O novo longa de Wes Anderson que fez sua estreia em Cannes esse ano com reações mistas, chegou aos cinemas brasileiros na quinta feira da semana passada (29/05). No filme, seguimos a história de um magnata propenso a sobreviver, a despeito dos melhores esforços de seus inimigos para por fim a sua vida, que decide se conectar com sua filha – a única menina, dentre seus 10 descendentes – e torna-la herdeira de sua fortuna, quando sua hora finalmente chegar.
O Esquema Fenício é, de certa forma, um retorno ao cinema de Wes Anderson que mais se aproxima de O Grande Hotel Budapest e Os Excêntricos Tenenbaums, do que de suas obras mais recentes. Quanto a temática, volta a lidar com complexas relações familiares, morte e questões sucessórias, que se abordadas de forma leve, a partir de seu típico humor deadpan. Ao passo que, em termos de estilo, continua o diretor-artesão de sempre, mantendo o cuidado estético de seu design de produção, que lhe é tão característico, bem como a composição visual cuidadosa de suas cenas, com os personagens simetricamente enquadrados. Tudo que conhecemos e podemos esperar de um filme de Anderson está lá: os elegantes travelings, o zoom, o tratamento de cores, as apostas em tons pasteis, os cenários estilizados, tudo mesmo.
Contudo, dizer que Wes preserva sua identidade visual – e temática – mantendo o estilo que vem aprimorando ao longo de sua carreira, não é o mesmo que sugerir que o diretor está operando no piloto automático e nada mais tem a oferecer. Pelo contrário, o cineasta continua criando ótimos filmes, feitos com um inegável cuidado e carinho, sem abrir de sua assinatura. É claro que ser autoral e ter desenvolvido um estilo próprio também não automaticamente sinônimo de ser um bom diretor. No caso de Wes, seu estilo tem funcionado e o diretor tem conseguido combinar com êxito os elementos acima citados em ótimos filmes.

Especificamente em O Esquema Fenício, enquanto cada plano parece uma obra de arte que poderia ser emoldurada e pendurada na parede, acompanhamos uma turbulenta e divertida relação entre três personalidades opostas: um milionário sem escrúpulos, sua filha que pretende se tornar freira e o tutor da família que nutre uma obsessão por insetos – aqui vale o destaque para a excelente participação de Michael Cera que se encaixou como uma luva nesse universo Andersoniano.
O filme também aborda uma espécie de realidade pós vida (ou pós morte) todas as vezes que o protagonista chega perto de falecer. Lá ele passa por um julgamento de todas suas ações enquanto vivo. Esses segmentos, apesar de breves, são os melhores da obra, e ressaltam vez essa tendência do diretor de abordar temas sombrios ou profundos a partir do humor.
O Esquema Fenício pode até não reinventar a roda, mas diverte, encanta os sentidos e me manteve com os olhos grudados na tela. Porém, o filme vai além de um passatempo momentâneo – o que não seria nenhum demérito – e o impacto da relação pai-filha é sentido mesmo depois de muito tempo que os créditos rolam.