qui, 2 maio 2024

Crítica | Nyad

Publicidade

Cinebiografias sempre existiram e sua popularidade não é um fenômeno recente, mas diante de uma boa resposta do público que parece sempre interessado em descobrir “histórias reais” somado a um reconhecimento continuo nas premiações de cinema, esse formato de filme tem chamado a atenção dos estúdios cada vez mais. Só no segundo semestre desse ano, a própria Netflix já disponibilizou em seu catálogo o divisivo “O Conde” e antes do final do ano estreia na plataforma “Maestro”, seguindo essa leva de biopics, essa semana chegou ao serviço de streaming, “Nyad”, a história de uma nadadora famosa por ter completado a nado a travessia de Havana, Cuba até a praia Key West, Florida aos 64 anos de idade. O percurso era, até então, considerado humanamente impossível, não só pela distância a ser percorrida – 110 milhas ou 177 quilômetros – mas também, pelo fato da área ser habitada por diversas criaturas marinhas perigosas, entre elas, águas-vivas e tubarões.

A narrativa de superação de uma mulher que o mundo já considerava velha demais para ter relevância no meio esportivo é realmente interessante de acompanhar, ao menos nos quarenta minutos iniciais, ela se mostra obstinada e se recusa a se enquadrar na caixa de mediocridade que a sociedade pretende coloca-la por conta da idade. Ela tem uma disciplina admirável e uma força vital que faz com que o espectador queira torcer por ela e nesse sentido, a história se escreve sozinha. A cereja do bolo é a vivacidade da performance de Annette Bening que interpreta a protagonista com muito comprometimento, colocando-a como uma possível candidata a nomeação para o Oscar de melhor atriz.

Mas ainda que Bening faça um trabalho excelente, quem rouba todas as cenas mesmo é Jodie Foster – outra possível candidata a ser nomeada, mas como melhor atriz coadjuvante. Ela dá vida à treinadora Bonnie, responsável por garantir o condicionamento físico e emocional da atleta durante sua preparação e seu bem-estar ao longo do desafio que levou aproximadamente 53 horas. Ela é o ponto de equilíbrio de Nyad, já que faz o contraponto de lucidez que a protagonista, por vezes, ignora. Sem nunca deixar de abraçar o sonho da amiga de longa data, Bonnie busca sempre trazer uma visão mais racional acerca da difícil jornada que terão pela frente. Ela é o ponto de apoio da personagem principal e também o fio emocional do filme, o espectador se enxerga nela para torcer por Diana, mesmo se frustrando com seus comportamentos em dadas situações.

Publicidade
divulgação: netflix

A despeito das excelentes performances e de um bom começo, o filme vai gradualmente perdendo sua força, quando deveria justamente ser o oposto. A proposta motivacional é a identidade do projeto, mas se de início consegue atingir isso de forma orgânica, conforme a narrativa avança os clichês vão se empilhando e a partir de um certo momento o filme vira um apanhado de frases de coach, desperdiçando, inclusive, o potencial do elenco que não precisaria de um texto tão explicativo para transmitir sua ideia ao público. Por exemplo, todo perigo enfrentado pela nadadora está escancarado em diálogos expositivos ao invés de ser simplesmente mostrado, contrariando a premissa do cinema “show, don’t tell” (mostre, não conte).

Além disso, algumas passagens se tornam excessivamente dramatizadas e na tentativa desesperada de dar mais peso à trama acaba por ter o efeito rebote, caindo no caricato. Os realizadores se esforçam tanto para determinadas cenas serem tão profundas que culminam na comédia involuntária, a intenção era fazer chorar e eu acabei rindo ou revirando os olhos. O material base já era suficientemente impactante e um projeto menos teatral teria potencializado ainda mais essa história, deixando que ela falasse por si só. É claro que florear a narrativa faz parte do formato cinematográfico e isso não é condenável, o problema aqui é a forma nada criativa como isso é feito, apelando o tempo todo para frases de efeito.

No saldo geral, é um filme medíocre, no sentido de estar absolutamente dentro da média. E pode até ser uma opção interessante para toda a família. Infelizmente, desperdiça a chance de ser muito mais do que isso.

Publicidade

Publicidade

Destaque

Crítica | Garfield – Fora de Casa

Consagrado nos quadrinhos desde que foi criado por Jim Davis em...

Crítica | O Véu

Conhece heroínas chamadas Portia ou Imogen? O que elas...

Prime Video | Confira os lançamentos de Maio de 2024

O Prime Video anuncia os lançamentos e destaque no...

Critica | Megamente VS Sindicato da Perdição

O filme Megamente, lançado em 2010, marcou uma importante...
Raíssa Sanches
Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
Cinebiografias sempre existiram e sua popularidade não é um fenômeno recente, mas diante de uma boa resposta do público que parece sempre interessado em descobrir “histórias reais” somado a um reconhecimento continuo nas premiações de cinema, esse formato de filme tem chamado a atenção...Crítica | Nyad