dom, 22 dezembro 2024

Crítica | Dois Irmãos – Uma Jornada Fantástica

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Março é certamente o mês de início da temporada dos Blockbusters, quando as produtoras realmente começam a jogar suas melhores cartas. A Pixar já vinha anunciando Dois Irmãos – Uma Jornada Fantástica desde o ano passado e, aqui no Brasil, ganhou mais gás durante a Comic Con, em dezembro. O segundo longa do diretor Dan Scanlon (Universidade Monstros) segue a fórmula Pixar de comunicação, trazendo problemas e frustrações da vida real para serem trabalhadas como metáforas, geralmente adequadas ao público infanto juvenil, em cima de personagens cativantes e divertidos. São muitos os exemplos, e pode-se dizer que o longa é uma mistura de todos os sucessos da produtora. Mas quem disse que isso é um bom indicativo?

Logo de cara, temos um prelúdio, narrado pelo protagonista Ian Lightfoot (voz de Tom Holland), um elfo adolescente, contando que, há muito tempo, seu mundo era dominado pela magia, usada para diversos fins e, com o avanço da ciência, os diversos povos foram aderindo às facilidades de cada novidade que surgira, até que ninguém mais dava bola aos truques dos magos elfos. Neste mundo, todas as raças da literatura de fantasia e jogos de RPG podem ser encontradas: trolls, fadas, unicórnios, centauros, gnomos e, pasmem, dragões (que são associados aos gatos e cães, como bichinhos de estimação). Ian é irmão mais novo do estranhamente descolado Barley (voz de Chris Pratt) e filho da viúva Laurel (Julia Louis-Dreyfus). A vida dos irmãos é virada ao avesso com o aparecimento de seu falecido pai (ok, não por completo), fazendo-os entrar numa jornada de muitas descobertas.

O pecado de Dois Irmãos – Uma Jornada Fantástica está justamente na execução da história. O roteiro (também de Scanlon) é repetitivo e bombardeia o público de informações ainda no primeiro ato que, mais tarde, percebe-se que de nada serviram. A própria trama do filme cai em sua própria armadilha quando, Barley encoraja seu irmão a usar magia para resolver problemas que o roteiro coloca de forma avulsa. Assim como em Abominável (2019), Dois Irmãos não tem senso de perigo, todas as situações são contornadas rapidamente e os quebra-cabeças, corriqueiros nos jogos de RPG (clara homenagem), são resolvidos num estalar de dedos que nem Thanos jamais ousou tentar. Outra coisa a pontuar é a total falta de criatividade: Um Morto Muito Louco (1989) é totalmente copiado nesta animação, que toma boa parte do tempo tentando fazer piadas, mas sem sucesso. A fotografia, em momentos, lembra muito filmes como O Senhor dos Anéis (2001) e Coração Valente (1995), com enquadramentos muito bons.

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O filme só engrena mesmo no ato final, quando se torna mais original (ainda que continue com as convenções do gênero), dando espaço para a conclusão da jornada que, a essa altura, percebida como mais intimista e menos geográfica. As mensagens que traz são bem finalizadas e repassadas ao público com primor, pena que tarde demais. Dois Irmãos – Uma Jornada Fantástica é um bom filme, diverte (até demais) e tem seus momentos reflexivos, mas é, certamente, uma colcha de retalhos e uma decepção em termos lógicos, apesar de ser uma animação. É um Abominável melhorado.

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