seg, 18 novembro 2024

Crítica | Ahsoka

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      A saga principal de Star Wars, ao longo dos anos, gerou diversos subprodutos que se tornaram marcantes. Desde os quadrinhos produzidos antes da compra da Lucasfilm pela Disney a Livros que expandiam o universo para lugares até então novos e interessantes mas se formos elencar o mais impactante entre as antigas produções “paralelas” da saga talvez não tenha como fugir do fenômeno que foi Clone Wars, chefiada por Dave Filoni. Anos se passaram, a Disney começa a investir na expansão de Star Wars para a televisão e aos poucos vai resgatando alguns produtos desse canto do universo onde se passaram as aventuras da jovem Ahsoka Tano na guerras clônicas e depois de Ezra Bridger e seus companheiros em Star Wars Rebels. Com essas as portas abertas, era inevitável que uma série agora em Live Action com foco nestes personagens fosse realizada. É nesse contexto que surge a série Ahsoka.

O programa vai focar sua trama nos acontecimentos que sucedem a participação da personagem-título em Mandalorian, ou seja, estamos aqui acompanhando uma trama que ja está em movimento desde o princípio. Talvez para aqueles que nunca tiveram muito contato com o universo de Star Wars esse não seja um bom ponto de entrada pois se já estamos partindo do ponto de um outro programa, cada acontecimento que se passa em Ahsoka ainda bombardeia sua audiência com referências à aventuras passadas. Nada disso impede o que de fato está acontecendo agora de ser interessante, e acreditem, é, mas muito de sua riqueza e dramaticidade está diretamente relacionada ao investimento do público nessas histórias anteriores.

Talvez a melhor forma de se referir à Ahsoka seja por meio de um elemento visual que pode passar batido em momentos da história mas que carrega um certo nível de simbolismo para o que esse programa trata, o Kintsugi. No Japão se desenvolveu a técnica de reparar cerâmicas quebradas com laca misturada a pó de ouro, o que transforma o ato de reformar também numa forma de evidenciar os eventos que desgastam a vida do objeto, trazendo novo sentido, utilidade e beleza para algo que poderia ser descartado. Aqui, reencontramos todo um núcleo de personagens que pareciam já ter servido seu propósito e encontrado um encerramento digno em outro momento mas agora ressignificados, assumindo o que passou, tudo que o público acompanhou anteriormente como parte do ciclo que a própria franquia entende como padrão de acontecimentos inevitáveis para que tudo continue tendo sentido. Ameaças do lado sombrio, o totalitarismo imperial e a eventual resistência de heróis bem intencionados, tudo isso está de volta, como em tantas outras histórias, mas se apegando a esse ciclo de maneira mais direta e evidenciando ainda mais as referências que esse universo trás como sua base.

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Seja o imaginário samurai ou das lendas arturianas, Ahsoka faz, de maneira um tanto menos sutil quanto nas criações originais de George Lucas, um apanhado visual e narrativo bem rico e que encontra um frescor em suas escolhas mas que ao mesmo tempo pode suar um tanto descolado do todo, e isso talvez seja um elemento positivo. Se a saturação de produções de um mesmo universo inevitavelmente pode criar um desgaste com o público, a melhor saída muitas vezes pode ser em abrir mão da coesão permitir respiros para identidades particulares se formarem entre o mar de séries e filmes realizados sob esse guarda-chuva e Ahsoka possui isso, uma identidade.

A história em si pode não carregar tanta originalidade, ou surpresas, inclusive existem aqui muitas conveniências, mas como um pacote fechado de episódios que acompanham essa aventura em específico, é possível dizer que fazem um bom trabalho em pelo menos entreter durante sua duração. A sensação de “grande episódio de uma saga maior” continua, mas pelo menos é um episódio divertido. Um episódio que te faz querer saber mais sobre o destino desses personagens, que te faz querer rever essas pessoas no futuro e se perguntar até onde eles podem chegar. Em resumo, Ahsoka tem sua maior força em assumir os desgastes, as falhas e os referenciais. Mesmo que o produto final não seja talvez a mais bela das obras, ainda é uma que encontra diversão no processo, e que possui um calor que em partes a “salva” de suas próprias armadilhas, mas que só se revela para que já possui o investimento prévio.

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Fabrizio Ferrohttps://estacaonerd.com/
Artista Visual de São Paulo-SP
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