qua, 1 maio 2024

Crítica | Resistência

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Resistência (The Creator), ambiciosa ficção-científica lançada pela 20th Century Studios, mostra um futuro não muito distância onde homens e máquinas travam uma intensa batalha pelas suas existências. No filme, o ex-agente Joshua (John David Washington) é recrutado para localizar e matar o Criador – um misterioso arquiteto responsável por desenvolver uma arma capaz de fazer a humanidade perder o confronto. Joshua e sua equipe partem, então, para um território sombrio ocupado pela IA, mas acabam fazendo uma descoberta chocante: a arma que devem destruir é, na verdade, uma inteligência artificial em forma de criança com habilidades especiais.

Não é de hoje que o cinema sente a necessidade de abordar narrativas que envolvam tanto a ascensão quanto os, ora fantasiosos, ora verossímeis, malefícios da Inteligência Artificial. Tornando ao ranking dos fatos mais comentados na atualidade, a IA, por basicamente andar de mãos dadas às nossas e ironicamente caber dentro do nosso bolso, vem tomando conta de atividades profissionais até então inócuas, como uma simples redação, anúncios e peças publicitários, até às mais complexas simples produções de vídeo, como vinhetas e créditos de abertura de alguma produção, reconstrução facial e de voz, o que vem sendo altamente criticado por figuras públicas que teriam suas expressões e trejeitos reproduzidos pela máquina. Tal como inúmeras produções do gênero ficção-científica, que está sempre adicionando ao prato de conteúdo duras porções de realidade, Resistência (The Creator) acena para os possíveis perigos da tecnologia, mas, tal como algumas dessas mesmas produções o fazem, acrescentam sentimentos e argumentos plausíveis para considerar uma convivência em harmonia com a Inteligência Artificial.

A partir de um simples argumento de que, para o Ocidente, a tecnologia se tornou uma arma de alto risco, além de ter sido responsável por um evento catastrófico que dizimou vidas humanas e ocasionou na destruição material e egocêntrica dos Estados Unidos da América, Resistência, em seus primeiros minutos, mais funciona como um filme de guerra do que uma fábula futurista sobre diferenças e descobertas de semelhanças. O fator “more human than human”, explorado de maneira louvável em longas, como, Blade Runner 2049 (Denis Villeneuve, 2017) e o clássico A.I. – Inteligência Artificial (Steven Spielberg, 2001), deveria ser o ponto forte do novo filme da 20th Century Studios, já que a abordagem de perseguição e opressão contra uma sociedade marginalizada, como é o caso das máquinas neste longa-metragem, vem a tona, se mostrando como uma produção que acena para questões sócio políticas, utilizando de precauções e até medos reais contra tecnologias avançadas para a realizações de suas analogias. Porém, o roteiro de Gareth Edwards e Chris Weitz – dupla esta de confiança da Walt Disney, por terem realizado Rogue One: Uma História Star Wars – fracassa ao desenvolver tanto o humanismo construído das máquinas, quanto as ações e motivações de ambos os lados da guerra, resumindo uma história que chama atenção por ser associada a futuro não muito distante, apesar de reciclada e amalgamada a clichês, em situações demasiadas, o que acaba por estender a metragem do projeto, e de fácil resolução.

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Imagem: 20th Century Studios

Beirando ao simplório, o roteiro de Resistência ainda sofre com repetições e, como mencionado antes, reciclagens não só de temáticas, como de situações e até estéticas visuais presentes em produções semelhantes. É possível se deparar com “pedaços” de Blade Runne, Ex-Machina, Alita: Anjo de Combate, O Exterminador do Futuro (vale até destacar uma divertida referência estética ao segundo filme da franquia que os fãs logo irão notar), Ghost in the Shell e até, pasmem, Avatar. A narrativa não se preocupa em dar força a importância de o Criador, personagem título (na versão original) do filme, mesmo atribuindo uma mitologia interessante sobre sua existência que não é desenvolvida. A revelação da verdadeira identidade da personagem, que não era bem um mistério para quem prestou atenção no longa desde a premissa, também ocorre de maneira apática e acelerada.

Dispondo de um grande elenco, composto por John David Washington, Gemma Chan, Ken Watanabe, Alisson Janney, entre outros, Resistência também sofre com personagens mal escritos e desenvolvidos, que impediram grandes astros darem o melhor de si. Há, por outro lado, bons momentos de interação entre Washington, Chan e Watanabe, além de icônicas expressões de espanto deste último, que aleatoriamente nos remetem a Godzilla de Gareth Edwards (2014). Janney e Ralph Ineson são pouco aproveitados como militares vilões que buscam por vingança e conquistas, descritos com frases de efeito e ações piegas. Quem de fato surpreende, mesmo com uma precária condução de elenco do longa, é a atriz mirim e estreante Madeleine Yuna Voyles, que interpreta a co-pritagonista Alphie, talvez a única personagem bem escrita de Resistência. Joshua, de David Washignton, é um herói falho, verdadeiramente humano, que busca mais interesses próprios do que apoiar a causa, típico protagonista padrão em filmes desse gênero e estilo.

Ken Watanabe em Resistência. Imagem: 20th Century Studios

Geralmente, os filmes de Gareth Edwards dispõem de uma longa introdução, um desenvolvimento detalhista e, finalmente, a explosão de acontecimentos que desencadeiam um clímax de tirar o fôlego. O diretor mostrou eficiência nessa abordagem desde seu longa de estreia, Monstros (2010), até seus dois projetos de mais renome: Godzilla (2014) e Rogue One: Uma História Star Wars (2016). A tal longa introdução, detalhismos e momentos finais eletrizantes também são notáveis em Resistência. Apesar do precário roteiro, não se pode negar que o universo criado para o longa tem a ambição de ser extenso e com interessantes possibilidades. Quanto à ação presente no filme, não há o que desaprovar. Existe aqui uma excelência no manuseio de efeitos visuais computadorizados e práticos. Por mais que o visual do longa remeta a outras produções do gênero, o detalhismo e esmero na construção dos efeitos do longa se sobressaem. Edwards sabe conduzir boas cenas de ação e não faz diferente aqui, apesar de escorregar em suas próprias ideias na hora de finalizá-las dentro da história. Uma observação curiosa é que Resistência é o terceiro filme seguido do diretor cujos acontecimentos primordiais para o desenvolvimento da trama se dão após uma tragédia familiar que acaba por separar os membros desta.

Por fim, é possível considerar que Resistência é, de fato, um projeto cheio de ambições que, infelizmente, não conseguiu se sustentar, se tornando simples demais para toda a sua complexidade idealizada. Bons efeitos, cenários, direção de fotografia e cenas de ação conseguem salvar o longa de um grande desastre, mas não superam por completo o fato de o roteiro faltar inteligência e ser altamente artificial.

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