dom, 22 dezembro 2024

Crítica | O Filme da Minha Vida

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Há quem diga que o cinema brasileiro não pode presentear os cinéfilos do Brasil afora. “O Filme da Minha Vida” está aí para mostrar justamente o contrário. Dirigido por Selton Mello, o longa chega com uma essência diferente do que costuma-se ver nas produções brasileiras. Com um ar nostálgico e clara influência europeia (“O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” e “Cinema Paradiso”, por exemplo), ele consegue encantar não só nos aspectos técnicos, mas também com um roteiro muito interessante de se acompanhar.

Situado em Remanso, Serra Gaúcha, o filme mostra a volta de Tony (Johnny Massaro) à sua terra natal, e encontra a mãe se despedindo do pai Nicolas (Vincent Cassel), que volta para a França, seu país de origem. Tony torna-se professor de francês e passa a viver de perto os problemas e descobertas da adolescência não só dele, mas também dos alunos. Entre as idas e vindas da cidade grande – buscando ‘deitar-se’ pela primeira vez com uma mulher e assistir aos filmes em cartaz (só havia cinema na região metropolitana) -, a verdade sobre a partida do seu pai vem a tona e ele precisa decidir qual caminho deve tomar em relação a isso.

O roteiro, adaptado do livro “Um Pai de Cinema” do chileno Antonio Skármeta, aparentemente simples, conta uma história muito bem construída e com enigmas a serem desvendados no fim. Selton Mello e Marcelo Vindicatto criam uma narrativa na qual o espectador caminha junto ao protagonista em direção a todas as descobertas e às verdades.

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Além de dirigir, Selton Mello também atua no papel de Paco e sua personagem é incrível. Há uma cena no filme (se quiser saber qual é a cena, a palavra-chave para ela é porco) que tem um diálogo sensacional (não só cômico, mas também revelador a respeito da sua essência). A direção de Selton encanta. Ele opta por gravar, predominantemente, em lugares abertos, e não em estúdio. Isso faz com que ele explore muito bem o ambiente tratado. Todas as cenas são muito bem dirigidas, e não há diálogos desnecessários. Além disso, a sutileza dos momentos em silêncio são fundamentais para breves pausas do filme, e acontecem nos momentos certos.

Outra coisa que chama atenção é a fotografia do longa. Quem fica responsável por ela é Walter Carvalho, e combina perfeitamente com o trabalho de Selton Mello. Walter sabe usar perfeitamente o posicionamento da câmera, ao mantê-la parada para aproveitar o diálogo em evidência, ou criar uma intensa movimentação, fazendo com que quem o assista sinta a agitação do protagonista. A paleta de cores tradicionalmente em sépia, traz às telas o ar de nostalgia que o longa precisa. A trilha sonora mistura muito bem a influência francesa com a jovem guarda brasileira e, por isso, faz com que a imersão do espectador seja maior do que se imagina.

Depois do fantástico “O Palhaço”, Selton Mello mostra que realmente sabe o que faz e presenteia quem assiste ao longa com essa obra de arte, fazendo o espectador se encher de alegria e orgulho da força que o cinema brasileiro pode ter.

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João Marcelo Liguori
João Marcelo Liguori
Apaixonado por cinema e pelo universo nerd. Estudante de Engenharia Civil e crítico de filmes. Salvador, Bahia. :) Para entrar em contato: ⬇︎
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