qua, 25 dezembro 2024

Crítica | Fantasma e CIA

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Em Fantasma e CIA (We Have a Ghost), após descobrir um fantasma com um passado obscuro em sua casa, uma família viraliza na internet e se torna alvo de uma agência do governo. 

Que um filme com alto teor saudosista serve de gatilho para um público nostálgico que se encanta com familiaridades a produções das décadas de 80 e 90 que fizeram sucesso na Sessão da Tarde, todos nós sabemos. O que não sabíamos é que toda essa pieguice amalgamada a inúmeros clichês, que tinha tudo para dar errado, acabaria entregando uma das obras originais mais divertidas da Netflix.  

Fantasma e CIA é uma produção que preza pelo simples e o que já fora visto anteriormente: uma criatura que não faz parte deste mundo, descoberta por um garoto solitário, com quem cria laços de amizade, e começa a ser perseguida por entidades governamentais. A clássica permissa estilo E.T.: O Extraterrestre e tantos outros filmes da Sessão da Tarde é devidamente atualizada, quando entra em cena a nociva dependência do mundo das redes sociais e a necessidade de se registrar o espetáculo. Mesmo sendo incluído na trama de forma cômica, há uma oportuna crítica à atualidade, destacando como se tornar sub celebridade da noite para o dia graças a internet pode acarretar numa vida fora da realidade, tal como um fantasma preso no mundo material.  

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David Harbour em “Fantasma e CIA”. Imagem: Netflix/Reprodução

O roteiro e a direção de Christopher Landon (A Morte Te Dá Parabéns 1 e 2, Freaky) tem como base o conto “Ernest”, de Geoff Manaugh, para criar uma narrativa dinâmica que chega a ostentar uma boa reviravolta e traços emotivos. Landon conduz o longa de forma frenética e bem humorada, tal como seus trabalhos mais recentes, com menos influências no terror slasher oitentista e mais referências a ficção científica infanto-juvenil. Por outro lado, não havia necessidade de Fantasma e Cia se estender a ponto de ter uma metragem de mais de 2 horas, podendo enxugar parte de explicações repetitivas e inusitadas sequências de ação que, apesar de divertidas, pouco acrescentam à trama.  

A simplicidade de Fantasma e Cia vai além de um roteiro simplório e, ao mesmo tempo, encantador. A produção também simplificou no quesito visual, contando com efeitos digitais um tanto inferiores ao padrão de qualidade atual, resultando em imagens embaçadas e animações em 3D que aparentam inacabadas. A mediana qualidade técnica dos efeitos é compensada por uma boa direção de arte, que foca nos detalhes arquitetônicos de um palacete do início do século XX.  

O ótimo elenco de Fantasma e Cia também é destaque. O filme conta com nomes de peso, como Anthony Mackie, aqui assumindo o papel de um pai ambicioso e protetor, Jennifer Coolidge, que vive uma cômica médium debochada, Tig Notario, na pele da pesquisadora paranormal Leslie Monroe, e David Harbour como o fanasma “Ernest”, personagem que exigiu do astro de Stranger Things boas expressões de incompreensão e tristeza, já que seu fantasma é impossibilitado de falar. Entre os membros do elenco jovem, se destacam os simpáticos e promissores Jahi Di’Allo Winston, como o protagonista Kevin, e Isabella Russo, que interpreta a esperta vizinha Joy, ambos esabelecem uma ótima química, ainda mais quando contracenam com o personagem de Harbour.

Trio protagonista de “Fantasma e CIA”. Imagem: Netflix/Reprodução

Contando com um ritmo divertido, que atrai o interesse de quem aprecia uma leve aventura familiar, além de contar com um elenco competente e uma direção que sabe quais rumos seguir e ainda apresentar discussões imporantes para a atualidade, mesmo estando relativamente presa a velhos clichês que impossibilitam o longa de ser mais que uma mera diversão, Fantasma e CIA é uma grata surpresa na Netflix, podendo render continuações ou eternizar o saudoso estilo “Sessão da Tarde” em um único longa.

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