seg, 23 dezembro 2024

Crítica | Kimi: Alguém Está Escutando

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Essa crítica foi escrita por Matheus Simonsen. Siga ela nas suas redes sociais: Instagram

Steven Soderbergh filma muito rápido (praticamente todo ano lança ao menos uma produção nova) e este Kimi (2022), seu novo projeto, é notavelmente um trabalho de baixo custo, com curta duração e lançado direto no catálogo do HBO Max. E o mais interessante é que o diretor usa a pandemia da Covid-19 como pano de fundo para um techno-thriller num estilo recorrente na sua extensa filmografia.

Na trama, uma analista de áudios de uma empresa descobre durante seu trabalho evidências de um possível assassinato. Entre barreiras burocráticas e resistências, ela tenta levar a informação do crime para seus superiores e, para tanto, precisa superar seu maior medo: sair do apartamento.

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Assim como em Distúrbio (2018), o cineasta busca concentrar a narrativa inteiramente na protagonista. Angela, interpretada por Zoe Kravitz, é uma mulher antissocial e que sofre de agorafobia. Devido ao contexto em que a personagem se insere (a pandemia), ela consegue ser extremamente identificável para quase qualquer tipo de espectador. E é curioso notar como Angela já tinha problemas de sociabilização, mas a pandemia, naturalmente, intensificou todos eles. Uma das cenas mais ilustrativas disso ocorre quando a protagonista tenta se encontrar com um amigo que mora em frente ao seu apartamento: ao colocar as chaves na fechadura, ela não consegue sequer sair de casa.  

Um dos problemas, no entanto, desses filmes de menor orçamento de Soderbergh é trazer muito e trabalhar pouco. Se em parte ele se utiliza muito bem desses traumas e fobias de Angela, sua galeria de personagens secundários é muito fraca. A mãe da protagonista, por exemplo, aparece no máximo duas vezes no longa por facetime, revela pequenos conflitos entre as duas, mas o filme não retoma isso, e, mais adiante, simplesmente ignora. A Kimi que dá título à obra (e que se assemelha à Alexa ou à Siri) é multifuncional para coisas da casa e ainda serve de companhia para a protagonista na maior parte do tempo. E chega a ser engraçado pensar que toda a relevante questão dos dados pessoais – e do acesso das gigantes da alta tecnologia às nossas vidas – é deixada de lado pelo filme para que ele possa se centrar na trama do assassinato.

Kimi também tem dificuldade para transmitir o impacto que deveria ser causado pela primeira saída da personagem nas ruas de Seattle. Não apenas tudo ocorre de maneira muito rápida como as tomadas são francamente pobres e sem criatividade. Quando Angela precisa sair do apartamento para buscar ajuda, o espectador não consegue sentir da forma como deveria essa reunião de forças da protagonista para enfrentar sua agorafobia.

HBO Max/ Divulgação

O filme de Soderbergh acaba sendo um thriller funcional e que vai lembrar muita gente do recente suspense A Mulher na Janela (2021), da Netflix. Aliás, assim como o filme de Joe Wright, este se utiliza de referências muito diretas ao clássico Janela Indiscreta (1954), de Alfred Hitchcock. Zoe Kravitz carrega bem essa 1h30 de duração que acaba sendo um potencial um tanto desperdiçado em lugares comuns.

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