qui, 25 abril 2024

Crítica | A Pior Pessoa do Mundo

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Geralmente sobre construção de roteiro, precisamos saber o que a/o protagonista quer, todo personagem, especialmente principal, tem seu objetivo. Um dos maiores acertos de A Pior Pessoa do Mundo é sua indefinição, uma quebra de regra bastante marcante durante o longa, porque sua protagonista Julie (Renata Reinsve) não sabe exatamente o que quer. E talvez nem ao final ela tenha certeza disso.

Ao longo de um prólogo, doze capítulos, e um epílogo, que podem abordar uma única noite ou anos da vida da personagem, com diferentes tempos de duração no corpo do filme, observamos Julie se mover pelo mundo, caindo em padrões autodestrutivos enquanto tenta procurar por algo. O que ela procura? Não sabemos, assim como a própria personagem, que afirma se sentir “como uma coadjuvante em sua própria vida”, algo que faz com que todos os espectadores se sintam relacionados com Julie, compartilhando um sentimento similar nos momentos mais confusos de suas vidas. 

Diamonds Filmes/ Divulgação

O filme aborda diferentes situações, desde  relacionamentos, diferenças de idade, indecisões sobre carreira, problemas familiares, etc. É uma janela muito grande de assunto, é um mérito gigante da obra, porque não cansa nem um pouco. É interessante ver como o filme amadurece junto com sua protagonista, o começo do longa é bastante leve e realmente engraçado, mas com o avanço de sua vida adulta, acontecem mudanças repentinas, chegando até assuntos extremante sérios.

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A atuação da Renata Reinsve é uma crescente ao longo do filme, sua personagem passa por diversas situações, e por conta de inúmeras decisões de sua protagonista, sempre mudamos o jeito que a vemos, como dito antes, nada é definitivo nessa obra. A câmera é bastante dependente da Julie, em alguns momentos ela fica subjetiva, e em outros menos, tudo dependendo do humor da Julie. Facilmente uma das melhores atuações de 2021.

A direção e o roteiro do filme passam por ligeiras mudanças junto com sua protagonista, em diversos momentos muda-se a estética para acompanhar as diferentes experiências que Julie passa ao longo dos 15 anos retratados de sua vida. É uma direção bastante volátil, ela respeita muito sua personagem.

A fotografia é o oposto da direção, ela é muito fiel no que se propõe, é bastante certa do começo ao fim. Ela serve como uma unidade de seu filme, ela permite as constantes mudanças do roteiro e direção, mas sustenta a identidade de sua obra, apesar das mudanças abruptas.

O longa pode ser considerado um coming of age, um filme que trata sobre a transição para a vida adulta. Apesar da maioria das obras nessa categoria se apresentarem com protagonistas no final da adolescência ou em seus 20 anos recém completos, está obra aponta para o fato de que a natureza humana está em um constante mudança. O diretor mostra que a transição para a vida adulta não possui uma idade designada previamente. Dessa maneira, Julie revela que mesmo em seus 30 anos ainda é possível passar por momentos de incerteza graves, onde términos, realizações e crenças podem começar a aparecer ou serem desconstruídos. A mudança de tom do filme da ocasional comédia, para romance e por fim drama demonstra como a vida também pode mudar constantemente, sugerindo que é possível sentir que se está em um momento de segurança e rotina, quando súbitas mudanças acontecem e somos obrigadas a nos adaptar a novos lugares e relacionamentos.

A Pior Pessoa do Mundo consegue ser um soco no estômago, mas também um abraço para situações tão típicas da vida. Quando pensamos que a protagonista está decidida sobre seu destino, ocorre a virada, assim como a vida real. A ideia de viver é continuar escolhendo e passando por momentos, não correr atrás do final metafórico. Nada é definitivo.

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