seg, 23 dezembro 2024

Crítica | Ninguém Vai te Salvar (No One Will Save You)

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Nessa sexta-feira (22/09) estreou na Hulu um novo filme de terror sobre invasões alienígenas, no Brasil a distribuição fica por conta do Star+. Apesar de se tratar de um tema já amplamente explorado pelo cinema, o longa gerou bastante burburinho por conta de algumas decisões criativas não tão usais, agora resta analisar se elas foram bem aproveitadas.

Pois bem, o principal diferencial de No One Will Save You que o destaca em relação aos demais filmes do gênero é a opção por contar a história inteira completamente sem diálogos, em nenhum momento. Essa decisão tira o cineasta de sua zona de conforto, exigindo dele o mínimo de criatividade para lidar com a ausência de conversas. Mas, desde logo, é preciso pontuar algo: não basta quebrar regras ou convenções e esperar que isso, por si só, torne seu filme bom. Novas abordagens são sempre bem-vindas, no entanto o restante da obra também precisa funcionar. Logo, não é porque um filme está propondo algo fora da curva que se torna automaticamente imune à toda e qualquer crítica.

O primeiro ato é o ponto forte do projeto, em apenas alguns minutos o diretor consegue comunicar tudo que precisa ao espectador: a protagonista, Brynn, reside em uma pequena cidade no interior dos Estados Unidos, ela perdeu sua mãe e, por algum motivo que só será revelado posteriormente, é considerada persona non grata em sua comunidade, motivo pelo qual a garota leva uma vida isolada, o que já adianta algumas coisas quando você pensa no título do filme. Sem se apoiar em diálogos ou narração, o longa realmente “mostra, ao invés de contar” uma das regras de ouro do cinema. Numa era de exposição exagerada foi refrescante assistir esses momentos iniciais.

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Outra cena de ouro é a que retrata a primeira invasão, a tensão é altíssima, afinal de contas estamos acompanhando uma jovem sozinha em casa, com poucas maneiras de se defender de um inimigo desconhecido e ela sequer pode chamar ajuda, já que “ninguém a salvaria”. Cada pequeno barulho gera uma aflição imensa, de roer as unhas. Por outro lado, Brynn é inteligente e pensa em saídas para se livrar da situação em que se encontra, estamos acompanhando alguém que é uma lutadora e uma underdog, justamente por isso, é tão fácil torcer por ela.

No entanto, a cada novo encontro com os alienígenas, eles vão gradualmente perdendo o impacto. Na primeira aparição só víamos os contornos das criaturas nas sombras, depois de um tempo elas passam a aparecer toda hora, inclusive closes de seus rostos. Quanto mais vemos, mais ficamos acostumadas e menos elas são ameaçadoras. Para piorar, além do visual ser o de um ET tradicional, nada inventivo, o design dos olhos grandes acabou deixando os aliens “fofinhos” ao invés de assustadores. Por algum motivo o diretor achou que conseguiria me convencer de que eu deveria temer o etezinho do Spielberg.

A opção por não incluir diálogos que foi tão bem aproveitada no começo da narrativa, em algumas outras passagens não casa tão bem, em especial na cena do ônibus. Decisões criativas tem que se justificar no contexto da obra, e isso nem sempre ocorre aqui, a impressão que fica é a de que o filme seria obrigatoriamente “mudo” para poder ser vendido assim e causar buzz, ao menos dentro da bolha. Quando o espectador começa a perceber essas ocorrências, inevitavelmente ele “sai do filme” e a experiência já está prejudicada.      

Para contornar o silêncio consequente da ausência de conversas, a equipe de som faz um trabalho excelente, os ruídos emitidos pelos bichos são a única coisa ameaçadora sobre eles e quando andam fazem um barulho incômodo de ossos estralando. A atmosfera de terror é amplamente estabelecida graças aos sons desconfortáveis que causam gastura. A trilha sonora também é certeira e entra em momentos pertinentes, uma música em específico é usada como uma espécie de foreshadowing irônico no início do filme e se repete no final com a mesma ironia. A experiência numa sala de cinema possivelmente teria sido ainda mais rica, infelizmente tudo indica que, provavelmente, não seria tão rentável, por ter um público alvo mais nichado.   

Também vale destacar com louvores a atuação de Kaitlyn Dever, a quem é confiada a tarefa de carregar sozinha a trama, sem falar (quase) nenhuma palavra, precisando se expressar exclusivamente através do olhar e das nuances faciais, e a jovem não desaponta em nada, o medo é estampado nos olhos arregalados e apenas um sorriso já é o suficiente para estabelecer seu carisma. A performance dela tem força no silêncio.

No One Will Save You começa bem e o desfecho é igualmente satisfatório, durante o desenvolvimento se perde um pouco, mas, por sorte, se recupera antes de chegar a ficar cansativo.

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Raíssa Sanches
Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
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