dom, 22 dezembro 2024

Crítica | Minha Irmã e Eu

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Recentemente, tem sido objeto de intensa discussão na comunidade cinéfila o crescente mergulho de Hollywood em um algoritmo cinematográfico, no qual seus filmes parecem seguir uma estrutura semelhante, tanto do ponto de vista formal quanto conteudista. Esse fenômeno é particularmente evidente no universo dos filmes de super-heróis, nos quais a indústria parece relutante em abandonar uma fórmula que, do ponto de vista mercadológico, demonstrou ser eficaz ao longo do tempo. Entretanto, ao analisarmos mais profundamente essa questão, é intrigante observar como, muitas vezes, negligenciamos nossa própria cinematografia. A produção cinematográfica da GloboFilmes, por exemplo, também adota uma abordagem algorítmica, seja na formalidade da estrutura, na estética visual ou no conteúdo narrativo. Nesse contexto, percebemos como a empresa brasileira estabelece uma ideologia dominante (exterior) de mercado. Sendo, portanto, uma explosão algorítmica destacando-se a “hipervalorização” do humor, que permeia grande parte dessas produções, buscando contar histórias que exploram temas como amor, superação e união.

A persistência dessas fórmulas, tanto em Hollywood quanto na produção nacional, suscita reflexões sobre os motivos por trás desse fenômeno. Será que os criadores estão presos a uma mentalidade de “fórmula segura” devido ao medo de arriscar inovações que possam não ser tão bem recebidas pelo público? Ou será que, em um mundo cada vez mais globalizado e conectado, a busca pela fórmula universalmente apelativa tornou-se uma prioridade em detrimento da originalidade? Ao observarmos criticamente essas tendências, é possível questionar se a algoritmização da produção cinematográfica, embora eficiente do ponto de vista comercial, não está, de certa forma, limitando a diversidade de narrativas e estilos no cinema. A busca incessante pela fórmula perfeita pode resultar em obras que, embora cumpram os requisitos comerciais, acabam por cair no imaginário popular de que o cinema nacional é ruim. Portanto, torna-se imperativo não apenas debater a presença desses algoritmos cinematográficos, mas também questionar a ausência de espaço para filmes mais independentes do nosso cinema nas regiões mais comerciais, assim gerando demanda e decisão de escolha do próprio espectador. À medida que continuamos a consumir e analisar filmes, é fundamental estar atento aos sinais de uma possível saturação algorítmica, incentivando a indústria a abraçar a diversidade, a experimentação e a ousadia criativa para assegurar um futuro cinematográfico do nosso país.

No filme “Minha Irmã e Eu”, sob a direção de Susana Garcia, somos apresentados à história das irmãs Mirian e Mirelly. Nascidas em Rio Verde, no interior de Goiás, as irmãs, apesar de compartilharem o mesmo sonho inicial de se tornarem uma dupla sertaneja, seguiram caminhos divergentes na vida. Mirian, estabelecida em sua cidade natal, optou por se casar e abraçar a serenidade da rotina interiorana, enquanto Mirelly, de maneira menos explícita para a família, enfrentou os desafios e perrengues do Rio de Janeiro em busca de seus próprios objetivos. As diferenças entre as duas resultam em conflitos constantes, criando um cenário de “pé de guerra” entre as irmãs. Contudo, o enredo ganha uma reviravolta significativa quando Dona Márcia, a mãe das protagonistas, desaparece misteriosamente. Diante desse acontecimento, Mirian e Mirelly são compelidas a deixar de lado suas discordâncias e se unir em uma busca angustiante por sua mãe. Essa jornada, que as leva a uma viagem inesperada, não apenas coloca à prova a força dos laços familiares, mas também oferece a oportunidade de transformação nas vidas das irmãs.

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Minha Irmã e Eu se insere no algoritmo da Globo Filmes de maneira consistente, utilizando seu humor como fio condutor para uma narrativa centrada no amor entre duas irmãs e na jornada de autodescoberta. No entanto, não se pode deixar de notar que o longa parece se enquadrar em uma fórmula já explorada em diversas produções, dando a impressão de que estamos diante de uma trama que já foi contada inúmeras vezes. Essa observação é feita de maneira formal, considerando a recorrência de elementos já conhecidos. A direção de Susana Garcia, parece seguir os mesmos moldes já identificados em suas obras anteriores, e até mesmo em filmes de outros diretores. O humor, que em grande parte é sustentado pela talentosa Tatá Werneck, proporciona risadas genuínas, mas em certos momentos, se perde em exageros que parecem deslocados, como se o característico exagero do gênero perdesse seu timing, resultando em piadas que se mostram fora de sintonia e não estimulam efetivamente o espectador. Afinal, estamos diante de um gênero que depende significativamente desses estímulos imediatos.

No entanto, o aspecto que mais suscita minha inquietação é a aparente falta de comunicação entre a obra e o público. Susana Garcia, apesar de sua vasta experiência na direção, parece não estabelecer uma conexão efetiva entre a tela e o espectador. Isso contrasta com seu histórico em filmes como “Minha Mãe é uma Peça” e “Os Homens São de Marte e é para lá que Eu Vou”, nos quais ela conseguiu criar um humor irreverente e inteligente, ao mesmo tempo em que explorava temas como maternidade e autodescoberta, emocionando e divertindo o espectador. No filme “Minha Irmã e Eu”, a diretora mergulha em uma miscelânea de temas sem explorá-los, buscando incessantemente gerar humor sem alcançar o sucesso esperado. A questão não é a ausência de temas profundos, mas sim a apresentação deles sem ao menos um desenvolvimento, como a personagem de Ingrid que demonstra a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil, um tema que coincidentemente foi abordado na redação do Exame Nacional do Ensino Médio. Tudo isso, portanto, contribui para a sensação de desconexão entre o filme e o público. Neste sentido, embora Susana Garcia tenha se mostrado uma ótima autora, parece não acertar em seu mais novo lançamento.

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Caique Henry
Caique Henryhttp://estacaonerd.com
Entre viagens pelas galáxias com um mochileiro, aventuras nas vilas da Terra Média e meditações em busca da Força, encontrei minha verdadeira paixão: a arte. Sou um apaixonado por escrever, sempre pronto para compartilhar minhas opiniões sobre filmes e músicas. Minha devoção? O cinema de gênero e o rock/heavy metal, onde me perco e me reencontro a cada nova obra. Aqui, busco ir além da análise, celebrando o impacto que essas expressões têm na nossa percepção e nas nossas emoções. E-mail para contato: [email protected]
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