Supremacia branca, neonazismo e a Ku Klux Klan são ideologias terríveis e devem ser combatidas. Com o passar do tempo, esse discurso sempre volta aos poucos, aparenta ser infindável e é necessário deixar claro que não existe questionamento, liberdade de expressão ou tolerância quando se trata de temáticas desse mesmo gênero. Estamos vivendo um momento assim e é por isso que esta obra é direta e sem rodeios.
Como seria possível imaginar algo como, um policial negro, o primeiro a trabalhar na Polícia de Colorado Springs. Depois de ver o telefone da Ku Klux Klan divulgado abertamente em um jornal local, resolver ligar e se passar por um deles? Pois a história de Ron Stallworth (John David Washington, da série “Ballers”) é tão verdadeira quanto inacreditável. E Spike Lee (“Ela quer tudo”, “Malcom X”) deixa bem claro que Ron é o herói, e a KKK, representada principalmente pelo nome de David Duke (Topher Grace, “Máquina de Guerra”), é a vilã, como de fato deve ser. Ainda assim o cineasta consegue harmonizar os extremos, e não torna a narrativa maniqueísta.
Nas conversas telefônicas, usa sua inteligência para criar laços com um dos líderes locais do grupo racista. E, com a ajuda de um colega policial branco treinado por ele, se infiltra na organização para investigá-la, se deparando com ódio infundado e planos de ataques terroristas.
Já dentro da KKK, o falso Ron Stallworth, que na verdade é o policial branco Flip Zimmerman (Adam Driver, “Star Wars: Os Últimos Jedi“), começa a tomar lições também para a sua própria vida. Judeu “não praticante”, o agente disfarçado corre risco de morte e é testado quase o tempo todo por um dos integrantes do grupo intolerante que desconfia de sua real identidade.
“Nunca havia pensado muito na questão de ser judeu, mas depois que entrei nessa, isso não sai da minha cabeça”, ele admite em uma das cenas. Mais uma forma sutil (ou não) de Spike Lee tentar abrir os olhos de seus espectadores.
Classificado como drama, policial e comédia, o filme se segura muito bem no gênero. O personagem principal sabe rir de si mesmo e os secundários –com destaque para um dos integrantes da KKK– arrancam risos ao longo do enredo, nem que sejam de nervoso.
A descrença de um dos oficiais de polícia com a força do discurso preconceituoso e sem fundamentos de David Duke é um bom exemplo: “Com essas ideias, um cara desse jamais vai chegar ao poder”. Risos.
Uma pitada de romance também é bem encaixada no roteiro, costurando o desfecho momentaneamente positivo, que logo vira um soco no estômago.
Apesar dos vários recados muito claros dados em diferentes formas, até mesmo com metalinguagem e referências diretas, há um último suspiro na reta final do filme na democrática tentativa de garantir que todos entendam a mensagem.
Spike Lee acha pouca realidade durante o longa e corta para 2017. Mais didático, impossível. O diretor se apoia em cenas reais dos protestos em defesa da supremacia branca em Charlottesville e também de atos em defesa dos negros nos Estados Unidos, no movimento batizado de “Black Lives Matter” (vidas negras importam).
O que se vê é o embate entre grupos e uma onda de violência generalizada nas ruas. Gente trocando golpes com bandeiras, pessoas sendo atropeladas e mortas, o ódio em seu estado mais bruto.
A estratégia foi vista por parte da crítica como uma das poucas falhas do filme. Mas “Infiltrado na Klan” é uma obra importantíssima e faz todo o sentido no momento atual, onde toda e qualquer ideia de superioridade de raças. É preciso ser bastante didático, na tentativa de evitar ainda mais confrontos. Retratar uma história ocorrida há tanto tempo, mas mais presente do que nunca em todo o mundo, é a prova viva de que a história nunca deve ser apagada, para que grandes erros não voltem a se repetir.