sex, 19 abril 2024

Crítica | Neymar: O Caos Perfeito

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O documentário é um gênero do cinema que possui muitas semelhanças com o jornalismo, um deles é o foco nos fatos e pessoas reais. A “investigação” que é feita, serve para mostrar todas as faces de um problema ou mostrar como um determinado fato mudou a vida das pessoas, que são o foco da produção. No caso de Neymar: O Caos Perfeito, nova série documental da Netflix, o objetivo é bem mais complexo: mostrar quem é o homem por trás do atleta e da celebridade mundial.

A série é dirigida pelo estreante David Charles Rodrigues e, conta com a produção executiva de LeBron James (Space Jam: Um Novo Legado) e Maverick Carter. Vemos na série Neymar Jr. desde de sua infância humilde até o seu desempenho na Liga dos Campeões jogando pelo Paris Saint-Germain Football Club. Entre o início de sua jornada até o fim de 2020, vemos também alguns momentos íntimos do jogador com a família e as polêmicas em torno dele, tudo isso em três episódios de uma hora cada.

Netflix/ Divulgação

Quem acompanha o futebol brasileiro sabe das pressões que um jogador de futebol passa. Diariamente vemos na TV programas esportivos cobrando desempenho, compromisso e outras coisas (que às vezes nem cabe ao atleta). Isso sem falar da torcida que confunde paixão com violência e ultrapassa alguns limites. Tudo isso acontece com um atleta comum. Qual é a pressão em cima de um atleta de renome internacional como Neymar, alguém que surgiu aos 15 anos e já foi comparado a lenda Pelé ? É uma “pressão” monstruosa, e assim, com o sucesso vem a fama e com ela os problemas.

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Jogadores como Messi e Cristiano Ronaldo conseguiram equilibrar bem a fama com o esporte. Neymar é um caso em que o caos em torno de sua figura se torna tão grande quanto ele, e às vezes, ofusca o lado esportivo. O que para a torcida e os comentaristas é um prato cheio para tumultuar a vida do craque. A missão do documentário em mostrar o lado humano do ícone esportivo, tem os seus acertos e erros.

Entre os acertos do documentário estão a escolha por uma narrativa não linear, a ida ao passado e futuro de modo – aparentemente aleatório e caótico – na verdade serve para justificar e até aprofundar certas questões apresentadas na tela e funciona, dando aos episódios bastante dinamicidade e sem deixar a narrativa cair no marasmo. Questões do âmbito pessoal do atleta são abordadas de modo sensível e respeitoso. Nos momentos de silêncio vemos que a pressão sobre uma pessoa tão jovem é esmagadora. No início de sua jornada no Barcelona ​​Neymar admite ter caído em lágrimas no vestiário por causa disso. O peso da nação brasileira na Copa do Mundo de 2014 no Brasil e a lesão que quase encerrou sua carreira também são abordados e nesses momentos podemos ver o Neymar humano, que tem medo e que é frágil. Porém esses são os poucos momentos que temos essa visão.

A produção foca nos altos e baixos da carreira do atleta, mas peca por focar muito – muito mesmo – nos altos. Polêmicas são abordadas de modo leve ou até mesmo superficial. Exemplos: a grande polêmica envolvendo Najila Trindade que acusou o jogador de estupro e apresentado de modo extremamente cirúrgico e o caso envolvendo acusação de funcionária da Nike sobre suposto assédio sexual do atleta não é nem citado. Os depoimentos apresentados servem, em sua maioria, apenas para engrandecer a figura de Neymar como atleta. Os “parças” que são apresentados como alicerces do craque aparecem o tempo todo, mas não dão um depoimento sequer sobre quem é Neymar fora das quatro linhas/holofotes.

Netflix/Divulgação

Essa escolha por engrandecer os altos da carreira e mostrar as polêmicas de modo raso, faz com que a obra se torne quase que uma propaganda de três horas sobre a marca Neymar. A relação familiar entre Neymar pai e filho também é abordada e surpreende ao mostrar que hoje a relação entre eles é mais de empresário e empresariado, do que pai e filho. O pai em 90% das vezes em que participa só parece estar focado no negócio, focado em otimizar a marca do jogador. A preocupação do pai com o bem-estar/carreira de seu filho e louvável, mas como aqui é apresentada se torna exagerada. Quando Neymar tem “seu direito de resposta” só fala: “Eu não ligo para os que os outros pensam…” Então qual é o sentido de realizar uma produção desse porte? Financeiro? Jogada de marketing? Um modo falho de tentar mostrar ao mundo que ele é outra pessoa por baixo de todas as expectativas criadas sobre ele? Fica a dúvida.

Neymar: O Caos Perfeito é uma série documental que serve apenas para alimentar o super ego de Neymar e falha em retratar a pessoa por trás do mito. Os fãs vão adorar a produção, mas quem olhar atentamente pode perceber que tudo apresentado é feito apenas como mais uma jogada de marketing para engrandecer à figura e a conta do craque.

Neymar: O Caos Perfeito estará disponível exclusivamente na Netflix em 25 de janeiro de 2022.

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Hiccaro Rodrigueshttps://estacaonerd.com
Eu ia falar um monte de coisa aqui sobre mim, mas melhor não pois eu gosto de mistérios. Contato: [email protected]
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