimento que poderia ser criado com a história, ainda mais em suas reviravoltas ( nem tão imprevisíveis assim) a partir do segundo terço de filme. Os coadjuvantes também não deixam grandes impressões apesar do esforço de Nachtergaele ao interpretar Zé. O drama num geral deixa a desejar e reflete num distanciamento com a história.  

Carro Rei é um filme de proposta interessante, que bebe de ótimos lugares mas que não reinventa nada do que está reciclando. É uma produção nacional que merece sim certo destaque por buscar se aventurar no campo do Sci-fi que poderia ser mais incentivado no país mas que falha ao tentar transcender esse lugar de homenagem e se tornar algo mais.  

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Fabrizio Ferro
Fabrizio Ferrohttps://estacaonerd.com/
Artista Visual de São Paulo-SP
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