qui, 21 novembro 2024

Crítica | A Pequena Sereia

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Com essa verdadeira “mina de ouro”, era difícil a Disney esquecer as adaptações em Live Action de suas clássicas animações. E com os devidos retornos financeiros, alguns passando do bilhão, o estúdio pretender cavar bem fundo para trazer essa coleção de releituras realistas. Desta vez, a escolhida foi A Pequena Sereia, já nascido de uma “polêmica” envolvendo a troca de aparência de Ariel, onde não existe qualquer problema disso, pois sereias não existem, não é mesmo ? O que importa é o princípio da história original ser respeitado.

“A Pequena Sereia” é a amada história de Ariel, uma bela e espirituosa jovem sereia com sede de aventura. A mais jovem das filhas do Rei Tritão e a mais desafiadora, Ariel anseia por descobrir mais sobre o mundo além do mar e, enquanto visita a superfície, se apaixona pelo arrojado Príncipe Eric. Enquanto as sereias são proibidas de interagir com humanos, Ariel deve seguir seu coração. Ela faz um acordo com a malvada bruxa do mar, Úrsula, que lhe dá a chance de experimentar a vida em terra, mas acaba colocando sua vida – e a coroa de seu pai – em perigo.

Para ser direto e claro, a verdade é que essa adaptação não se difere muito das já apresentadas pelo estúdio. Essa proposta “realista” é uma verdadeira roleta russa, as vezes errando feio, outras acertando com algum pingo mísero de criatividade, o que acaba sendo até um grande acerto comparado algumas escolhas terríveis de filmes como O Rei Leão (2019) e Pinóquio (2022). Fica claro que trazer esse formato com certas adaptações simplesmente não funciona, e A Pequena Sereia se encaixa nessa estatística. A proposta de seres aquáticos como Sebastião e Linguado falando, cantando e interagindo com Ariel beira o estranhamento, ou melhor, beira o cômico. E além disso, em sequências músicas envolvendo tudo isso, beira a não emoção. E assim transformando músicas clássicas da animação original, como “Aqui no Mar” em um espetáculo para defuntos, onde você consegue ouvir a clássica canção, mas apenas vê um bando de peixes “realistas” de CGI dançando e se movimentando na tela, não existe a tal magia ali. É um aspecto que não existe um jeito certo de se adaptar, apenas não combina com a proposta escolhida, e aparentemente o estúdio não percebe esse principal problema dos Live Actions.

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Outro problema desse tipo de proposta, é o alongamento de suas histórias. Esse filme possui 2h15 minutos, a animação original possuía suas honestas 1h23. E olhando bem, não existe justificativa para um alongamento tão grande do material anterior. Temos canções novas e um desenvolvimento maior das tramas, mas no geral não agregam, essa ideia de conceber um tempo para o príncipe Eric é totalmente esquecível e genérica. No geral a história é algo cansativo de se acompanhar, quando está no mar é aquele produto controlado e vendido como nostalgia, quando chega na terra é algo em sua forma geral apenas chato.

E existe talento aqui, é perceptível, a atriz Halle Bailey é uma das poucas coisas boas que acabam se sobressaindo diante tanta falta de criatividade e pouca inspiração. Ela apresenta carisma, doçura e coragem com sua personagem, e mesmo que metade do filme ela fique sem voz, a atriz consegue passar diante o olhar e gestos sua gentileza e humor, fora isso, um grande talento envolvendo a voz nos momentos de cantoria. Os poucos momentos de emoção envolvem sua personagem, seja pela busca de liberdade ou mesmo nos bonitos frames envolvendo sua figura aquática, apesar de um discurso de empoderamento totalmente jogado aos minutos finais do filme.

Outra surpresa é a adição da talentosa Awkwafina, fazendo a voz da ave Scuttle. O diferencial de seu tom acaba ganhando destaque durante os momentos de diversão ao longo do filme, e a personagem ganha um belo acerto ao cantar uma nova música com Sebastião, envolvendo rap, extremamente inesperado. Para o resto do elenco, temos Javier Bardem como Rei tritão, apenas fraquíssimo, no piloto automático, assim como Jonah King como príncipe Eric. E claro, a vilã da história, Úrsula, interpretada por Melissa McCarthy, que até rouba a cena em alguns momentos, e existe até um casamento bom entre atriz e personagem, mas no geral, conforme a trama avança, também cai no piloto automático, e ao seu final é substituída por um boneco gigante em CGI na total escuridão.

Aliás, essa obsessão por paletas escuras para deixar o tom mais sombrio/realista e propositalmente esconder o CGI feio no final acontece aqui. A sequência envolvendo a batalha com Úrsula é totalmente genérica e automática, fica claro o rosto do boneco ali, mesmo com tanta escuridão envolvida.  Esse filme demonstra que o único cineasta que sabe filmar embaixo da água atualmente é o James Cameron.

Essa proposta de adaptar animações clássicas da Disney está muito longe de acabar, e enquanto der dinheiro, veremos pelo menos duas por ano. A realidade é que essa nova releitura está longe de ser uma bomba, mas representa tudo aquilo que já é óbvio nesse tipo de produção, diversas pessoas talentosas envolvidas, mas tudo funcionando exclusivamente como um produto de nostalgia, e disfarçando com uma falsa emoção. E mesmo com o talento de Halle Bailey aqui, temos apenas um filme esquecível e medíocre. Melhor ficar com A Pequena Sereia clássica.

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