
Saúde mental é um tema que está em alta atualmente no cinema e o terror é um gênero que explora essa problemática de modo muito engenhoso. As produções nesse gênero abordam diversas questões usando metáforas e analogias poderosas mostrando os monstros internos como problemas físicos ou levando os personagens a explorar transtornos psicológicos específicos. Produções como O Babadook e A Ilha do Medo são alguns exemplos de filmes que exploram essa temática com louvor. Tentando surfar nessa onda, chega aos cinemas A Mulher no Jardim, filme dirigido por Jaume Collet-Serra (Bagagem de Risco) que conta a história de uma mulher de preto que aparece repetidas vezes no gramado da frente da casa de uma família e traz avisos assustadores. No entanto, ninguém sabe de onde ela veio, o que ela quer ou quando ela irá embora.
Luto, esquizofrenia e depressão são o ponto central dessa história que tem pontos positivos e muitos (infelizmente) pontos negativos. A direção de Collet-Serra constrói uma tensão genuína que com o tempo vai se dissipando, aliado a isso temos uma ótima fotografia de Pawel Pogorzelski (Beau Tem Medo) que consegue captar o mistério em torno da figura sinistra que surge usando bastante luz natural. A construção de tensão e terror em uma ambiente diurno é algo difícil de realizar e a produção (por um tempo) faz isso muito bem. Além disso, o uso de CGI e efeitos práticos cria situações em cena que assustam. Todos esses elementos poderiam fazer a produção ser um ótima experiência se não fosse o roteiro e algumas decisões narrativas que tornam essa experiência em algo medíocre e com uma mensagem pra lá de perigosa.

O surgimento da figura sinistra na trama começa a ser construído de modo interessante pelo texto Sam Stefanak (F is for Family), o filme vai oferecendo pistas visuais e desenvolvendo o drama da família o que faz o espectador entender a situação, sem ser expositivo, o que é muito bom. O problema é que isso acontece apenas nos 30 primeiros minutos, o roteiro com o tempo começa a focar única e exclusivamente na dor e no trauma gerado por uma determinada situação que aconteceu com a protagonista e nunca explora de fato a relação familiar ou construção dos personagens que acompanhamos. Isso dificulta a construção da empatia do espectador com os personagens. Com o tempo, a tensão do que vemos diminui já que não nos importamos com eles, quando respostas começam a surgir o texto insere questões sobre realidades paralelas que surge de modo aleatório e complica ainda mais o desenvolvimento da narrativa. Parece que o filme que ser complexo de propósito e isso mais atrapalha do que ajuda a narrativa.
A atriz Danielle Deadwyler (Till – A Busca por Justiça) é o grande destaque do filme, ela surge esgotada e consumida por uma dor que, infelizmente, nunca é compartilhada. Ver a dor e diferente de sentir e entender ela, o filme apenas mostra e nunca aprofunda esse sentimento. Para piorar a produção chega ao seu terceiro ato propondo uma resolução, que é pra lá de controversa, relacionada a suicídio. Pode não ter sido intencional, mas a construção da cena passa uma mensagem de que tirar a própria vida pode ser algo positivo, o que é algo pra lá de assustador (de uma maneira extremamente negativa).
A Mulher no Jardim no fim das contas, é um drama com toques de terror que não comove e nem assusta. Pra pior a apologia (intencional ou não) sobre suicídio é uma bola fora que torna toda a experiência em algo horripilante, no pior sentido da palavra.