O suspense é tido no cinema como uma narrativa que consiste em retardar determinadas ações, a fim de criar no espectador um tipo de ansiedade ou angústia sobre os acontecimentos que virão a seguir. A produção Sem Saída dirigida por Damien Power (Peekaboo), a partir de um roteiro escrito pela dupla Andrew Barrer e Gabriel Ferrari (Holidays), baseado no romance de 2017 de mesmo nome escrito por Taylor Adams, foge desse conceito e usa e abusa de alguns clichês para contar sua história.
A trama de Sem Saída acompanha uma jovem a caminho de uma emergência familiar que fica presa na estrada por conta de uma nevasca e é obrigada a se juntar com um grupo de estranhos para esperar o tempo melhorar. No entanto, quando ela descobre uma garota sequestrada em uma van, entra numa luta de vida ou morte para descobrir quem é o sequestrador. A sinopse acima apresenta uma trama que deve ser um verdadeiro jogo entre gato e rato, mas a direção de Power pouco consegue fazer com essa proposta. O começo do filme é animador e somos apresentados a protagonista. A direção mostra, de modo proposital, que ela não é uma flor de virtudes. Algo que poderia ser um tiro no pé, mas que no fim funciona e consegue mostrar quem é a pessoa que está enfrentando essa terrível situação. Porém, a partir daí o restante do filme vai introduzindo situações que já foram vista e revistas em outros filmes. Diversos clichês são inseridos para contar essa história que poderia ser um interessante suspense psicológico, mas a produção perde diversas chances de fazer isso. O desenvolvimento da cena na qual, os personagens jogam cartas é um exemplo, de uma oportunidade perdida pelo roteiro da dupla Barrer e Ferrari. Nem a direção e nem o roteiro conseguem gerar tensão ou momentos que ponham o espectador para pensar.
Os demais personagens da trama são apresentados de modo unidimensional, eles são o que são é fim. Temos um casal vividos por Dale Dickey (Bloodline) e Dennis Haysbert (Obsessão Secreta), David Rysdahl (Black Swell) interpretando um jovem antissocial e Danny Ramirez (Falcão e o Soldado Invernal) como um jovem atleta. O grande destaque, acaba sendo a atuação de Havana Rose Liu (Mayday), que interpreta uma final girl extraordinariamente complexa.
O plot twist da trama acontece e não faz o mínimo de sentido. Tudo acontece de modo muito forçado, mas esse acontecimento “aleatório” é de um tipo que consegue movimentar à trama e melhora a articulação entre os personagens. No fim, quando tudo acaba fica a sensação de que a produção poderia ser melhor desenvolvida, pois tinha potencial para isso. O terceiro ato é o melhor de todo o filme e o uso da violência melhora bastante a dinâmica da história, que carece de urgência e até de um certo alarde.
Existe uma pequena diversão em assistir Sem Saída, que é a de junto com a protagonista tentar descobrir quem é o vilão, mas o que poderia ser um jogo tenso de dedução, se perde e mostra cedo demais a sua revelação, que é bem previsível. Às vezes, esconder o jogo pode ser algo prazeroso, em especial, num filme de suspense.