sáb, 27 abril 2024

Crítica | Tá escrito

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Todo filme é um reflexo do seu tempo, pois é concebido por indivíduos imersos na realidade, que pensam e experimentam o mundo ao seu redor. Nesse contexto, observamos o atual período da arte cinematográfica dedicado à exploração da geração que está se tornando adulta: a geração Z. Essa presença não se limita apenas ao romance teen, estendendo-se ao terror, como evidenciado em “Fale comigo” e “Morte, morte, morte”, e também à comédia. Se o cinema é, de fato, um espelho do seu tempo, a comédia da geração Z é profundamente influenciada pelo contexto histórico e social em que está inserida. Os membros dessa geração, nascidos entre 1990 e 2010, cresceram em um ambiente totalmente digital, permeado pela ubiquidade da internet, das redes sociais e por uma busca incessante por estímulos intensos. Assim, a comédia Z se manifesta por meio de um humor fortemente referencial, alimentado por memes e tendências online.

Um aspecto significativo é o ativismo social característico da geração Z, que deixa sua marca na comédia, utilizando o humor como uma ferramenta para destacar questões sociais e políticas. A sátira é frequentemente empregada para provocar reflexões sobre temas relevantes, desde críticas ao consumismo das redes sociais até a condenação da homofobia. Dessa forma, essas produções exploram, por meio do humor, os desafios enfrentados pela geração Z, como incertezas econômicas, questões sexuais e transformações nas estruturas familiares. Embora as comédias teen do passado também abordassem tais temas, é crucial considerar o contexto atual, onde o domínio do capitalismo tardio e os conflitos familiares ganham nova relevância.

Em “Tá Escrito”, dirigido por Matheus Souza, somos apresentados à história de Alice, que acredita ter sido vítima de um erro cósmico. Sua perspectiva muda drasticamente quando ela recebe um misterioso livro contendo instruções afirmando que qualquer previsão astrológica registrada nas páginas se tornará realidade. Munida desse poder de influenciar a vida dos outros por meio das previsões, Alice se torna um fenômeno online. No entanto, esse novo dom desencadeia uma série de eventos que viram de cabeça para baixo o mundo ao seu redor.

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“Tá Escrito” se revela como um filme imerso na genericidade característica da comédia teen, demonstrando uma compreensão apurada de sua própria estrutura, que, por vezes, pode ser considerada “medíocre”. A produção adota uma abordagem comum no cinema da geração Z, utilizando exageros e estilizações intensas das situações, numa clara busca pelos hiperestímulos que capturam a atenção. O longa está constantemente em busca desses estímulos, o que, em muitos momentos, torna-se cansativo, seja no humor referencial com memes e citações populares ou na incessante busca por apelos visuais. Parece que “Tá Escrito” ultrapassa suas próprias ideias formais, onde a mise-en-scène que antes parecia estabelecida numa sátira como “Passivonas”, se perde em sua própria narrativa. No entanto, há uma autoconsciência evidente em relação a essa abordagem, como se o filme estivesse ciente de seu próprio exagero, que, em alguns momentos, proporciona diversão e arranca boas risadas.

O foco central da narrativa reside fortemente na geração TikTok, explorando o potencial cômico contido nas peculiaridades que definem essa faixa etária, como as redes sociais, os influenciadores digitais e até mesmo os signos. O humor satiriza essas figuras contemporâneas, ridicularizando-as. No entanto, em diversos momentos, esse humor pode parecer fragmentado, sem um timing claro, inserindo-se na ideia de hiperestímulos constantes. Apesar disso, os exageros caricaturais funcionam eficazmente em vários pontos, adicionando uma camada gostosa à experiência.

A atuação, por vezes apelativa, destaca-se como um elemento divertido, principalmente na forma como Larissa brinca com as expressões faciais diante da tela. Os apelos exagerados dessas figuras são cativantes devido à própria estrutura formal do filme, afinal, estamos diante de uma comédia pastelão. Embora o filme proporcione momentos que arranquem verdadeiras risadas, especialmente risos de vergonha, “Tá Escrito” perde força ao longo da trama, como se a narrativa se desvanecesse em sua própria ambição, perdendo o controle de sua autoconsciência e mergulhando em mais um filme genérico de comédia teen.

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Caique Henry
Caique Henryhttp://estacaonerd.com
E aí, galera! Eu sou o Caique Henry, um amante da arte que adora dar uns pitacos sobre cinema. Loucamente apaixonado pelo cinema de gênero, posso ser considerado o crítico de cinema mais legal do país.
Todo filme é um reflexo do seu tempo, pois é concebido por indivíduos imersos na realidade, que pensam e experimentam o mundo ao seu redor. Nesse contexto, observamos o atual período da arte cinematográfica dedicado à exploração da geração que está se tornando adulta:...Crítica | Tá escrito