A 46ª edição da Mostra Internacional de São Paulo reúne 223 filmes de 60 países que serão exibidos em um período de 14 dias. Segue abaixo a nossa análise sobre algumas das produções que vimos nessa primeira semana do evento:
À Noite Todos os Gatos São Pardos
Uma equipe está filmando um filme de época libertino no interior quando Valentin, o diretor, repentinamente desaparece. Enquanto a polícia começa suas investigações, a filmagem continua, mas toma um estranho e inesperado rumo. Robin, o cinegrafista e amante do diretor, cumpre uma promessa que o leva até a costa do Oceano Pacífico no México. Exibido no Festival de Locarno.
Trate- se de uma experiência “sem pé nem cabeça”, uma verdadeira aula de como alongar seu filme e mostrar não ter objetivo algum. Em alguns momentos você se pergunta: “O que está acontecendo?”, mas não de uma forma positiva. A sensação passada é que o diretor se perdeu na história que gostaria de contar ou simplesmente não tinha material para sustentar um filme de 1h50.
Existem pequenos momentos de um bom desenvolvimento audiovisual, a mistura de cenas em câmera lenta e músicas bastante agradáveis de se ouvir trazem uma leveza e interesse no filme, apesar de ele repetir pelo menos três vezes isso ao longo da obra. Os atores não são ruins, mas o texto é tão pobre que eles não tem muito o que trabalhar aqui.
À Noite Todos os Gatos São Pardos é uma bagunça narrativa, ele cansa e traz pouco entretenimento. Os sentimentos passados são fraquíssimos, parece mais uma loucura que apenas o diretor quis entender. A longa duração ainda traz desconforto devido sua falta de conteúdo, apesar da bonita utilização do espaço visual da floresta.
Nota: 2/5
Objetos de Luz
A evocação da luz no cinema leva a Personagem do Homem da Luz a refletir sobre ela, sua essência e as suas múltiplas manifestações numa revisitação a espaços geográficos e de memórias. Exibido no Festival de Locarno.
É uma espécie de “Documentário”/ Filme experimental. Uma homenagem ao cinema português, mas também uma grande memória de todos esses momentos gravados eternamente por meio de câmeras e da própria luz. Aqui, temos a presença do ilustre Acácio de Almeida, grande diretor de fotografia, onde interpreta o “Homem da Luz”.
O filme trabalha de duas formas: ele traz esse questionamento da importância da luz, como ela nos liga e ajuda para eternizar momentos, tudo e todos tem luz. Vivemos e dependemos dela, está intrínseco na natureza. A outra forma é a celebração do cinema, ele se utiliza de diversos trabalhos de Acácio para destacar a presença da luz, mas também homenagear o cinema português, com diversos filmes até que desconhecidos para a nova geração, trabalhos eternizados, porém pouquíssimo falado nos dias de hoje.
O fator contemplativo é nítido aqui, temos a presença de belíssimas cenas, desde animais, o amor compartilhado, simples caminhadas, é tudo muito bonito! Mesmo que o filme cause uma impressão de se perder na sua “metáfora”, o bonito visual causa interesse durante a curta 1h07 minutos. É uma verdadeira celebração do Cinema mundial.
Objetos de Luz é uma experiência sensorial diferente, e só por isso já vale a pena conferir. Sua curta duração traz objetivo, apesar de em alguns momentos se perder na construção da narrativa. É lindo de se ver na tela grande, e essa homenagem para o cinema português/mundial já faz o filme valer o ingresso, mesmo que não agrade a todos. Não é inesquecível, mas traz um lado pouco explorado do audiovisual.
Nota:3,5/5
Leonor Jamais Morrerá
Leonor Reyes já foi uma figura importante na indústria cinematográfica filipina depois que criou uma série de filmes de ação de sucesso, mas agora sua família luta para pagar as contas. Ao ler um anúncio à procura de roteiros, Leonor começa a mexer em um esboço inacabado sobre a jornada do jovem Ronwaldo, que se vê forçado a vingar a morte de seu irmão, assassinado por bandidos. Enquanto sua imaginação oferece alguma fuga da realidade, um acidente envolvendo a queda de uma televisão a deixa inconsciente e em coma. Vencedor do Prêmio Especial do Júri na seção World Cinema Dramatic do Festival de Sundance.
É uma baita aula de entretenimento bem feito! Uma metalinguagem usando todo esse curioso cinema Filipino, desde as homenagens para os engraçados filmes de luta, até essa reverência para o cinema como um todo. Como move as pessoas, traz significado para suas vidas e até mesmo interfere em seu cotidiano. É uma linda bagunça, tem pessoa em coma, fantasma, Inception, pessoas entrando em televisão. Bizarro.
Um filme gigante, cheio de coração. A protagonista vivida pela Sheila Francisco traz muito carinho da personagem, ela convence totalmente com esse desejo genuíno pelo cinema e a falta que faz em sua vida. Toda a inocência, medo e amor está presente aqui, e muito parte por conta de sua protagonista.
Aleatório é a palavra aqui, mas nada jogado fora, a maioria das coisas funcionam e estabelecem esse humor bizarro, porém divertido do filme. Ele te convida pela mão e é que quase impossível você não embarcar na aventura. É uma criatividade tão deliciosa, que mesmo com o orçamento limitado, a diretora consegue fazer um trabalho magnífico nessa fantasia filipina.
Leonor Jamais Morrerá é uma baita surpresa, é um filme sobre filmes, é uma homenagem para toda essa cultura dos filmes de ação mais inocentes e simples. Ele desconstrói, entretém, traz nostalgia e ao final você está com um sorriso no rosto. É uma das mais recentes e interessantes homenagens do cinema, com gostinho de pancadaria ainda!
Nota:4/5