A 46ª edição da Mostra Internacional de São Paulo reúne 223 filmes de 60 países que serão exibidos em um período de 14 dias. Segue abaixo a nossa análise sobre algumas das produções que vimos nessa primeira semana do evento:
O Teto Amarelo
O documentário conta e denuncia o caso do Curso de Teatro Lleida através de suas protagonistas. Em 2018, um grupo de nove mulheres apresentou queixa contra dois de seus professores por abuso sexual ocorridos entre 2001 e 2008, quando ainda eram adolescentes. Mas já era tarde demais. Por medo, por vergonha, porque demoraram muito para entender e digerir o que havia acontecido, a denúncia veio quando o caso já estava prescrito e, consequentemente, arquivado. Exibido no Festival de Cinema de San Sebastián.
Documentário chocante sobre uma escola de teatro que infelizmente tinha dois professores de artes que durante anos abusavam sexualmente/psicologicamente de seus alunos. No caso, eram pessoas que conforme o tempo passava, seus cargos cresciam de posição, e um dado momento passa a sensação de ser impossível denunciar algo nesse nível.
O longa funciona de maneira bastante comum, vamos conhecendo os professores, alunos e o ambiente de convivência entre eles. Existe claro o destaque para as alunas que foram responsáveis pelas denúncias de abuso, no total nove mulheres. Impossível não sentir raiva ou angústia por conta das histórias faladas, são anos e anos de diferentes turmas sob o controle do professor. O documentário deixa claro no relato das vítimas a clara inocência e pouquíssima idade que elas possuíam, muitas vezes nem entendendo o que tinha acontecido na época.
O trabalho de imagens é bastante atrativo, usando diversas filmagens dos próprios estudantes, e também entrevistas dos professores na TV, mostrando o quão grande e conhecida era a escola de arte. São documentos que destacam como o professor controlava psicologicamente os estudantes, iniciando com uma abordagem amigável e inocente, até chegar nos crimes e essa dependência que ele instaurava nas alunas.
O Teto Amarelo é chocante, causa revolta e tristeza ao mostrar pessoas aparentemente comuns exercendo profissões nobres, mas cometendo crimes imperdoáveis. Infelizmente é mostrado que esse professor ainda está em atividade(no Brasil!)e o documentário faz questão de contar aonde ele está trabalhando. É uma obra com uma grande responsabilidade, e no final consegue passar essa mensagem de luta que vem crescendo ao longo dos anos.
Nota: 3,5/5
A Noiva
Uma adolescente europeia foge de casa para casar com um guerrilheiro do Daesh. Torna-se uma noiva da Jihad. Três anos mais tarde a sua vida mudou dramaticamente. Vive num campo de prisioneiros no Iraque. É mãe de dois filhos e está grávida outra vez. Mas agora é uma viuva de 20 anos e será brevemente julgada pelos tribunais iraquianos. Quem é esta adolescente, após três anos de guerra e de lavagem cerebral?
Um conte de fadas ao contrário, uma história abrupta que se carrega pela abordagem e temática. O início do filme é espetacular, acompanhamos o olhar da mulher reagindo as execuções dos guerrilheiros do ISIS, durante a cena a câmera jamais sai do ponto em que está, e assim observamos a espetacular reação da moça, desde o choque até a lamentação do ocorrido.
Infelizmente o ponto mais alto do filme é esse, ele surfa ainda em bons momentos, mas o ritmo do filme parece que não ajuda, nunca chega no potencial que poderia chegar. A história é interessante de se acompanhar, porém parece não ter um caminho definido, vamos vivendo junto com sua vida e estamos nesse caminho sem destino com a protagonista, mas a sensação é de um ritmo desinteressado por seu próprio filme.
Não se engane, a temática aqui é muito atrativa. Somos apresentados por uma realidade pouco conhecida, e o surgimento dessa personagem que tinha uma vida “comum” para o grande público, mas que conheceu um amor, mudou de vida, quis viver esse “conto de fadas”, e no final das contas termina praticamente sozinha.
A Noiva é deveras interessante, te pega no início pelo pé e convida a viver com essa personagem, porém seu ritmo é desbalanceado e não valoriza a história criada. A direção e atuações conseguem disfarçar os momentos de pouco conteúdo, e a trilha sonora causa sentimentos para as curtas boas cenas do filme. Um bonito filme com um olhar quase documental para os eventos ocorridos. Mas ao final deixa a certeza que muitas histórias parecidas com essa aconteceram.
CONFIRA AQUI NOSSA ANÁLISE DE OUTRAS PRODUÇÕES DA MOSTRA.
