seg, 12 maio 2025

Crítica | Ash – Planeta Parasita

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Costumo brincar que existe um “sci-fi” antes e depois de Alien – O Oitavo Passageiro (1979), como se Ridley Scott tivesse traçado uma linha divisória definitiva na história do terror espacial. A partir de Alien, não apenas a ficção científica se reconecta com o horror de forma visceral e orgânica, como também estabelece um novo imaginário de medo: um terror que pulsa no escuro, em corredores metálicos, em tecnologias indiferentes à condição humana. Tudo que vem depois — direta ou indiretamente — parece dialogar com esse marco.

É a partir dessa régua que muitas obras são medidas. Ash é uma delas. Seu título já remete, curiosamente, ao androide de intenções ambíguas no clássico de Scott, e isso não parece acidental. Mas Ash, aqui, não busca a reiteração. Pelo contrário: tenta ser uma versão mais sensorial, mais interiorizada — e, de certa forma, mais experimental — do que Alien. Se o terror no filme de 1979 era físico, tangível, feito de gosmas e garras, aqui ele se dissolve no campo do psicológico, do alucinatório, do abstrato (ou pelo menos tenta).

O filme acompanha Riya, uma cientista espacial que desperta sozinha em um planeta desconhecido, sem memória dos eventos que a levaram até ali. Ao explorar o ambiente hostil, ela se depara com os corpos brutalmente assassinados da tripulação da estação espacial onde trabalhava. A partir daí, inicia-se uma investigação que logo se transforma em um mergulho tortuoso nos limites da sanidade.

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É nesse jogo entre lembrança e esquecimento que o terror tenta se estabelecer — não pela ameaça concreta, mas pela erosão da certeza. A narrativa aposta na desorientação como motor da tensão, apostando na clássica fórmula do “não saber em quem confiar” para provocar o espectador. A direção, por sua vez, tenta construir um tom agonizante, baseado mais na atmosfera opressiva do que em sustos explícitos. No entanto, a condução oscila entre a ambição estética e a superficialidade narrativa, o que compromete a imersão emocional.

O medo aqui nasce do desconhecido — não apenas o que ronda a protagonista, mas também aquilo que ela mesma não sabe sobre si. A narrativa nos coloca exatamente em sua perspectiva: estamos tão perdidos quanto ela, definhando juntos, cena após cena. A direção tenta capitalizar essa imersão por meio de um experimentalismo visual, apostando em imagens simbólicas, contemplativas, que buscam evocar uma espécie de loucura cósmica.

No entanto, essa proposta se perde justamente na execução. A decapagem é desconexa, incapaz de sustentar a própria linguagem que o filme tenta impor. O resultado é um descompasso formal entre forma e conteúdo — a experiência que deveria ser imersiva se fragmenta nas cenas, que não constroem tensão nem significado. A estética contemplativa soa vazia, e o que poderia ser uma viagem
angustiante pelo terror psicológico vira um exercício de estilo desorientado. Nem mesmo as atuações conseguem preencher esse vazio narrativo.

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Não sou o tipo de crítico que costuma se debruçar sobre atuações — não sou ator, nunca estudei interpretação, e meu foco sempre foi a linguagem do cinema, o fazer cinematográfico. Mas há casos em que o desempenho salta aos olhos, e não por bons motivos. É quase impossível não comentar o desempenho de Eiza González aqui: sua tentativa de expressar pavor e agonia resulta em um esforço visível demais, quase constrangedor. A entrega é tão desconectada da atmosfera que o filme tenta construir que, em certos momentos, beira o cômico — e não de forma intencional.
Infelizmente, o problema não se restringe à protagonista. O elenco como um todo patina entre falas robóticas e reações forçadas, tornando difícil qualquer envolvimento emocional com o que está em jogo. O que deveria ser um clímax angustiante se dissolve em um terceiro ato desastroso, onde a grandiosidade prometida dá lugar a uma espécie de paródia mal feita de Prometheus. É tudo tão pretensioso quanto vazio — um final que quer soar impactante, mas termina apenas risível.

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Destaque

Caique Henry
Caique Henryhttp://estacaonerd.com
Entre viagens pelas galáxias com um mochileiro, aventuras nas vilas da Terra Média e meditações em busca da Força, encontrei minha verdadeira paixão: a arte. Sou um apaixonado por escrever, sempre pronto para compartilhar minhas opiniões sobre filmes e músicas. Minha devoção? O cinema de gênero e o rock/heavy metal, onde me perco e me reencontro a cada nova obra. Aqui, busco ir além da análise, celebrando o impacto que essas expressões têm na nossa percepção e nas nossas emoções. E-mail para contato: [email protected]
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